Agora que você se foi

Agora que você se foi

Querido Gabriel,
Eu ainda não acredito que você partiu. É muito estranho pensar nisso, mas principalmente triste. Embora a gente não se falasse há algum tempo, acho que desde 2008 não conversamos devidamente, foi um choque saber da sua morte. Era um sábado normal, como qualquer outro, quando recebi a notícia. Confesso que não chorei, nem me entristeci muito na hora, só achei estranho pensar que um antigo amigo tinha morrido. Mas, com o passar do dia, fui me dando conta que você não estaria mais nesse mundo, eu nunca mais cruzaria com você na rua, nunca mais veria algo que você publicou em alguma rede social, nunca mais conversaria com você.
Gabriel, eu te escrevo esta carta para relembrar o nosso passado juntos, mas também como um pedido de desculpas.
Nos conhecemos em 2006, mas te odiava no começo do ano. Só na metade do ano que passei a aturar você, mas então tudo complicou. Nosso primeiro beijo foi no cinema, em junho, e foi ai que me apaixonei por você, embora eu não admitisse isso para ninguém no mundo, nem para mim mesma. Mas eu te magoei já nesse primeiro dia, feri seus sentimentos. E toda nossa história foi dessa forma, um dos dois sempre machucados.
Embora eu tenha te magoado, depois de uns quatro dias já estávamos juntos novamente e assim foi durante duas semanas, só alegria. Então chegou as férias e não nos vimos. Depois foi tudo diferente. Você começou a brincar comigo, me usar, você me magoou inúmeras vezes durante os próximos seis meses, mas eu sei que eu te magoei também. Sempre tive minha língua afiada, sempre soube o que falar para machucar as pessoas.
Em 2007, nossa história continuou com um pouco mais de seriedade. Ficamos juntos o ano todo, a Festa Junina foi ótima com você, aquele dia nas mesas de xadrez, quando eu tinha acabado de tirar o aparelho, sei lá, foram tantos momentos. Mas também tivemos nossas crises, mágoas sempre existindo entre nós. Você me provocava e eu te provocava também. Só que você sempre estava na vantagem, pois, como se diz: tem mais poder na relação aquele que ama menos. E no nosso caso, você quem amava menos. Não sei nem se amor é a palavra certa. Talvez paixão seria algo melhor para descrever os sentimentos dos dois.
Eu sempre tentava te atingir com palavras, mas você me atingia beijando outras meninas e me contando depois. E por que eu me submetia a isso? Porque eu gostava do nosso jogo, embora não soubesse o quão perigoso é brincar com o coração.
Chegou o ano de 2008, e os primeiros seis meses foram os melhores meses da nossa relação, mas também foi a época que a gente mais brigou de verdade. Ficávamos um bom tempo sem falar um com o outro, mas depois a gente voltava e se acertava por um tempo.
Lembro que você me ligou um dia e acho que se eu não fosse tão babaca com você as vezes, a gente teria começado a namorar sério (não dá para chamar uma relação de dois anos de "ficar").
Na festa Junina eu conheci um outro Gabriel, a pessoa pela qual eu verdadeiramente me apaixonei e finalmente tive que admitir. Você se mostrou amável, amigável, bonito, carinhoso. E o melhor foi que não acabou lá na festa. Você continuou a ser fofo comigo durante as três semanas antes das férias. Você me ligava, conversávamos no MSN, me deu presentinhos bobos, mas que guardo até hoje, andava comigo durante os intervalos, vinha me procurar todos os dias, me acompanhava até a van. E eu me comportei direitinho nesse tempo, afinal, estava perdidamente apaixonada por você.
Mas então, veio as férias e todo o romantismo se acabou. Acredito que foi a época que você realmente se apaixonou por mim, mas a distancia que nos impôs as férias, fez essa paixão apagar. Eramos apenas duas crianças de 14 anos, idade em que um mês muda tudo.
E você voltou das férias um completo babaca, me fazia sofrer propositadamente, tanto que um monte de amigos nossos foi conversar com você para você deixar de fazer essas coisas comigo. Mas então veio o fatídico dia 11 de setembro, tão lembrado pelo povo americano pelo atentado, porém tão lembrado por mim pela canalhice que você me fez (um dos dias que melhor tenho recordação, infelizmente). Você me fez sentir a pior pessoa do mundo naquele momento. Mas não terminei com você naquele dia ainda, não tinha forças, nem coragem. Embora eu te afastasse algumas vezes depois desse episódio, eu não era tão forte assim e acabava ficando com você de novo, afinal, estava apaixonada.
Mas nesse meio tempo eu conheci o D., que se tornou meu melhor amigo, que você morria de ciúmes (mas não se preocupe, eu só tinha olhos para você ainda), e ele me ajudou a terminar com você, embora nem ele saiba disso.
Você nunca soube, mas foi um dia que você me pediu uma bala e por acaso eu tinha, então te dei, junto com a promessa que jamais beijaria você novamente, nem abraçaria, nem nada. E foi nesse dia que você resolveu falar que me amava. Cortou meu coração, mas permaneci firme. Embora você quisesse, nunca mais nós ficamos depois desse dia.
Gabriel, embora toda nossa conturbada história, saiba que não guardo mágoas de você. Eu te perdoei, até pelo 11/09, e espero que você tenha me perdoado. Acredito que tenha me perdoado, pois você era uma das pessoas mais alegres que conhecia, não era do seu feitio guardar mágoas. E quero te pedir desculpas, embora seja tarde demais (principalmente por ser tarde demais), por eu não ter te falado o que eu sabia, o que poderia ter salvado sua vida (espero que alguém tenha falado isso para você). Vou ser cobrada pela minha falha, isso eu sei, e me entristece muito saber que você partiu sem que eu pudesse ter te mostrado.
Embora tenha passado 7 anos que paramos de nos ver com frequência, as vezes ainda nos encontrávamos na rua. E saber que essa possibilidade não existe mais me entristece.
Não, eu não estou mais apaixonada por você. Demorou, mas te superei e meu coração está inteiro novamente, pronto para eu entregar para meu futuro marido. Mas vou lembrar de você com carinho (e tristeza por não ter falado), pois você fez parte da minha adolescência. Embora não oficialmente, você foi meu primeiro namorado, que durou 2,5 anos. E tenho lembranças melhores com você que com meu primeiro namorado oficial.
Essa é minha carta de despedida para você. Desculpa.

M.T.R

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