testeTenho um plano para isso – a campanha (revolucionária) de Elizabeth Warren

Por Dolores Roux*

Elizabeth Warren deixou a disputa pela candidatura democrata, mas não desistiu, fez questão de avisar. “Não concorrerei à presidência em 2020, mas garanto: continuo nessa luta”, disse a senadora democrata, na tarde do dia 5. Ela prometeu retornar daqui a quatro anos, para a eleição de 2024.

A senadora por Massachusetts era uma das pré-candidatas mais competitivas do campo democrata. Chegou a estar na frente na disputa pela nomeação do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump nas urnas, em novembro. Foi por isso que, ao anunciar a decisão, Warren tinha a voz triste.

A decisão ocorreu depois de ela não ter tido bom desempenho na Superterça, dia 3, quando pré-candidatos democratas passaram por primárias em 14 Estados americanos. Sua saída deixa o ex-vice-presidente Joe Biden e o senador Bernie Sanders como os únicos pré-candidatos com chances de obter a nomeação democrata para concorrer à Casa Branca. Warren deve apoiar um dos dois, mas disse que precisa de “um tempinho para pensar um pouco mais” antes de revelar sua escolha.

Pesquisas dos últimos meses mostravam Warren entre três principais nomes da corrida democrata. Em outubro ela chegou a ficar em primeiro lugar e tecnicamente empatada com Biden, com 26,6%. A última pesquisa antes de sua saída, feita pela Reuters com o instituto Ipsos, mostra Biden com 45%, Sanders com 32% e Warren com 11%.   

Bernie Sanders, Joe Biden e Elizabeth Warren

Neste ano, a disputa democrata está infinitamente mais acirrada do que a republicana. A briga pela nomeação do partido começou com dez candidatos e agora está praticamente com dois. A breve participação do bilionário Michael Bloomberg e a saída recente de Warren, do ex-prefeito Pete Buttigieg e da senadora Amy Klobuchar fazem a corrida democrata nada linear.

Warren, contudo, buscou traçar um caminho distinto do dos outros pré-candidatos de seu partido. Ela fez questão de trazer à tona questões incômodas para os EUA, como desigualdade econômica e favorecimento de bancos e grandes empresas. O jornal The New York Times a classificou como a senadora e ex-professora de direito “que quer mudar as regras da economia” americana.

Sua agenda estava recheada de propostas que, se implementadas, poderiam ser consideradas uma verdadeira revolução nos EUA. Ela prometia “grandes mudanças estruturais” com o objetivo de virar a balança mais para o lado dos trabalhadores e menos para grandes corporações e ricos. A longa lista de planos, como taxar grandes riquezas, perdoar dívidas estudantis, seguro-saúde para todos e novo imposto sobre lucros corporativos, rendeu à senadora de 70 anos o slogan “I have a plan for that” (“Tenho um plano para isso”), que estampou a camiseta oficial de sua campanha.

Muitos questionavam como Warren pretendia financiar todos os planos que tem para os EUA. Em seu site, ela propunha “um pequeno imposto sobre grandes fortunas” – de 2% para quem ganha entre US$ 50 milhões e US$ 1 bilhão anualmente e de 6% para quem ganha mais –, medida que poderia gerar US$ 4 trilhões por ano para os cofres públicos.

As propostas não são, no entanto, novidade para o público. Em seu livro Uma chance de lutar, lançado em 2016 pela Intrínseca no Brasil, Warren dá as primeiras pistas. Nele, ela conta como passou a integrar o grupo de trabalho responsável por supervisionar as atividades do Congresso americano, o Congressional Oversight Panel, quando ainda dava aula de direito na Universidade do Texas. Depois, tornou-se professora em Harvard e foi chamada pela Casa Branca para atuar como assistente do presidente Barack Obama na implantação da Agência de Proteção Financeira ao Consumidor, órgão com poder para garantir que regulamentações de proteção ao consumidor fossem elaboradas de maneira justa e fiscalizadas com rigor. Em 2012, ela foi eleita senadora por Massachusetts.

