Para você, que já se foi.

Para você, que já se foi.

Caro, Bernardo

Você não está mais aqui há muito tempo, se é que algum dia esteve, mas me agarro à essa possibilidade para não desmoronar. Porque posso cair sem você. Porque eu ando meio curvada com o peso do mundo quando não estou com você.
Tudo dói tanto, e agora você se foi. E eu quis morrer porque qualquer coisa seria melhor que não ter você. Eu quis gritar, espernear, dizer "fica! Fica, pelo amor de Deus!". Mas não o fiz, porque isso seria muito infantil e eu sei o quanto você odeia infantilidades.
Acho que você nunca notou a quantidade de pedacinhos em que eu me quebrei para que você me moldasse à sua maneira, para que eu fosse qualquer coisa que te agradasse. Mas você olhou no fundo da minha alma, encarando esse espaço desconhecido, cheio de estragos e simplesmente disse que não queria, obrigado.
Eu nunca lhe pedi nada, mas imploro agora: me dê um pouco de você. Deixe comigo uma pequena parte do que você é para que eu finja, que ainda por um momento, você foi meu. Para que eu não morra. Para que eu não não passe a noite chorando baixinho em posição fetal, igual à uma criança com medo.
Talvez soe meio egoísta, mas amei você mais do que amei qualquer outra pessoa, e ainda que doa aceitar que você pediu demissão do cargo mais alto da minha vida, sei que nos veremos novamente, um dia. E será tão mágico constatar que eu não gosto mais. Que você não me atinge mais.
Eu não gosto mais de você. Não quero mais gostar de você. Repudio todas as vezes em que você atravessa a minha mente. Porque você estraçalhou o meu coração, me deixou em caquinhos por aí e eu simplesmente, não sei como juntá-los outra vez.
Se você não quiser se doar para mim, eu entendo, mas me devolva. Devolva metade do meu coração que deixei com você. Mas devolva remendado, por favor! Cansei de perder meu tempo consertando os estragos que você fez. Me dê meu ponto final. Você já o achou há algum tempo, mas eu preciso do meu ponto final! Preciso para seguir em frente, para começar outra página, outro livro, outra história.
Preciso dele para ser feliz de novo, meu amor. Para não sentir mais a sua falta. Para não olhar mais para a lua e te imaginar fazendo a mesma coisa, em outro estado, em outro lugar, na companhia de outro alguém. Preciso dele para não procurar você nos lugares onde eu vou, quando escuto seu nome, quando ouço sua voz, ou quando sinto seu perfume. Preciso que você pare de ser egoísta e me liberte de uma vez, há noites que eu não durmo, porque você não está do outro lado da cama, porque sei que pode o dia clarear e a noite chegar, o mundo todo mudar e você ainda não estará aqui.

Você se foi faz tempo. Você nunca esteve aqui.

E ainda assim deixou um estrago enorme por onde não passou

Eduarda da Rosa

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