
Lionel Shriver realiza uma espécie de genealogia do assassínio ao criar na ficção uma chacina similar a tantas provocadas por jovens em escolas americanas. Aos 15 anos, o personagem Kevin mata 11 pessoas, entre colegas no colégio e familiares. Enquanto ele cumpre pena, a mãe Eva amarga a monstruosidade do filho. Entre culpa e solidão, ela apenas sobrevive. A vida normal se esvai no escândalo, no pagamento dos advogados, nos olhares sociais tortos.
Transposto o primeiro estágio da perplexidade, um ano e oito meses depois, ela dá início a uma correspondência com o marido, único interlocutor capaz de entender a tragédia, apesar de ausente. Cada carta é uma ode e uma desconstrução do amor. Não sobra uma só emoção inaudita no relato da mulher de ascendência armênia, até então uma bem-sucedida autora de guias de viagem.
Cada interstício do histórico familiar é flagrado: o casal se apaixona; ele quer filhos, ela não. Kevin é um menino entediado e cruel empenhado em aterrorizar babás e vizinhos. Eva tenta cumprir mecanicamente os ritos maternos, até que nasce uma filha realmente querida. A essa altura, as relações familiares já estão viciadas. Contudo, é à mãe que resta a tarefa de visitar o "sociopata inatingível" que ela gerou, numa casa de correção para menores. Orgulhoso da fama de bandido notório, ele não a recebe bem de início, mas ela insiste nos encontros quinzenais. Por meio de Eva, Lionel Shriver quebra o silêncio que costuma se impor após esse tipo de drama e expõe o indizível sobre as frágeis nuances das relações entre pais e filhos num romance irretocável.
Lionel Shriver

Lionel Shriver nasceu em 1957 na Carolina do Norte, Estados Unidos. Formada e pós-graduada pela Universidade de Columbia, publicou além de Precisamos falar sobre o Kevin e O mundo pós-aniversário, The Female of the Species, Checker and the Derailleurs, Ordinary Decent Criminals, Game Control e A Perfectly Good Family.
Resenhas
A americana Lionel Shriver, de 50 anos, escreveu um livro polêmico e primoroso (...). Sétimo romance da autora, a obra (...) se tornou best-seller - merecidamente. Uma de suas grandes qualidades está na forma como a escritora evita os estereótipos sobre o tema.
Veja
Um livro obrigatório por inúmeras razões (...); é uma bofetada a cada página. Nunca gostei de apanhar, mas esse livro me nocauteou e ainda terminei dizendo quero mais.
Revista O Globo
Lionel (...) preferiu sabiamente não reconstituir crimes por demais analisados. Seu caminho, mais árduo e intrigante, foi o de discutir a parcela de culpa que os pais têm quando os filhos cometem crimes. Com isso, ela desafiou tabus e tocou em feridas como levantar questões sobre a possibilidade de pais odiarem seus filhos.
O Estado de S. Paulo,
Utilizar acontecimentos das primeiras páginas sempre foi um desafio para os ficcionistas. A culpada Eva Khatchadourian escava sua própria história, a de seu filho e a da nação em busca dos responsáveis. Sua sinceridade e impetuosidade sustentam a narrativa. É um romance impressionante.
The New York Times
(...) um livro sobre a perigosa distância que existe entre o que sentimos e o que estamos de fato preparados para admitir em relação à vida em família (...). A sátira de Shriver sobre famílias centradas em crianças e capitaneadas por adultos bufões cuja vida intelectual, para não citar a vida erótica, está em pedaços não poderia ser mais oportuna.
The Guardian
Incrivelmente honesto. Shriver assume um risco calculado (...), mas ganha a aposta ao acertar o tom atraente da intimidade, e trata o assunto com coragem admirável, transformando uma história sensacionalista em algo perturbador.
Wall Street Journal
Um livro obrigatório por inúmeras razões; uma bofetada a cada página. Nunca gostei de apanhar, mas esse livro me nocauteou e ainda terminei dizendo quero mais.
O Globo
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