[eu me chamo todos os meus nomes]

Por Pedro Gabriel

22 / outubro / 2013

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Eu me chamo Antônio. Isso você já sabe. Mas também me chamo Pedro. E Gabriel. E Anhorn.

Mas, calma aí!

É Pedro ou Antônio ou Gabriel ou Anhorn? Ou seria Gabriel Antônio Anhorn Pedro? Ou então Anhorn Antônio Gabriel Pedro? Ou ainda Pedro Antônio Gabriel Anhorn?

Então, vamos lá:

Na minha Certidão de Nascimento, o escrevente deu fé em: Pedro Antônio Gabriel Anhorn. Pedro Antônio é o meu nome próprio, composto. Gabriel é o meu sobrenome por parte de mãe. Anhorn é o meu sobrenome por parte de pai. Portanto Pedro Antônio Gabriel Anhorn é nome que os meus pais quiseram que eu me apresentasse ao mundo.

É exatamente esse o nome que aparece no meu CPF, no meu RG, no meu Título Eleitoral, na carteirinha daquele clube que eu nunca frequentei, na conta de luz, na lista de chamada do colégio e na da faculdade.

Confesso que sofri bullying nominal a vida inteira.

Por exemplo:

Quando ligava para fazer alguma reclamação, a telefonista pedia alguns dados cadastrais, a começar pelo meu nome. Eu dizia: Pedro Antônio Gabriel A-N-H-O-R-N. Do outro lado da linha: Desculpa, senhor, poderia repetir o seu último nome? A-N-H-O-R-N. Do outro lado da linha, a mesma pergunta: Desculpa, poderia repetir o último seu nome, senhor? Apelei para o alfabeto fonético usado pela OTAN. Pedro Antônio Gabriel Alfa November Hotel Oscar Romeo November. E mais uma vez, ela indagava o meu nome. Para a minha a sorte, o jeitinho brasileiro é infalível: A de amor, N de Nariz, H de Hulk, O de Orelha, R de Rato, N de Nariz mais uma vez, senhora. Entendi perfeitamente, senhor. Cadastro efetuado com sucesso!

Isso sem falar nas vezes em que eu sofri nas filas de espera do Detran. Pasmem: eu rezava para não ser chamado! Preferia mofar no banco a ter que ouvi o meu nome proclamado pelos quatro cantos daquele lugar lotado. Quando a atendente ameaçava proclamar o meu nome em sei lá quantos decibéis… PEDRO ANTÔNIO GABR… Antes de ela terminar, eu já gritava em outros tantos decibéis: SOU EU! SOU EU! SOU EU! Meu drama não acabava aí. Sem esperar eu sentar, ela já sentenciava: Nossa, menino! Você é 3 em 1. Esses nomes estavam na promoção no dia do seu nascimento?

Mas então por que assinar Eu me chamo Antônio?

Não é numerologia. Não é pseudônimo. Não consultei os astros. Não tem nenhum mistério. Muito menos trocadilho, duplo sentido ou segundas intenções. Antônio é simplesmente o nome que escolhi para me apresentar, para dialogar com aquela plataforma de guardanapos. Antônio se tornou também esse personagem de um romance que está sendo escrito e vivido. Mas é um personagem que existe além da ficção. E, como todo personagem, ele é também um pedaço do autor, uma extensão da sua criatividade. Guardando as indevidas proporções: o autor é o deus do seu personagem.

Resumindo:

Todos os meus nomes têm em comum o fato de ser eu.  Eu poderia me chamar Pedro, Gabriel, ou ainda Alfa November Hotel Oscar Romeo November, mas escolhi me chamar Antônio. Eu me chamo Antônio.

Pedro Gabriel nasceu em N’Djamena, capital do Chade, em 1984. Filho de pai suíço e mãe brasileira, chegou ao Brasil aos 12 anos — e até os 13 não formulava uma frase completa em português. A partir da dificuldade na adaptação à língua portuguesa, que lhe exigiu muita observação tanto dos sons quanto da grafia das palavras, Pedro desenvolveu talento e sensibilidade raros para brincar com as letras. É formado em publicidade e propaganda pela ESPM-RJ e autor de Eu me chamo Antônio Segundo – Eu me chamo Antônio e Ilustre Poesia.

