testePatricia Highsmith: Como a mestre dos thrillers moldou a literatura LGBTQI+

*Por João Lourenço

Fonte: Getty Images

Há cem anos nascia a americana Patricia Highsmith, no estado do Texas. A autora ficou conhecida por grandes suspenses psicológicos, como O talentoso Ripley, relançado agora pela Intrínseca em novo projeto gráfico e com acabamento especial. Mas, antes de fazer sucesso como Highsmith, a autora assinava como Claire Morgan, pseudônimo com o qual publicou o romance LGBTQI+ The Price of Salt em 1952 — posteriormente relançado como Carol e adaptado para os cinemas em 2015.  

O livro foi escrito quando Highsmith trabalhava em uma loja de sapatos. Recém-formada na prestigiosa Barnard College, em Nova York, o trabalho como vendedora era uma alternativa para a autora conseguir pagar as sessões de psicanálise. Na época, ela enfrentava problemas amorosos e não tinha certeza se casaria com o então noivo. De acordo com as biografias da autora, o período em que escreveu The Price of Salt coincide com o momento em que ela tentava compreender a própria sexualidade.

Nos Estados Unidos dos anos 1950, a homossexualidade ainda era vista como doença, um desvio moral e de caráter. O país passava pelo macarthismo, época marcada por censura e violação dos direitos civis. Embora as obras de Alfred Kinsey, lançadas no final da década de 1940, tenham derrubado vários mitos e preconceitos sobre identidade sexual, as discussões sobre o papel de gays e lésbicas na sociedade ainda se restringiam ao contexto intelectual e acadêmico. O livro de Highsmith surgiu como uma espécie de divisor de águas para a cultura LGBTQI+.

O romance ajudou a mudar os rumos das discussões sobre a homossexualidade. The Price of Salt foi o primeiro romance gay que tratou a sexualidade das protagonistas com naturalidade. Ao contrário de outras obras com temática queer, que retratavam o homossexual como personagem secundário, alguém em conflito eterno e com tendências suicidas (como em A Cidade e o Pilar, de Gore Vidal), Highsmith oferece um equilíbrio, uma noção de possibilidade para milhares de leitores que temiam as possíveis situações de rejeição e isolamento acarretadas pela vida LGBTQI+. Ao proporcionar um final feliz para as protagonistas, o livro de Highsmith funciona como uma carta de liberdade, uma espécie de autorização para os leitores se assumirem e explorarem sua sexualidade. 

Em seguida, Highsmith escreveu os romances de Ripley e nunca mais encontrou dificuldade para ser publicada. Cinco romances acompanham a trajetória do ambicioso Tom Ripley. Por ter sido adaptado algumas vezes ao cinema, O talentoso Ripley, primeiro volume da série, ainda é o mais conhecido da autora. Ainda hoje o título é motivo de discussões calorosas sobre a moralidade e sexualidade do personagem.

Na obra, temos um grande observador do comportamento humano. Ripley utiliza essa habilidade para transitar entre pessoas poderosas. Mestre do disfarce, ele vive uma vida de performance, na qual interpreta o personagem certo para cada situação. Pense em uma pessoa que sempre sabe o que dizer na hora certa e, assim, consegue driblar qualquer dificuldade.

Ripley sonha em ter uma vida fácil. Após realizar vários truques em Nova York, embarca para uma temporada na Europa. Na costa italiana, faz amizade com um jovem casal de americanos, Dickie e Marge. Ao se deparar com o mundo glamoroso do casal, Ripley encontra uma oportunidade para assumir a identidade e a vida que tanto almeja. Aos poucos, Ripley desenvolve uma obsessão por Dickie e passa a imitá-lo na personalidade e nas roupas. O comportamento gera desconforto entre Dickie e Marge, que começam a se afastar de Ripley. Encurralado, ele reage de forma imprevisível.

Highsmith narra com riqueza de detalhes os maneirismos e as contradições da alta sociedade. Todos os personagens do romance são mantidos em uma nuvem de mistério. Ripley, por exemplo, é um personagem ambíguo e aparenta certa atração por Dickie, mas a autora nunca definiu a sexualidade do seu personagem mais famoso. Levantar bandeiras não a interessava. Assim, cabe ao leitor encontrar suas pequenas insinuações. Enquanto a sexualidade dos personagens era mantida nas entrelinhas, a narrativa de Highsmith nunca utilizou tom moralista para julgar aqueles que fugiam da ordem vigente.

