Êta, quadro esquisito! Êta, quadro bonito! A Cuca aguça minha curiosidade desde que a vi estampada na capa de um caderno escolar! Sempre achei essa obra da Tarsila do Amaral muito estranha — não no sentido de desencaixada, mas por retratar algo que destoa.
Fato é: faz parte da cultura pop! Foi moderno na década de 20 do século XX, é moderno na década de 20 do século XXI e será moderno na década de 20 do século XXII. Sei lá, parece o cartaz de um novo desenho japonês, precursor do Meu Amigo Totoro, de Hayao Miyazaki. A Cuca, não tenho dúvidas, seria uma grande amiga das irmãs Satsuki e Mei. Nascidos no final dos anos 80 saberão do que estou falando. Mas não estamos nos anos 80, a tela é de 1924 — dois anos após a histórica Semana de 22. Pasmem!
Tenho certeza de que, se a Tarsila fosse oriental, ela teria inventado o Pokémon. A Cuca não seria uma espécie de Pokémon tupiniquim? Não. O Pokémon é que é uma espécie de Cuca nipônica! Também me lembra um personagem de um jogo de Mega Drive disputando a atenção com o incansável Sonic, um ouriço azul que se aventura com seus amigos Tails e Knuckles para acabar com os planos megalomaníacos de dominação mundial do Dr. Eggman. Aliás, o ouriço veloz ficaria representado pela artista nesta tela lúdica ao lado do sapo, do tatu, do mato e desses bichos imaginários.
Um quadro bem brasileiro!
É assim que Tarsila define essa arte numa carta destinada à sua única filha, Dulce Pinto. A mãe ainda descreve a criatura representada como:
um bicho esquisito, no meio do mato, com um sapo, um tatu, e outro bicho inventado.
A meu ver, Tarsila externou a infância com cores fortes e bem brasileiras na esquisitice dessa obra habitada por seres imaginários, ideias inimagináveis, espaços intransponíveis. A sensação é que ela retratou sua mente lúdica — essa eterna criança que parece não abandonar os artistas.
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