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Comentários

18 Respostas para “[eu me chamo todos os meus nomes]

  1. Este texto mostra a versatilidade do Antônio.
    Adorei.
    Gostaria de conhecê-lo pessoalmente.

  2. Então, Pedro Antônio Gabriel Anhorn, tem um perfil pessoal no facebook?

  3. Nomes próprios triplos são realmente complexos. Eu tenho três também, Fausto Macgyver Wanderley… Enfim, parabéns Antônio! Você é realmente muito bom no que faz.

  4. Eu me chamo Maria, mas poderia ser MENINA ALEGRE REGISTRA INTEIRAMENTE AMAR esse cara que se chama Antônio!

  5. Antônio, querido… falei semana passada e volto a repetir: “Antônio… Pedro… Gabriel… você é tantos em um só!!!” O fato é que é fácil se apaixonar por você com qualquer nome, Sr. Anhorn!!! Um abraço.

  6. Eu me chamo Aline Leal de Oliveira Gomes.
    Meu pai queria colocar só sobrenome dele, aí minha mãe ficou com raiva e colocou os dois dela! E escolhi Aline Leal, porque é a família dentre as minhas famílias, tem distrito homenageado e tudo. É a família grande, espalhada e que quase não se vê, mas se precisar a gente vai. 😉

  7. Adorei saber um tiquinho da sua história. Só faltou uma foto! =) Um beijo rapaz!

  8. Antônio, um amor de pessoa! Eu me chamo Maria Eduarda, mas não entendo porque as pessoas se enrolam para falar meu nome, talvez seja pelo tamanho, elas tem tanta preguiça que logo digo: me chame de Duda 🙂

  9. A curiosidade sobre a vc é tão real que, há algumas semanas, inspirada em suas palavras, esbocei algumas palavras. Não tinha tido coragem de publicar, mas sua postagem me encorajou. Espero que goste!

    Quem se chama Antônio?

    Quem é esse profeta
    Que transforma tristezas em cores
    Amantes em amores
    Lágrimas em poemas?

    Anda de bar em bar
    Sempre procurando um par
    E sozinho, no fim da noite
    Depois de virar um trapo
    Vomita as palavras bonitas
    todas num guardanapo?

    Seria ele um anjo aprendiz
    Que por onde passa
    Deixa o povo sem dor
    Através das palavras que diz?

    Tento imaginar seu rosto
    Mas não consigo, não tem jeito
    Quero mesmo é viver iludida
    Imaginando que é o homem perfeito
    Passeando pelas palavras
    Para traduzir meu pensamento.

    Eu também me chamo um pouco Antônio desde o dia fui atingida por sua explosão de sentimentos!!! Abraços Cassandra / Curitiba-Pr

  10. Antônio e sua linda mania de entrar na minha cabeça e me decifrar.
    Textos, poesias, guardanapos.. Amor em todas as formas e a perfeição em tudo.
    Obrigada, por ser meu novo Caio Fernando Abreu, aliado a Matheus Rocha na luta por definir em palavras tudo aquilo que todos sentimos.

  11. Ri muito com esse seu texto… Meu dia começou mais leve.

  12. pô cara lendo seu texto me identifiquei demais porque comigo é igualzinho, “PEDRO ANTÔNIO GABR… Antes de ela terminar, eu já gritava em outros tantos decibéis: SOU EU! SOU EU! SOU EU!” hahaha muito bom seus textos, parabéns (:

  13. Eu me chamo Andreza, amo o Antonio e conto as horas para poder conhecê-lo!

  14. Eu me chamo Bel, para íntimos, conhecidos e desconhecidos.. E ai de quem ousar soletrar meu nome inteiro! 😀

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