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O que esperar da série de Pequenos incêndios por toda parte

22 / maio / 2020

Protagonizado por Reese Witherspoon (Legalmente Loira) e Kerry Washington (Scandal), Little Fires Everywhere chegou ao Amazon Prime Video esta semana. A adaptação de Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng, foi produzida pela Hello Sunshine, responsável por Big Little Lies.

Ambientada em Shaker Heights, um bairro meticulosamente planejado onde tudo beira a perfeição, a história abre com um incêndio que tomou conta da casa dos Richardson. A partir daí voltamos ao passado para entender como surgiram as primeiras faíscas que desestabilizaram a região.

Como leitores fanáticos que somos, estávamos muito ansiosos com a estreia da minissérie e assistimos a tudo para contar o que vocês podem esperar de Little Fires Everywhere. Separamos alguns pontos altos e momentos que se assemelham e outros que divergem de Pequenos incêndios por toda parte. Mas não se preocupe! Essa lista é livre de spoiler, tanto do livro quanto da série.

 

1.É muito fiel ao livro

Antes de tudo, é preciso dizer que a série é uma adaptação muito fiel ao livro, e é raro encontrar uma produção tão boa e tão comprometida com o texto original. Fica claro que a equipe responsável também é fã da história e dos personagens de Celeste Ng.

Os atores, os cenários e o roteiro conseguem revelar a essência de Pequenos incêndios por toda parte ao mesmo tempo em que expandem a narrativa de suas 416 páginas. Com destaque para Reese Witherspoon, que captura com excelência o carinho e a obsessão de Elena Richardson, e Kerry Washington, que, com apenas um olhar, consegue expressar a dor e o conflito interno de Mia Warren.

Claro, é impossível adaptar tudo que está no livro, e algumas cenas precisaram ser modificadas para se adequarem à tela, mas todos os trejeitos, características e discussões do livro estão presentes nos oito episódios da minissérie. Nas poucas vezes em que os dois materiais divergem, é uma feliz surpresa. A ansiedade de saber que outros obstáculos estarão à espreita faz o leitor se envolver ainda mais com a história.

Pequenos incêndios por toda parte é instigante como os melhores thrillers de assassinato, mas são as tensões reais do cotidiano e as nuances dos personagens que nos fazem virar a noite. A série não deixou a desejar nesse quesito.

 

2. Mia Warren é uma mulher negra

A ilusão de perfeição começa a rachar com a chegada de Mia Warren à cidade. Artista e mãe solteira, ela está acostumada a se mudar constantemente com a filha adolescente, Pearl, mas decide se estabelecer em Shaker Heights pelo bem da menina. Para isso, aluga uma casa, que pertence aos Richardson.

Logo no primeiro encontro das matriarcas é possível antever as discussões sobre classe, privilégio e maternidade que permeiam a obra, mas foi com a escolha do elenco que a série adicionou mais uma camada à história. Kerry Washington assumiu o papel de Mia Warren e abriu novos caminhos, colocando o racismo no centro da conversa.

Mia carrega um desprezo pelo status quo que ameaça desestruturar a comunidade. Se no livro isso se dá principalmente por conta de seu segredo e sua personalidade desafiadora, na série vemos que o status quo na verdade é prejudicial a ela.

Apesar de Shaker Heights se orgulhar de ser uma das primeiras comunidades integradas racialmente, microagressões direcionadas aos personagens negros ocorrem em todos os episódios, e Mia sabe que não é completamente bem-vinda no bairro de predominância branca.

 

3. Conhecemos mais sobre Elena Richardson

Um dos episódios mais interessantes é focado no passado das personagens principais. Na obra de Celeste Ng, acompanhamos de perto a juventude de Mia, mas a de Elena tem menos destaque. Em Little Fires Everywhere, a trajetória que antecede à maternidade das duas é explorada igualmente, e conseguimos compreender melhor os conflitos de cada uma.

