Bastidores

Amber Appleton e o poder da música

9 / abril / 2015

Por Rachel Rimas*

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Eu amo música. Até hoje me lembro de quando descobri as primeiras bandas e os primeiros artistas de que hoje sou fã. Na época, a internet lá em casa era discada (uma longa história…) e baixar música era uma atividade que requeria tempo e muita paciência. A cada faixa baixada, um misto de medo (nem sempre a qualidade era boa), vitória (está boa!) e deleite (quero ouvir essa música para sempre e nunca mais paraaaaar!). Eu realmente ficava emocionada com algumas músicas, com o coração apertado, com vontade de abraçá-las e nunca mais largar. Se apaixonar por algo, seja por uma música, por um livro, por um filme ou por uma pessoa, causa essa sensação na gente.

E por que eu estou falando tudo isso? Porque em Quase uma rockstar, a relação da Amber com a música é muito parecida. As canções estão presentes em momentos cruciais da vida dela, servindo não só como trilha sonora para suas experiências — boas e ruins —, mas também definindo a forma como ela enxerga o mundo e as pessoas a sua volta. Matthew Quick, o autor do livro, escreveu uma história extremamente musical. Amber ama o Jack White, a Pink! e usa os principais sucessos de grandes divas do soul para ensinar inglês às coreanas de sua igreja. Por influência da mãe de um de seus melhores amigos, ela conhece a Dinosaur Jr., uma banda alternativa dos anos 1980 e 1990 que até hoje está na ativa. É muito interessante ver como as músicas de J Mascis e companhia descrevem com clareza e sensibilidade as alegrias e as agruras da menina.

link-externoLeia um trecho de Quase uma rockstar

Formada em 1984, em Massachusetts, por J Mascis, Low Barlow e Murph, a Dinosaur Jr. lançou seu primeiro álbum, Dinosaur, em 1985. Na verdade, até o terceiro disco, a banda se chamava apenas Dinosaur, mas, por questões legais, tiveram que incluir o “Jr.” no nome. Com uma mistura de hardcore, punk, folk e riffs com influências do metal (principalmente da Black Sabbath), a Dinosaur Jr. ficou conhecida pelas guitarras distorcidas e pelo vocal arrastado de Mascis. Com o quarto álbum, Bug, a banda alcançou as paradas de sucesso, e “Freak Scene” foi a maior representante dessa época.

Amber, apesar do otimismo incansável e contagiante, se sente uma estranha. Ela não é popular, ela mora em um ônibus com a mãe, não beijou ninguém ainda, não sabe nada sobre o pai, mal tem o que comer. Ela é uma freak, e se sente acolhida por aquelas músicas feitas por pessoas estranhas para pessoas estranhas como ela.

Em certo momento da história, isolada em seu quarto, os dias de Amber se resumem a ficar na cama olhando para o teto ouvindo “Puke + Cry” (vomite e chore, em português), palavras que resumem terrivelmente bem o que ela está sentindo.  Ela chega a ouvir J Mascis cantando do andar de baixo para ela, “come on down, come on down, come on down”. Desça, Amber, saia do quarto. Mas ela não sai.

Amber Appletton consegue ser uma personagem extremamente encantadora sem resvalar na pieguice ou nos clichês. Ela é esperançosa e radiante, mas, como todos nós, tem seus momentos de tristeza e descrença, de achar que tudo está perdido. Eu sou muito suspeita para falar sobre Quase uma rockstar, porque me apaixonei pela Amber. Sorri, sofri e torci a cada conquista, a cada piada, a cada lágrima. A lição mais importante que aprendi com ela foi que, mesmo com todos os nossos humores, estranhezas e esquisitices, nos melhores ou nos piores momentos, não estamos sozinhos.


Leia outros textos da equipe da Intrínseca:
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Keep YA Weird (ou a arte de fazer livros incríveis), por Talitha Perissé
Sobre livros e anjos, por Sheila Louzada

 

Rachel Rimas, 26 anos, é editora assistente no setor de ficção infantojuvenil da Editora Intrínseca. Ela se apaixona por personagens (e por músicas) um pouco mais do que o recomendado para pessoas normais.

Comentários

11 Respostas para “Amber Appleton e o poder da música

  1. Nós também achamos que música e literatura tem tudo a ver. Tanto que montamos uma “banda literária”. Escrevemos contos inspirados em músicas. E agora ficamos com vontade de escrever alguma historia inspirada no Dinosaur Jr. 🙂

  2. Nossa! eu simplesmente amei QUR. A Amber é tão estrela. Encanta em todos os momentos.

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