Independentemente da sexualidade ou motivação, os personagens de Highsmith recebem a mesma atenção, e isso se reflete na enorme empatia que o leitor criou com esses personagens. Ripley vai além de um vilão assassino e calculista. Quando torcemos pelo personagem, torcemos por sua coragem e determinação. Ele reflete os desejos primitivos de autotransformação do homem.

Ao todo, Patricia Highsmith escreveu 22 livros e vários contos que estão distribuídos em uma carreira de cinquenta anos. Apesar de ter utilizado elementos da cultura queer em vários títulos, The Price of Salt foi o único romance abertamente LGBTQI+ da autora, que era tão controversa quanto seus personagens. É interessante perceber que uma das maiores escritoras do século XX se correspondia com os leitores e os aconselhava em seus conflitos de identidade sexual. Mas, na vida pública, devido à homofobia, ela evitava falar sobre a própria sexualidade. Hoje, temos autores e histórias queer em diferentes  formatos e plataformas. A importância da representação das diversas configurações do amor continua a salvar vidas, especialmente em países como o Brasil. Amar é uma loteria, mas é possível jogar, apostar as fichas e não temer o resultado. Uma parcela dessa liberdade leva o nome de Patricia Highsmith.

 

*João Lourenço é jornalista. Passou pela redação da FFWMAG, colaborou com a Harper’s Bazaar e com a ABD Conceitual, entre outras publicações estrangeiras de moda e design. 

testeSorteio Instagram – Livre [Encerrado]

Christian Grey está de volta! Hoje é o lançamento oficial de Livre e aniversário do personagem mais sedutor dos últimos tempos! Para celebrar, vamos sortear 3 exemplares do último livro da trilogia Pelos olhos de Christian.

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testeRetorno às raízes

A artista têxtil Mitti Mendonça é a convidada desta semana do Quintas pretas, projeto da Intrínseca que abre espaço semanalmente para uma mulher negra pautar conversas sobre temas fundamentais para a nossa construção como sociedade.

 

Os bordados, colagens e ilustrações de Mitti Mendonça (@mao.negra no Instagram) são não só uma construção visual, mas trazem também muitas camadas de histórias em cada linha, composição e cor. Inspirados pela sua arte, convidamos Mitti para criar uma obra exclusiva para o Quintas pretas sobre a herança familiar, um tema muito vivo no romance A metade perdida, de Brit Bennett:

 

Retorno às raízes

Por Mitti Mendonça

 

 

Carrego dentro

Mil camadas

De muitas tramas que trouxeram

Meus pés até aqui

 

Mãos em linhas

Para costurar as lacunas

 

Descubro pérolas e joias

Escondidas em meus próprios cabelos

E o afeto faz ir longe

Correr contra o tempo

 

Mitti Mendonça é a artista têxtil e ilustradora. Em 2017, criou seu selo “Mão Negra”, onde elabora trabalhos visuais por meio das técnicas de crochê, bordado, tapeçaria e arte digital. Suas principais abordagens são as questões de ancestralidade, memória e afeto. É natural de São Leopoldo-RS, onde reside e tem seu ateliê.

testeSorteio Instagram – 900 mil

Essa semana, o instagram da Intrínseca atingiu a marca de 900 mil seguidores <3. Para celebrar, vamos sortear 9 leitores sortudos que poderão escolher um (1) livro do catálogo da Intrínseca para receber em casa.     

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– Caso algum exemplar escolhido não esteja disponível no nosso estoque para envio, o vencedor poderá escolher outro livro para substituí-lo.

testeUma reflexão sobre as dores e alegrias da paternidade

Adriana Calcanhotto apresenta Crônicas de pai, obra que reúne textos afetivos de Leo Aversa

O que se espera de um pai nos anos 20 do século XXI? Como era ser filho nas décadas de 1970 e 1980? Crônicas de pai talvez não dê as respostas exatas a essas perguntas, mas os leitores vão, junto com Leo Aversa, abrir os armários e as gavetas da memória para refletir sobre elas. 