Um dos (vários) pontos altos dessa história é a capacidade de fazer com que o espectador tenha empatia por todos os personagens, sem definir nenhum deles como completamente bom ou mau. Elena e Mia são pessoas complexas, com questões que, apesar de peculiares à situação, refletem a luta de milhões de mulheres ao redor do mundo. 

No sexto capítulo, um flashback leva o espectador ao momento em que Elena descobre estar grávida de Izzy, sua filha mais nova. Enquanto o marido fica em júbilo com a perspectiva de mais uma criança na casa, ela percebe com pesar que precisará sacrificar a carreira como jornalista para criar os quatro filhos e se ressente com a menina ainda nem nascida. Apesar de no livro Izzy ser uma criança planejada cujo nascimento prematuro resultou na superproteção da mãe, a mudança no roteiro traz à tona as funções de cada membro de uma família dita tradicional. 

Em nenhum momento o marido se propõe a assumir um papel mais ativo na estrutura familiar. Ele é o provedor, quem trabalha o dia inteiro fora de casa, e Elena é sempre a mãe e esposa ideal, pronta para atender a todas as necessidades. Apesar de ser a vida que ela planejou, está longe de ser perfeita.

 

4. Aprofunda a personalidade de Izzy

Os quatro filhos da família Richardson têm personalidades muito distintas: Lexie é organizada e inteligente, Trip é o bonitão e popular da escola, Moody é tímido e desajeitado, e Izzy é a rebelde. Apesar de parecerem características estereotipadas de início, pouco a pouco descobrimos que não podemos confiar nas primeiras impressões.

Izzy é uma jovem superprotegida e incompreendida, que luta pelo que acredita e tenta subverter os padrões que são esperados dela, mas nem sempre da maneira mais adequada, de acordo com a mãe.

Apesar de não ser um assunto mencionado no livro, Little Fires Everywhere foca na sexualidade da menina, um dos pontos que a faz se destacar negativamente na cidade conservadora e que a torna alvo de bullying e preconceito por parte dos colegas e da família. Com mais tempo dedicado a Izzy, e uma breve volta ao passado para explorar as relações dela, entendemos com mais profundidade de onde surgem suas motivações e sua inquietude com a hipocrisia de Shaker Heights.

 

5. O julgamento

Acima de tudo, essa é uma história sobre maternidade (Quem está sentindo falta de Amor de mãe, essa é pra você!). Mães de diferentes etnias, nacionalidades, condições econômicas e sociais às vezes se apoiam, e outras vezes se voltam umas contra as outras. Mas o amor por seus filhos, e o que elas estão dispostas a sacrificar por isso, sempre fala mais alto.

Em certo momento, a disputa pela guarda de uma criança divide as opiniões da comunidade e somos levados a nos questionar: o que significa ser mãe? Como é possível dizer que uma será melhor do que a outra para a criança?

São perguntas difíceis, mas Pequenos incêndios por toda parte consegue mostrar todos os lados, nos fazendo sentir o desespero e o carinho de cada uma. Na série é da mesma forma. Simpatizamos com as duas mulheres e, independentemente de para qual estamos torcendo, sabemos que ambas sentirão uma dor infinita caso percam.

No fim, não existe uma resposta 100% correta, e tanto a minissérie quanto o livro mostram isso. 

A série já está disponível no Prime Video, plataforma de streaming da Amazon.

Leia um trecho de Pequenos incêndios por toda parte, de Celeste Ng.


Saiba mais sobre os livros

Comentários

8 Respostas para “O que esperar da série de Pequenos incêndios por toda parte

  1. Na série eu vi uma construção de uma personagem pra ser vista como vilã sim, e Helena… tida como controladora por ser organizada. É como se você pode ser o que quiser na vida, menos organizadas… outra coisa que incomoda é nomarado da Lexie. Ele vive de enxergar preconceito em tudo, porque namorou então a menina? Não gostei dessa série, achei tendenciosa. Também é um desserviço para que quer adotar, porque corre o risco de ser vista como uma pessoa sem sentimentos e que compra criança. Pior é se a genitora quiser a criança de volta… ser tachado de “pessoas como a Linda nunca perdem?” Nesse caso prefiro adotar cachorros… É sempre bem visto é não corre o risco de ficar sem eles.