Desde então, a sua grande briga não tem sido apenas contra os bancos, mas contra o fato de eles terem carta branca para destruir a vida de milhões de cidadãos, levando o país e boa parte do mundo para o buraco.

Se na eleição de 2016 essas bandeiras inspiraram tanto Bernie Sanders quanto Hillary Clinton, que falava em maior controle sobre instituições financeiras, desta vez tiveram maior atenção do público e de formadores de opinião, que veem Warren como uma figura singular.

A imprensa americana destacou que, no último debate democrata, de 19 de fevereiro em Las Vegas, Warren começou um verdadeiro ataque contra Bloomberg logo nos primeiro minutos. “Os democratas correm um enorme risco se substituirmos um bilionário arrogante por outro”, disse Warren, ao comparar o ex-prefeito de Nova York ao presidente americano. Sua postura firme levou Paul Krugman, colunista do New York Times, a vê-la como “uma força a ser reconhecida” tanto na corrida presidencial quanto no cenário político dos EUA hoje.

Mike Bloomberg e Elizabeth Warren

Os pré-candidatos estão no meio do caminho para a nomeação democrata. A etapa atual é a primeira de duas partes que compõem a eleição americana.  No início, os pré-candidatos brigam pelo maior número de delegados possível para conseguir a nomeação do partido. Nas 20 primárias e caucuses democratas até 3 de março, foram disputados 903 delegados, de um total de 1.991 para a nomeação do partido. Na segunda etapa eles disputam os votos dos eleitores no dia da votação, que ocorre na terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro — neste ano, 4 de novembro.

Nesta primeira fase, o pré-candidato democrata tem de passar por 57 primárias (organizadas pelo governo local) e caucuses (financiados por entidades privadas), onde obtém votos dos delegados do partido naquele Estado, além de debates que equivalem a uma votação e podem levar o candidato à bancarrota.

A última etapa da primeira fase é a convenção nacional de cada partido, na qual delegados acabam formalizando seu voto. Se nenhum dos nomes tiver obtido votos suficientes nas primárias, é na convenção que os delegados definem os candidatos a presidente e a vice-presidente da legenda. No caso do Partido Democrata, a convenção ocorrerá entre 13 e 16 de julho, em Milwaukee, no Estado de Wisconsin.

Do lado republicano, como de praxe, o presidente em primeiro mandato não enfrenta rivais no partido; as primárias estão ocorrendo em apenas alguns estados, e Trump será formalizado candidato à reeleição na convenção do Partido Republicano, em 18 de junho, na Carolina do Norte.

Só então começa a segunda parte do processo eleitoral, quando eleitores vão às urnas e escolhem o próximo presidente e vice-presidente.

 

Como funciona o processo eleitoral nos Estados Unidos

Diferentemente do Brasil, nos EUA não ganha quem recebeu o maior número de votos populares. Quem vota são os eleitores, mas quem acaba definindo o vencedor é o Colégio Eleitoral, órgão composto por 538 delegados, distribuídos em todos os estados e a capital, Washington, D.C. O número de delegados varia de acordo com a população de cada estado. Estados mais populosos, como Califórnia e Flórida, possuem mais delegados — 55 e 29, respectivamente — e, por isso, costumam ser chave nas eleições americanas.

Vale lembrar que, na eleição de 2016, Trump derrotou Hillary mesmo tendo recebido cerca de 3 milhões de votos a menos do que a ex-secretária de Estado. Trump recebeu 46,1% dos votos populares, e Hillary, 48,2%. Mas o republicano conquistou apoio em estados-chave e acabou ficando com 304 votos dos delegados do Colégio Eleitoral, ante 227 de Hillary.

Somam-se a todas essas idiossincrasias do processo eleitoral dos EUA os diferentes tipos de voto que o país possui. Dado o grau de federalismo, cada estado define como é feita sua votação. Assim, o voto nos EUA é um verdadeiro pot-pourri — vai de cédulas de papel a voto eletrônico e até mesmo pelo correio.