Leo é fotógrafo profissional desde 1988 e cronista do jornal O Globo. Em seu primeiro livro, entre crônicas já publicadas e inéditas, ele reúne as histórias que vão do nascimento à pré-adolescência de seu filho Martín e as da relação transformadora de ter sido cuidado e agora cuidar e acompanhar o pai. O resultado é um retrato de três gerações de homens unidos por laços de amor e cuidado. 

Em edição de luxo, com capa dura, pintura trilateral e projeto gráfico de Aline Ribeiro, Crônicas de pai ainda conta com as belas e sensíveis ilustrações da artista carioca Poeticamente Flor e apresentação de Adriana Calcanhotto, que é possível conferir com exclusividade a seguir:

Fui conhecendo Leo Aversa aos poucos. Primeiro como o crédito em fotos incríveis no jornal, mais tarde  pelas  suas  crônicas  no  mesmo  O  Globo entremeadas por nossos encontros para sessões de fotos, no começo para matérias no Segundo Caderno.  Daí  comecei  a  ser  fotografada  por  ele  para  algumas  revistas  e,  a  meu  convite,  para  ensaios  de  divulgação. Assim nos tornamos amigos, embora muita gente ache, e com razão, que nunca mais falei com ele desde  que  afogamos  um  violão  caríssimo  no  mar  de São Conrado por uma bela foto. Ao contrário, naquela  tarde  de  mar  agitado  quando  tomei  um  caldo  feio com o violão cheio d’água e por isso pesando tonelada e meia, nossa relação ficou mais cúmplice.

O  humor  do  Leo  fotógrafo  transforma  uma  sessão de fotos com uma cantora tímida que não sabe pra onde olhar numa tarde de gargalhadas de doer a barriga. Fora isso, tirou fotos antológicas dos meus ídolos, o que o coloca num lugar muito especial no meu coração.  Mas  ele,  a  respeito  dessas  fotos  de  gente  grande, diz  que  apenas  assumiu  o  posto  de  flanelinha  da  música  popular  brasileira,  porque,  diante  de  Paulinho  da Viola, Marisa Monte ou Chico Buarque, o que ele tem para dizer é: “Um pouquinho mais pra direita, parou, parou, aí!! Agora pra esquerda, levanta o queixo, foi demais, desfaz, desfaz, aí, aí! Click. Lindo!”

Só  que  lindo  mesmo  é  ver  como  ele  se  transforma,  concentrado,  o  olho  brilhando, acompanhando a luz com um jeito de quem a domina, mas sabe que ela não  será  a  mesma  nem  por  dois  minutos  inteiros.  Algumas vezes me fotografou com buracos gigantes no peito  que  só  eu  via  e  sentia,  inchada  de  chorar,  com dor de cabeça, com dor de cotovelo, enlutada, perplexa com  o  Brasil,  e  o  que  ele  captou  foi  sempre  a  face  de uma pessoa olhando pra câmera e só. Nunca mostrou os  buracos  e  as  tristezas  que,  imagino  —  com  nossos anos  de  amizade  —,  ele  também  viu  na  minha  cara, mas,  generoso  e  amigo,  deixou  de  fora  das  imagens, pelo que sou gratíssima.

Agora  leitora  assídua  das  suas  crônicas  afiadas  no  jornal, descobri mais um talento poderoso do escritor, dos mais raros, que é a capacidade de emocionar. Lendo as crônicas em que ele é um ex-herói para o filho com o Mal da pré-adolescência e quase um ex-filho para o pai com Alzheimer, chorei diversas vezes. A reunião dessas crônicas  torna  o  conjunto  muito  mais  denso  e  muito mais revelador do grande cronista que ele é, porque no jornal  lemos  as  crônicas  junto  a  assuntos  bem  menos  interessantes,  como  o  fascínio  do  Brasil,  em  pleno  século XXI, por combustíveis fósseis, a página que já foi de política e agora é a nova página policial, as crianças negras do Brasil sendo dizimadas por “balas perdidas” em manchetes diárias. De modo que dá um nó na garganta quando no jornal Leo se pergunta quanto tempo vai  levar  pra  que  o  pai  se  esqueça  definitivamente  de quem é ou de quem foi. Aqui, nesta reunião de textos, em  que  ele  é  pai  de  jogador  de  futebol,  filho,  amigo, marido,  cidadão  observador  da  cidade  e  inimigo  das convenções  pequeno-burguesas,  dá  pra  vislumbrar  a estirpe de homem que ele é e isso comove.

A  crônica  é  um  gênero  brasileiro  cujos  maiores representantes  alargaram  a  forma,  como  Machado de  Assis,  Clarice  Lispector  e  Rubem  Braga.  Pra  mim, Leo está nessa lista, porque a crônica, como a crítica, é escrita para embrulhar o peixe de amanhã, precisa ser efêmera. No caso do Leo, como no de Santo Antônio, os  peixes  e  os  textos  convivem  na  memória.  O  jornal vai e a crônica fica.

Não é possível passar batido por um pai sarcástico que  se  assusta  com  o  sarcasmo  do  filho,  a  gente  fica  querendo  botar  o  cronista  no  colo  e  dizer  “pronto, pronto,  passou,  passou”.  Cronista  que,  aliás,  nasceu como cronista ao ouvir na infância o pai lendo para ele o  jornal  da  época  com  textos  de  Carlos  Drummond de  Andrade,  João  Saldanha  e  Carlos  Eduardo  Novaes. Penso então que a crônica seja pra ele um exercício de afeto.

E assim, talvez, neste momento, alguém esteja lendo  este  livro  para  um  filho  ou  uma  filha,  e  a  crônica brasileira estará seguindo seu caminho de texto brasileiro, único, jornalístico, fotográfico. Click. Lindo!

O lançamento da obra está previsto para o dia 30/07 e já possível garantir na pré-venda.

testeOs sinais da catástrofe que um governo negacionista se recusou a ver

Quando a pandemia de Covid-19 se espalhou pelo mundo, grande parte da população achou que ninguém poderia ter previsto um acontecimento catastrófico dessa magnitude. Mas cientistas e agentes de saúde por todo o mundo já vislumbravam uma crise sanitária iminente havia mais de uma década e se preparavam para isso.

Nos Estados Unidos, tudo começou em 2005, quando o então presidente George W. Bush voltou de suas férias interessado em pandemias. Após lidar com a crise do 11 de setembro e ter anunciado o que ficaria conhecido como a Guerra do Iraque, o republicano estava preocupado com o que enfrentaria em seu segundo mandato. Ele havia lido A grande gripe, de John M. Barry, e decidiu reunir um grupo de especialistas para traçar um plano de combate a possíveis pandemias futuras. Mas, devido às mudanças na administração da Casa Branca nos dez anos seguintes, esse plano foi rapidamente esquecido e arquivado.

Em A premonição, Michael Lewis analisa as constantes batalhas de especialistas e agentes de saúde pública que se recusaram a seguir diretivas baseadas em desinformação e negacionismo. Um thriller de não ficção que explora a abordagem desastrosa do ex-presidente Donald Trump durante a pandemia apenas como uma parte do todo.

Leia um trecho:

 

Laura Glass tinha treze anos e começava a oitava série da Jefferson Middle School em Albuquerque, Novo México, quando deu uma olhada por cima do ombro do pai para ver no que ele estava trabalhando. Bob Glass era cientista do Sandia National Laboratories, criado em meados dos anos 1940 para descobrir tudo o que precisava ser descoberto sobre armas nucleares, menos a criação do plutônio e do urânio que elas carregavam. Foram os engenheiros do Sandia que calcularam como lançar uma bomba de hidrogênio de um avião sem matar o piloto, por exemplo. Em meados dos anos 1980, quando Bob Glass chegou, o Sandia tinha fama de ser o lugar para onde encaminhavam problemas ultrassecretos depois que todo o submundo da segurança nacional fracassara em encontrar uma solução. Atraía pessoas que corriam atrás das próprias ideias, passando por cima de quase todo o resto.

Gente como Bob Glass. Quando dava uma olhada no que o pai fazia, Laura Glass nem sempre entendia aquilo que tinha diante de si, mas nunca parecia ser algo chato.