  2. Infelizmente eu não gostei da adaptação e, pelo contrário, a achei muito infiel ao livro. Para mim, chegou a desconstruir a personalidade dos personagens. No livro, eu realmente não tinha criado nenhuma antipatia por nenhum personagem, já na série eu peguei um ranço eterno da Mia e da Bebe. O namorado da Lexie também se torna um namorado insuportável. Eu sinceramente assisti na base do ódio e me decepcionei demais. E pra finalizar a infidelidade, fazem um final daquele. Enfim… eu realmente não gostei da adaptação.

  3. Eu amei….retrata bem o quanto uma pessoa infeliz é capaz de ficar incomodado com o próximo…Elena tem lá suas qualidades,porém nada bem resolvida na vida…Mia, cometeu uma coisa extremamente errada, porém barriga de aluguel é um campo minado, no entanto ela tocava a vida dela sem incmodar ninguém….

  4. Adorei a série. Como mãe de 3 filhos e jornalista me identifiquei em certos pontos com Elena. Como artista e pelo desafio de criar uma filha sozinha, me identifiquei tb com Mia. Os debates sobre racismo, preconceito e descriminação retratados no filme são representações da nossa sociedade hipócrita. Os “pequenos incêndios” são metaforicamente sendo revelados quando um segredo era exposto ou quando as máscaras eram depostas. O ressurgir das cinzas, como Fênix, fazia parte da rotina de Mia. E Elena precisou passar literalmente pela mesma experiência para um renascimento. Quanto a Izzi, considero a personagem mais autêntica da trama. E convenhamos, tanto a série, assim como o livro, têm a licença poética da ARTE, que norteia os relacionamentos dos personagens: a arte de ser mulher, a arte de ser mãe, a arte nos poemas e textos, a arte nas fotos, a arte de ser quem somos, a arte de viver intensamente.

  5. Achei cansativo e tendencioso além de parado. Não aconselho

  6. Tava adorando a forma.como a série expunha o lado.sombrio e também as fragilidades e virtudes.de cada personagem de cada lado.da.historia e entendendo o.desafio.da.empatia .. justamente retratando a vida como.ela é e as consequências das escolhas de cada um… até perceber que tudo se.tratava de fato dr mais uma cápsula política e polarizada dentre tantas ja apresentadas até aqui .. a fim de fazer a famigerada lavagem cerebral de que estamos num.mundo polarizado e dividido em classes.. e nao por acaso todos erramos mas se vc for negro lesbica asiatica mae solteira etc.. seu erro eh poético, eh pq vc nao teve escolha, vc eh vitima da vida e tudo bem.. dane se o.resto do mundo… vc acaba de virar heroína de um conto !

  7. Também não gostei da série! Muito tendenciosa mesmo. Pelo que a série mostra, Mia não era pobre. Tinha uma família bem estruturada. Foi estudar em Nova York. Quando os pais não quiseram ou não puderam pagar mais seus estudos ela foi ser barriga de aluguel, por U$12000,00. Sofreu o preconceito da gravidez, pela própria família! Mentiu para o casal, os verdadeiros pais da criança e fugiu. Vivia fugindo, com nome falso, por ter cometido “um crime”. Privou a “filha” de ter amigos, vínculos, família, por egoísmo. Sem contar com a atitude da chinesa que abandonou o bebê na porta do bombeiro, numa noite de inverno! Vítimas? Vamos contar melhor essa história! A personagem “branca” vista como vilã, bem nascida, optou em criar os 4 filhos deixando a carreira para trás. Uma inversão de valores mesmo!

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