No caso da cédula há duas submodalides. Ou o papel é marcado com caneta e entregue ao mesário para depois ser contado manualmente, ou a cédula é lida por um escâner, que registra o voto.

Há ainda o voto eletrônico — conhecido pela sigla DRE (direct recording electronic) —, do qual pode ser emitido um comprovante, e o voto pelo correio, disponível em mais de 20 estados.

O voto por aplicativo, testado em projetos pilotos na Virgínia Ocidental, Colorado e Oregon, vem sendo cada vez mais debatido. Enquanto se mostra uma mão na roda para mesários e eleitores, ele é visto com cautela por especialistas em segurança cibernética. As suspeitas de interferência de hackers russos nas últimas eleições americanas fizeram o nível de preocupação crescer ainda mais. 

 

 *Dolores Roux é jornalista e doutoranda em ciência política. Cobre política internacional há 14 anos e se dedica a estudar democracia e política social na América Latina há oito.

testeFilme inspirado no thriller O silêncio da cidade branca estreia na Netflix

Mais um thriller macabro e emocionante vem aí! O silêncio da cidade branca chega às livrarias no dia 12 de maio, mas você já pode ter um gostinho desta apavorante história: a adaptação da trama está disponível na Netflix.

O primeiro livro da trilogia A cidade branca se passa em Vitoria, no País Basco, duas décadas após estranhos assassinatos aterrorizarem a cidade. Quando Tasio Ortiz Zárate, homem condenado pelos crimes, está prestes a sair da prisão, os casos voltam a assombrar o local. Todas as vítimas têm idades múltiplas de cinco, sobrenomes compostos originais da região e seus corpos são expostos sem roupas nos espaços públicos, sendo executadas sem nenhum tipo de rastro.

O escolhido para ficar à frente do caso é Unai López de Ayala, investigador especialista em traçar perfis criminosos e obcecado pelo mistério dos homicídios de Vitoria desde jovem. Com meios não muito convencionais e que desagradam as autoridades, Unai está determinado a impedir que os assassinatos continuem acontecendo. Porém, o investigador precisará enfrentar situações extremas e ultrapassar os próprios limites para conseguir as respostas necessárias. 

Primeiro livro de uma trilogia com mais de 1 milhão de exemplares vendidos, O silêncio da cidade branca une mitologia, arqueologia, segredos de família e psicologia criminal em um thriller macabro e emocionante. Estão ansiosos?

testeConheça Terra americana, thriller de Jeanine Cummins

Livro será lançado em 16 de março

Lydia simpatiza com Javier assim que ele entra em sua livraria. Ali está um raro cliente com interesse real em literatura, um leitor que não faz escolhas óbvias. Nas visitas seguintes, um flerte descompromissado surge, embora os dois sejam casados. Encantador na livraria, nas ruas de Acapulco Javier é um líder implacável. Conhecido como La Lechuza (a Coruja), é o chefe do cartel que domina o tráfico de drogas na cidade.

Casada com um repórter especializado na investigação de cartéis, Lydia acaba descobrindo as atividades criminosas de Javier. E, quando o marido publica um perfil do novo chefão do crime, a vingança é devastadora: uma chacina, na casa da família, que vitima dezesseis pessoas, incluindo seu marido, Sebastián. A livreira e o filho Luca, de oito anos, escapam por um lance de sorte — e precisam fugir.

Desse argumento nasce Terra americana, o thriller de Jeanine Cummins que narra a fuga de Lydia e Luca em direção à fronteira dos Estados Unidos. Desde antes da publicação, o livro está sob os holofotes da imprensa e das redes sociais — primeiro, por ter sido um manuscrito disputado acirradamente por diversas editoras; depois, pelos elogios de autores e veículos importantes dos Estados Unidos e Europa, e, finalmente, pela polêmica em torno do fato de ter sido uma mulher branca, nascida nos Estados Unidos, a contar essa história.