O que ela viu naquele dia de 2003 foi uma tela repleta de pontos verdes que se movimentavam de modo aparentemente aleatório. Então notou que alguns dos pontos não eram verdes, mas vermelhos, e quando um ponto vermelho esbarrava num verde, o verde

ficava vermelho também. Era o que se chamava de um “modelo baseado no agente”, como explicou seu pai. Imagine que cada um desses pontos é uma pessoa. Existe um monte de pessoas no planeta. Uma delas é você. Existem tipos diferentes de pessoas, com cronogramas diferentes, e existem regras sobre o modo como essas pessoas interagem. Organizei uma espécie de horário para cada uma e depois soltei todas juntas para ver o que acontece…

Uma das coisas que Bob Glass gostava naquele tipo de estudo era a facilidade de explicá-lo. Os modelos eram abstrações, mas o tema abstraído era familiar: uma entidade única, que poderia ser descrita como uma pessoa, uma informação ou uma série de outras

coisas. À medida que os pontinhos verdes ficavam vermelhos era possível acompanhar uma fofoca se espalhando, um engarrafamento, o início de uma arruaça ou a extinção de uma espécie. “Quando começamos a apresentar a questão desse jeito, todo mundo consegue entender de imediato”, disse ele.

Seu modelo era um retrato grosseiro do mundo real, mas permitia enxergar coisas do mundo real que poderiam ser obscurecidas em um retrato mais detalhado. Também permitia que ele respondesse a perguntas complicadas que agora faziam parte da sua rotina, a maioria relacionada à prevenção de algum desastre nacional. O Federal Reserve Bank of New York [Banco da Reserva Federal de Nova York] tinha acabado de usá-lo para compreender como um fracasso que se dava em um extremo do sistema financeiro norte-americano poderia reverberar no outro. O Departamento de Energia queria que ele determinasse se uma pequena falha na rede elétrica poderia desencadear uma onda de apagões por todo o país. Assim que parava de falar de pessoas e começava a falar, por exemplo, de fluxos de dinheiro, correlacionar os pontinhos na tela e o mundo real ficava mais difícil para quase todo mundo entender, mas não para ele. “Eis o ponto crucial da ciência”, diria Bob com entusiasmo. “Toda ciência é baseada em constrição de modelos. Em todas as áreas da ciência, fazemos abstrações da natureza. A pergunta é: trata-se de uma abstração útil?” Para Bob Glass, útil significava: trata-se de uma abstração capaz de ajudar a resolver um problema?

Naquele momento, Laura Glass tinha o próprio problema: a feira de ciências daquele ano. Não dava para fugir. A ciência sempre exercera um papel importante em seu relacionamento com o pai. Era uma regra tácita da família Glass que ela e as duas irmãs competiriam na feira todos os anos. E, na verdade, Laura adorava. “O tipo de ciência que eu podia fazer com meu pai era muito diferente do tipo de ciência que eu fazia na escola”, confessou ela. “Com a ciência da escola eu sempre tive dificuldade.” Com o pai, a ciência era aquela ferramenta para encontrar novas perguntas interessantes para fazer e para responder. Que perguntas eram essas não importava: o pai não tinha o menor respeito pelas fronteiras entre os assuntos e pensava em todas as ciências como uma coisa só. Os dois criaram um projeto sobre a probabilidade com o jogo de cara ou coroa e outro sobre as diferenças na fotossíntese de espécies de plantas. A cada ano o processo ficava mais competitivo. “Quando o ensino médio começa a se aproximar a gente vê que a competição fica mais acirrada”, relembrou Laura.

