Nighthawks, 1942, é provavelmente a obra mais famosa de Edward Hopper. Nela, a luz revela um café frequentado por figuras solitárias confinadas (não presas) no mesmo ambiente. Se Hopper fosse carioca, ele pintaria a Lapa numa terça à tarde; não numa sexta à noite.
Gosto dele porque retrata a grande cidade sem encenar a grandiosidade da urbe. Ele quase sente ódio do óbvio das megalópoles. Foca na solidão, no ser que bebe só. Na moça que lê desacompanhada. Na calmaria aparente da juventude que contempla o caos da modernidade por uma fresta iluminada. Mais nada. Ele representa, no fundo, o que realmente deveria ganhar destaque: a solidão dos seres humanos nos ambientes coletivos. O artista da multiSÓlidão!
A atmosfera sombria é o reflexo do contexto: Hopper começou a pintar esta tela em dezembro de 1941, logo após o ataque a Pearl Harbor. Portanto, é natural que os traços revelem esse pequeno pavor, essa possibilidade de conflito maior no território até então intocável da sociedade norte-americana.
Particularmente, eu aprecio muito desse lado pop de Nighthawks que se aproxima de um cartaz de filme ou propaganda, com seus letreiros a te colorir. Não é à toa que a obra foi incansavelmente reproduzida em filmes, sátiras e músicas. Eu admiro a forma como Hopper compartilha sua sensibilidade porque há sempre um vazio físico ou psíquico. Há sempre um homem insone que vence a noite, alone. O bar é sua home. Há sempre um silêncio que precede o desespero. Parece não haver diálogos. A presença dos personagens retratados é quase inútil, eles são ausência. Mesmo próximos, não interagem.
Que tal a gente quebrar esse silêncio ilustrado e pensar na conversa que está acontecendo dentro daquele bar? Vocês conseguem imaginar algum diálogo? Podem se arriscar nos comentários.
Um diálogo sobre qualquer assunto menos sobre a catástrofe iminente que se aproxima, apenas palavras…
Um diálogo sobre o tempo