Cuca: um quadro bem brasileiro!

Por Pedro Gabriel

10 / novembro / 2020

Êta, quadro esquisito! Êta, quadro bonito! A Cuca aguça minha curiosidade desde que a vi estampada na capa de um caderno escolar! Sempre achei essa obra da Tarsila do Amaral muito estranha — não no sentido de desencaixada, mas por retratar algo que destoa.

Fato é: faz parte da cultura pop! Foi moderno na década de 20 do século XX, é moderno na década de 20 do século XXI e será moderno na década de 20 do século XXII. Sei lá, parece o cartaz de um novo desenho japonês, precursor do Meu Amigo Totoro, de Hayao Miyazaki. A Cuca, não tenho dúvidas, seria uma grande amiga das irmãs Satsuki e Mei. Nascidos no final dos anos 80 saberão do que estou falando. Mas não estamos nos anos 80, a tela é de 1924 — dois anos após a histórica Semana de 22. Pasmem!

Tenho certeza de que, se a Tarsila fosse oriental, ela teria inventado o Pokémon. A Cuca não seria uma espécie de Pokémon tupiniquim? Não. O Pokémon é que é uma espécie de Cuca nipônica! Também me lembra um personagem de um jogo de Mega Drive disputando a atenção com o incansável Sonic, um ouriço azul que se aventura com seus amigos Tails e Knuckles para acabar com os planos megalomaníacos de dominação mundial do Dr. Eggman. Aliás, o ouriço veloz ficaria representado pela artista nesta tela lúdica ao lado do sapo, do tatu, do mato e desses bichos imaginários.

Um quadro bem brasileiro!

É assim que Tarsila define essa arte numa carta destinada à sua única filha, Dulce Pinto. A mãe ainda descreve a criatura representada como:

um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu, e outro bicho inventado.

A meu ver, Tarsila externou a infância com cores fortes e bem brasileiras na esquisitice dessa obra habitada por seres imaginários, ideias inimagináveis, espaços intransponíveis. A sensação é que ela retratou sua mente lúdica — essa eterna criança que parece não abandonar os artistas.

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

VER TODAS AS COLUNAS

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *