[Os silenciosos bancos das praças movimentadas]

Por Pedro Gabriel

27 / janeiro / 2015

27.1 - coluna

Toda praça, por menor que seja, por mais escondida que esteja, tem um banco à espera de alguém ou de algum movimento. Pode ser o vento capaz de distrair a monotonia de do banco, um objeto solitário fincado no meio de uma multidão de gente que não repara em sua cor, em seu formato, em seus detalhes. Eles estão sempre ali. Silenciosos e tímidos. Parecem até poetas. Eles estão sempre ali. Atentos e cansados. Cansados de ouvir histórias, de suportar o peso de todos que ali já sentaram, de todos que ali já deitaram, de todos que ali já dedicaram um pedaço de tempo, um segundo de vida, uma fatia de história.

Quantos amores nasceram e morreram naqueles bancos? Quantos poetas encontraram o verso que faltava naqueles bancos? Quantos pássaros famintos encontram migalhas de pão ou sobras de pipoca aos pés daqueles bancos? Quantas conversas deixaram de acontecer pela timidez de um ou pela teimosia de outro? Quantos cães latiram à espera do dono que fazia suas compras no mercado logo à frente? Os bancos veem a vida passar parados. Só se movem quando são removidos pela prefeitura, demolidos pelo desgaste do tempo ou destruídos pela indelicadeza dos transeuntes. Como alguém tem coragem de maltratar essas testemunhas silenciosas do mundo?

Eu já esperei grandes histórias em pequenos bancos. E elas nunca apareceram. Eu já esperei pequenas paixões em bancos imensuráveis. Algumas até vieram. A gente nunca sabe exatamente a medida do que nos espera. Mas não há motivo para perder a esperança. O amor não precisa chegar, o amor já está. Ele é um banco silencioso e tímido e atento e cansado que aceita todos que passam por ele, mas só acomoda os que resolvem ficar.

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

8 Respostas para “[Os silenciosos bancos das praças movimentadas]

  1. Como amante das palavras, digo que terça- feira passou a ser o dia mais poético da semana.Pedro Gabriel, seus textos estão cada vez melhor. Já estou vendo o próximo livro com esses textos. Um abraço bem poético.

  2. Simplesmente perfeito. Quantas histórias guardam um banco de praça… Testemunhas fiéis de pedaços de vida =)

  3. Pedro Gabriel, sou fixada em bancos tenho uma coleção de fotos de banco que faço, quanto mais rústico mais gosto. por isso minha neta me passou o link para ler esta crônica admirável. Você trata os bancos com tal carinho que senti como se os amasse tanto quanto eu. Parabens pelo seu texto. gostaria de ler outros textos seus. Sou escritora. rande abraço. Gláucia

  4. Pedro, você deveria escrever um livro com textos e contos seus, iria ficar ótimo. Abraço!

  5. Simplesmente um dos se não o melhor poeta da atualidade.

  6. E que o amor, mesmo cansado como os bancos, jamais desista de nós. E que nós, mesmo que apressados, possamos sempre nos acomodar nos bancos da vida. Simplicidade sempre nas tuas palavras.
    Obrigada mais uma vez.

  7. Amo fotografar bancos pelo mundo. Quando olho para eles e depois me sento, os meus pensamentos voam. Ao ler teu artigo até me arrepiei? É tudo o q senti em cada banco que passei.Obrigada! Amei

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