Colocar em xeque a propriedade de um artista para criar a sua obra é um dilema que merece ser discutido. Por um lado, aflige imaginar que um escritor de ficção, com a intenção legítima de explorar algo que lhe tenha despertado paixão, não possa fazê-lo, sob o risco de ser acusado de se apropriar de um tema que não lhe pertence. Por outro, vale pensar: por que não são ouvidas outras vozes sobre pautas acerca das quais elas querem e merecem falar, temas dos quais são protagonistas. Os debates contemporâneos sobre lugar de fala e apropriação cultural nos ensinam a não só entender o espaço de fala de cada um, mas a não ocupá-lo, caso haja alguém com mais propriedade para estar ali. Mas e quanto à arte? Uma artista não poderia escrever um romance do ponto de vista do gênero masculino? Ou refletir sobre realidades diferentes da que vive?

Uma obra de ficção jamais dará conta de todas as dimensões de determinado assunto, sobretudo, de situações tão complexas quanto as que envolvem migrações na realidade sociopolítica em que vivemos. Mas a ficção pode, sim, lançar luz sobre ele, inseri-lo em um contexto, provocar reflexão, emoção e gerar debates. Como no caso de Terra americana, que faz pensar sobre solidariedade e empatia pela mãe desesperada em salvar um filho.

Nascida nos Estados Unidos, de ascendência porto-riquenha, Jeanine Cummins passou cinco anos pesquisando e escrevendo o livro. Viajou pelo México visitando orfanatos e casas que dão abrigo a migrantes no longo caminho até os Estados Unidos. Também fez trabalho voluntário em restaurantes que servem os viajantes, e conversou com quem tentava a difícil entrada clandestina no país do norte. Durante o período, perdeu o pai — o maior incentivador de sua carreira de escritora. O luto foi um processo custoso, mas ela afinal conseguiu emergir da depressão determinada a concluir a obra. Dessa dor tão particular, nasceu um livro sobre o sofrimento e a esperança de uma mãe latina que, para salvar a si mesma e ao único filho, é forçada ao risco de atravessar a fronteira até um país que ergue muros para afastá-la.

Leia um trecho:

 

testeCraque Daniel polemiza: Você não merece ser feliz

Esqueça o poder do pensamento positivo, desista de descobrir o segredo da felicidade e cancele sua reprogramação quântica de mindset.

Durante todos os seus anos de incansável trabalho nos gramados e nos bastidores do futebol, o ex-marido, ex-atleta, apresentador, empresário esportivo e, principalmente, inocentado de todas as acusações feitas contra ele, Craque Daniel acumulou vasta sabedoria – uma fonte de conhecimento tão ilimitado que extrapola os limites do esporte.

Consciente de que poderia ajudar milhares de brasileiros com sua visão de mundo única, o apresentador do Falha de Cobertura decidiu proporcionar a seus fãs em seu primeiro livro um caminho rápido até a felicidade por meio de seus dois maiores pilares: o comodismo e o individualismo. Isso sem abrir mão de outros valores essenciais, como a indiferença, o pessimismo e o rancor.

Escrito por Daniel Furlan e Pedro Leite, Você não merece ser feliz é um falso manual de autoajuda de um dos personagens mais queridos da TV Quase, produtora responsável por outros sucessos, como Choque de Cultura e Irmão do Jorel, com grandes pérolas da filosofia contemporânea em uma crônica divertida e absurdamente irônica sobre a nossa mania de perseguir a todo custo a felicidade.

Você não merece ser feliz, mas pode conseguir mesmo assim.

(E se você não for feliz agora, alguém vai acabar sendo feliz com a sua felicidade por aí, então é melhor prestar atenção.)

testeVocê leria o livro da sua vida?

Uma fábula sobre o poder das histórias e a força das nossas escolhas. Conheça o mais novo título nacional da Intrínseca, O livro de Líbero, romance de estreia de Alfredo Nugent Setubal.

O jovem Líbero Perim ainda não sabe, mas escolher entre ler ou não o livro da sua vida pode mudar tudo para sempre.

Curioso e apaixonado por histórias, o menino de onze anos mal consegue conter a animação quando o Circo Bosendorf chega à minúscula cidade de Pausado, possivelmente a menor do mundo.