Enquanto observava a tela do computador do pai, Laura pensou: É quase como se os pontos vermelhos estivessem infectando os verdes. Na aula de história, ela fizera leituras sobre a peste bubônica. “Eu, que não fazia ideia daquilo, fiquei fascinada. Um terço da Europa foi dizimado.” Ela perguntou ao pai: Seria possível usar esse modelo para estudar a propagação de uma doença? Robert não tinha considerado essa possibilidade. “Pensei, Deus do céu, como vou ajudá-la a fazer isso?”, disse ele. Mas essa colaboração era uma coisa inquestionável para pai e para filha. Enquanto a maioria dos pais era do tipo “pais da liga infantil de esportes”, Bob Glass era um “pai dos estudos científicos”. Talvez ele não se realizasse por meio dos projetos de ciência da filha da mesma forma que os outros pais se realizavam com os jogos de beisebol dos filhos. Mesmo assim…

Em pouco tempo pai e filha estavam imersos em um novo projeto para a feira de ciências. Naquele primeiro ano o modelo era grosseiro. A doença era a peste bubônica, o que, em Albuquerque, Novo México, em 2004, parecia um tanto bobo. A aldeia de Laura tinha dez mil habitantes, uma fração da população de seu distrito escolar. No que chamou de “Mundo Infectado”, as pessoas se contaminavam com a praga simplesmente ao passar perto das outras, o que não era realista. Como seria ela quem se colocaria diante de seus painéis de isopor com gráficos e tabelas para responder às perguntas dos juízes, também era ela quem tinha uma consciência mais profunda sobre as limitações de seu projeto. “Os juízes sempre perguntavam: Essa situação é realista? Como você pode aplicá-la e utilizá-la?”, relembra. Mesmo assim, Laura foi a única aluna na feira a apresentar um projeto de epidemiologia. Seu projeto a qualificou para o campeonato estadual. Ela procurou o pai e disse: Vamos fazer uma coisa real.

Para tanto, ela precisava de um patógeno mais plausível. “Falei para o meu pai: ‘Não vai ser a peste bubônica. Vai ser alguma coisa do mundo moderno, alguma coisa tipo a gripe.’” Fosse qual fosse o patógeno, Laura precisaria aprender mais sobre ele e sobre a sociedade na qual ele interagiria. “Ela veio até mim e disse: ‘Pai, não é muito bom que as pessoas fiquem doentes só de passarem umas pelas outras… Ah, e mais uma coisa, as pessoas não andam por aí desse jeito. Elas têm redes sociais. Preciso ter redes sociais por aqui’”, conta Bob. Durante o ano de 2004, Bob observou a filha, agora com catorze anos, preparar um levantamento e realizá-lo com centenas de pessoas em seu distrito escolar: funcionários de empresas, professores, pais, avós, alunos do ensino médio, do ensino fundamental, da pré-escola. “A princípio, eu devia procurar meus colegas e fazer perguntas”, disse Laura. “Com que frequência se abraçavam e se beijavam? Faziam isso com quantas pessoas? Sentavam-se ao lado de quantas pessoas diferentes todos os dias? Quantos minutos passavam sentados ao lado delas? Depois, deixei os colegas e me concentrei nos pais.” Laura mapeou suas redes sociais e seus movimentos, depois as interações entre diferentes redes sociais. Contou o número de pessoas com quem cada indivíduo interagia com proximidade suficiente para ser infectado com um patógeno transmitido por via aérea.

Ela ficou apaixonada pelo projeto de ciências e o pai adorou. Quanto mais Laura se aprofundava, mais ele se aprofundava também. “Eu a tratava como se fosse uma aluna da pós-graduação. Eu dizia: ‘Me mostre o que você fez e faço minhas perguntas.’” Para ajudar a filha, o modelo computacional de Glass precisava ser aprimorado de formas que estavam fora do alcance até mesmo do conhecimento dele. O programador mais talentoso que Bob Glass conhecia era um sujeito no Sandia National Labs, Walt Beyeler. “Sandia é mesmo um lugar bem esquisito. Los Alamos está cheio de gente com pedigree. Já Sandia contrata os cientistas mais brilhantes que consegue encontrar, mas não dá muita importância para o pedigree”, explica Glass. O próprio Glass correspondia à ideia que a maioria das pessoas faz de uma mente brilhante, mas era Walt quem correspondia à ideia de Bob. Pedir a ele que ajudasse com o projeto da filha para a feira de ciências era um pouco como chamar LeBron James para jogar uma pelada de basquete. Walt topou.

