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O que fazer quando o maior risco para um país é o próprio presidente?

16 / abril / 2020

Michael Lewis analisa a gestão de Trump para revelar como as decisões de um presidente podem prejudicar a segurança de seu próprio país.

Antes de deixar a presidência dos Estados Unidos, George Bush ordenou que todos os departamentos de sua gestão preparassem relatórios e apresentações destinados ao próximo ocupante da Casa Branca. Àquela altura, ele não sabia se o sucessor seria um membro do próprio partido ou um democrata. O gesto foi motivado pelo simples entendimento de que era necessário manter o legado das administrações anteriores, otimizar o tempo de ação do governo seguinte, poupando-lhe esforços que seriam empregados para entender o funcionamento da máquina federal. Acima de tudo, seu objetivo era assegurar que todo o planejamento contra ameaças à segurança nacional fosse mantido, e para isso todos os departamentos elencaram os principais alertas a se ter em mente.

Barack Obama venceu aquela eleição e recebeu de bom grado o material preparado pelo colega do partido rival. Ele também deu continuidade a essa política, organizando material com todo o conhecimento da sua gestão e das anteriores a ser transferido ao novo presidente. Por isso, quando foi confirmada a vitória de Donald Trump, todas as agências federais estavam preparadas para receber a equipe de transição do novo líder e prepara-la para assumir suas funções. O problema é que ninguém apareceu.

Após semanas de espera, os poucos membros enviados por Trump demonstraram desinteresse total pelo conhecimento que os servidores de carreira e chefes dos departamentos tinham a passar. Pior ainda: pareciam desconhecer por completo as funções dos setores que comandariam e tinham currículos bem questionáveis — isso sem mencionarmos os casos de possíveis conflitos de interesse.

Michael Lewis resolveu então ir atrás de alguns desses servidores — que aos poucos seriam limados de seus cargos — a fim de ouvir o que teriam a dizer sobre a atitude de Trump. A principal pergunta que fez a eles foi “quais são os riscos que mais o apavoram?” e uma das respostas o assombrou: uma das maiores ameaças iminentes contra os Estados Unidos (e o mundo) está personificada na figura do próprio Trump. E assim temos o desenho do quinto risco: tudo aquilo que desconhecemos, que sequer cogitamos que possa vir a acontecer, o imponderável. É natural que esse fator sempre exista em certa medida, mas o que fazer quando o principal responsável por minimizá-lo simplesmente lava as mãos e prefere se refugiar na ignorância? Até que ponto o desprezo pelo conhecimento demonstrado pelos líderes de Estado ameaça a nossa existência?

Em O quinto risco, Michael Lewis defende que, acima de ideologias e de partidos políticos, é fundamental que os presidentes demonstrem um mínimo de interesse em entender as engrenagens da máquina pública, fornecendo a ela os recursos e a liberdade necessários para fortalecer as defesas contra tudo aquilo que ameaça ou possa vir a ameaçar a segurança nacional. Afinal, é a máquina pública como um todo, e não apenas um único indivíduo, que está na linha de frente contra perigos como bioterrotismo, pandemias, desastres naturais, crises econômicas, ameaça nuclear e todo tipo de catástrofe que podemos (ou não) imaginar.

Infelizmente, a atual pandemia de COVID-19 vem demonstrando com clareza a forma como a relação que cada presidente mantém com sua estrutura e seus subordinados impacta diretamente a vida da população, extrapolando até as fronteiras nacionais e gerando implicações em escala planetária. Em um tempo em que somos “cidadãos do mundo”, a leitura de O quinto risco se faz ainda mais primordial.


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