Autointitulado redator-repórter-editor-chefe-júnior do jornal Gazeta de Pausado, Líbero é designado para descobrir quais serão as atrações no picadeiro, mas acaba encontrando algo muito mais fantástico e inexplicável: um livro misterioso, oferecido pelo guardião da tenda amarela. O livro da sua vida.

Em suas páginas estão todo o seu passado e futuro. E aceitar levá-lo ou rejeitar a chance de ter em mãos o roteiro da própria vida são as alternativas que podem mudar para sempre o destino não apenas de Líbero, mas de todos aqueles que ama.

Em seu livro de estreia, Alfredo Nugent Setubal leva o leitor para um passeio pelos caminhos da memória, investiga a natureza do tão familiar sentimento de “e se tivéssemos feito tudo diferente?” e nos mostra que o futuro talvez não passe de inúmeras versões do caleidoscópio do presente.

Prepare-se para se apaixonar por Pausado e seus habitantes em O livro de Líbero, um emocionante romance de formação recheado com os detalhes coloridos e pitorescos de uma cidade do interior.

Leia um trecho:

Se nada mudou, ele chegará daqui a dez ou onze horas. É o que dizia o meu livro na última vez que chequei. Talvez venha um pouco mais cedo, talvez desista e nunca apareça. Não sei. Estico o braço na direção do criado-mudo, abro na página marcada pelo fitilho e reconfirmo: por enquanto, tudo igual. Ele continua a caminho, apenas uma madrugada de distância entre nós.

Ele entrará pela fresta de pano sem titubear, sem esperar, sem ser anunciado, exatamente como três décadas atrás, pela repetição dos seus gestos tentando reencenar o passado. Reabitá-lo. Uma segunda chance. Mas não existem segundas chances: milhares de dias e quilômetros nos separaram daquela noite em Pausado. De igual, apenas esta tenda amarela, onde ele vai se esgueirar com a desfaçatez de um cachorro faminto.

— Você gostaria, Líbero, de ler o livro da sua vida? — perguntei a ele naquela noite, a mesma pergunta que repeti para tantas outras pessoas, antes e depois disso.

Nunca mais o vi depois daquela noite. Faz trinta e três anos.

Há algumas horas, sentei nessa poltrona e abri o meu livro. Como todo fim de tarde. Faz muitos anos que decidi só usá-lo assim, a conta-gotas, descortinando o meu futuro de amanhã em amanhã, com a naturalidade de quem folheia a agenda para checar os compromissos do dia seguinte. O futuro distante me assusta, mas não os amanhãs, quase palpáveis. O pote de ouro no fim do arco-íris nunca me interessou, me intriga muito mais o que habita atrás do pôr do sol, na curva do horizonte.

Hoje, porém, não houve pôr do sol.

Não chovia, mas uma luz pálida e insossa iluminava o acampamento. Me recolhi mais cedo do que de costume. Acendi o lampião a gás, sentei na poltrona e abri o meu livro na página marcada. Ali estava a garantia de que haveria um amanhã. O meu amanhã. Comecei a ler. E foi assim, em uma página qualquer, de um parágrafo qualquer, que o amanhã trouxe duas palavras que não deveriam estar ali.

Líbero Perim.

Raramente penso nele, mas nunca deixei de me perguntar o que aconteceu com aquele garoto magricela e curioso depois que correu para fora da minha tenda e da minha vida. Nunca consegui me desfazer do seu livro, vermelho, de capa dura, idêntico ao meu e aos tantos outros que eu e Lourival distribuímos. Guardei como um suvenir, para caso esse dia chegasse. E chegou.

Se nada mudar, Líbero vai aparecer daqui a dez ou onze horas.

Vai me reconhecer de imediato e não vai sentar, não vai ajoelhar. Implorará de pé, sem dizer uma única palavra. Talvez fosse melhor esconder seu livro e mentir: dizer que o que ele procura já não existe. Mas não, se ele veio até aqui que abra aquelas páginas e descubra de uma vez por todas a verdade: o que ele procura já não existe. Tanto faz.

Às vezes, mentiras e verdades são a mesmíssima coisa.