O modelo precisava incluir interações sociais realistas. Precisava levar em conta períodos de incubação, que é quando as pessoas estão infectadas, mas ainda não infectam. Precisava de pessoas assintomáticas, porém capazes de propagar a doença. Precisava que indivíduos imunizados ou mortos fossem removidos da rede. Precisava fazer pressupostos sobre o comportamento social dos doentes e sobre a possibilidade de uma pessoa infectar outra quando entrassem em contato. Pai e filha concordaram que, dada a natureza de suas próprias interações, as crianças tinham o dobro de possibilidade de se infectarem em qualquer interação social em relação aos adultos. Em prol da simplicidade, concordaram em deixar algumas coisas de fora. “Não tínhamos universitários no modelo”, disse Bob Glass. “Deixamos de lado casos de uma noite e coisa e tal.”

Bob Glass ficou seriamente interessado. Para ele, parecia menos com um projeto de ciências e mais com um projeto de engenharia. Ao compreender como uma doença avançava dentro de uma comunidade, seria possível encontrar formas de diminuir seu ritmo e até detê-la. Mas como? Bob começou a ler tudo o que podia sobre doenças e a história das epidemias. Chegou até A grande gripe, livro do historiador John M. Barry sobre a pandemia de gripe de 1918. “Eu olhei aquilo e pensei: ‘Meu Deus, cinquenta milhões de pessoas morreram!’ Eu não fazia ideia. Então comecei a pensar quão importante era esse problema.”

Pai e filha ficaram alertas para o verdadeiro mundo das doenças. No outono de 2004, ficaram assustados ao lerem a notícia sobre a contaminação de uma fábrica de vacinas em Liverpool, na Inglaterra, que levou os Estados Unidos a perderem metade de seus suprimentos da vacina contra a gripe. Não havia vacina suficiente para todos. A pergunta era: quem deveria tomá-la, então? A política do governo norte-americano na época era administrar doses para os indivíduos com o maior risco de morte: os idosos. Laura achou que isso não era correto. “Ela disse: ‘Os jovens têm muito mais interações sociais, são eles que transmitem a doença’”, recordou-se o pai. “E se as vacinas fossem aplicadas neles?”, questionou Laura. Assim, pai e filha retornaram ao modelo e ajustaram a aplicação de vacina em jovens, eliminando sua capacidade de transmissão. De fato, os idosos não contraíam a doença. Bob Glass vasculhou a literatura atrás do infectologista ou epidemiologista que já tivesse chegado a essa conclusão. “Só consegui encontrar um artigo que sugerisse isso”, disse ele.

No fim, Laura Glass, então caloura do ensino médio na Albuquerque High School, ganharia o grande prêmio da feira de ciências estadual do Novo México. Estava a caminho da competição internacional em Phoenix, contra dois mil estudantes de todas as partes do mundo. Seus grandes painéis de isopor se concentravam estritamente em uma pergunta: “As cepas de gripe sofrem mutações o tempo inteiro. O que aconteceria se não tivéssemos a vacina apropriada a tempo?” Bob, por sua vez, já havia lido ou, pelo menos, passado os olhos em tudo o que havia sido escrito sobre epidemias e como controlá-las. A doença de 1918, que matara cinquenta milhões de pessoas, surgiu a partir de uma série de mutações no vírus dentro de alguma ave. Em 2005, a gripe sazonal já apresentava algumas dessas mutações. “Uma questão de vida ou morte com proporções globais se aproximava”, escreveria ele mais tarde. No entanto, todos os especialistas presumiam basicamente que, nos primeiros meses após o surgimento de alguma mutação assassina, pouco poderia ser feito para salvar vidas além de isolar os doentes e rezar por uma vacina. O modelo que Bob desenvolvera com a filha demonstrava não existir diferença entre aplicar uma vacina e remover o indivíduo de suas redes sociais: nos dois casos, a pessoa perdia a capacidade de infectar os outros. Os especialistas, porém, só falavam em acelerar a produção e a distribuição das vacinas. Ninguém parecia estar explorando formas mais eficientes e menos disruptivas de retirar as pessoas de seus círculos sociais. “E então eu tive esse medo súbito”, disse Bob. “De que ninguém perceberia o que poderia ser feito.”

 

***

 

A premonição chega às livrarias e lojas on-line em 25 de junho.

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