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3 livros essenciais sobre transtornos mentais em tempo de isolamento social

3 / abril / 2020

De repente, de um dia para o outro, nos percebemos lavando, incessantemente, tudo: mãos, braços, cabeças, pés, paredes, sacolas, alimentos e roupas. Diversas vezes ao dia. Durante muito tempo. O espaço tão íntimo e acolhedor da nossa casa virou um lugar de angústia, medo, raiva e tristeza. Os planos, as certezas e as rotinas escorreram pelo ralo junto com toda a sujeira, muitas vezes, invisível, que insistimos, corretamente, em lavar.

Muito se fala da importância do isolamento social para evitar a propagação da doença. Pouco se fala, porém, sobre as questões derivadas e as consequências do estar sozinho, do ficar em casa e de como isso tudo pode afetar a nossa saúde mental. Pensando nisso, separamos três livros lançados pela Intrínseca que tocam em temas como depressão, suicídio e ansiedade, assuntos tão importantes no momento atual.

 

1) Alucinadamente feliz

Um livro engraçado sobre coisas horríveis. É assim que a autora Jenny Lawson descreve a própria história. Depressiva, colecionadora de transtornos mentais, entre eles ansiedade grave, depressão e tricotilomania (compulsão em arrancar cabelos), ela nos mostra que a sua vida, somente por essa perspectiva, poderia parecer um fardo insustentável. Mas não é.

É de uma amiga de Jenny Lawson a incrível Teoria da Colher. Funciona assim: todo dia, você acorda e ganha um monte de colheres. E tudo que você for fazendo até dormir à noite, seja levantar, escovar os dentes, trabalhar e tantas outras coisas, você gasta uma delas. Não é preciso se preocupar com quantas colheres você usa, porque todo dia de manhã chega um novo carregamento. Ou não. A questão é que quando estamos doentes ou passando por situações difíceis, não recebemos o mesmo número de colheres que nos dias normais. E quem tem doenças crônicas ou sofre de transtornos mentais recebe menos ainda, podendo até, em determinados dias, não receber nenhuma nova, descobrindo, ao acordar, que só tem para o dia de hoje as colheres que talvez tenham sobrado do dia anterior.

A Teoria da Colher é só um dos tantos exemplos que Jenny nos dá de sua vida, que parece doida, mas que reflete muito o que passa na cabeça de muitos de nós. A autora descobre uma forma de tentar anular a dor que sente ao querer diariamente – e com a mesma intensidade – ser alucinadamente feliz.

Assim, ela cria uma série de experiências hilárias, ridículas e relacionáveis, a fim de encontrar o caminho de volta à sanidade. Em tempos de isolamento e angústia, Jenny pode nos ensinar a rir de nós mesmos e a encontrarmos um equilíbrio insano para lidarmos com mais uma das consequências imprevisíveis desta epidemia: a forte escassez de colheres no mundo inteiro.

 

2) Razões para continuar vivo

Já sabemos como o COVID-19 mata. Até o momento em que este texto foi escrito são 37.582 mortes em todo o planeta, sendo 159 apenas no Brasil. O que pouco se fala – ainda – é do alto índice de suicídios derivados da epidemia. O terror oprime e todo dia aumenta o número de pessoas que tiraram suas vidas para não ter de enfrentar a doença.

Em Razões para continuar vivo, Matt Haig conta a história de quando quase se matou aos 24 anos. Em meio à neblina da depressão, caminhou até a beirada de um precipício perto da sua casa e tentou reunir a coragem necessária para pular. Mas não..  Em vez disso, recuou e vomitou tudo o que estava sentindo.

Ao intercalar episódios dos anos que sofreu com a depressão e diálogos internos entre o eu do passado e do presente, listas breves das atividades que o ajudaram, tuítes de leitores, além de dados sobre a doença, o autor constrói uma obra única e delicada.

Aos 24 anos Matt achou que não fosse sobreviver. Hoje vive feliz, cercado de pessoas que ama, e fazendo o que mais gosta: escrever. Ele ficou feliz por não ter se suicidado, mas continuou se perguntando se havia alguma coisa que pudesse ser dita às pessoas que estão passando por momento similar ao dele à época. Mais que uma obra de memórias, Razões para continuar vivo é uma análise comovente, atual e necessária de alguém que enfrentou a depressão e aprendeu a conviver com ela.

 

3) O lado bom da vida 

Lançado em 2013 e com mais de seiscentos mil exemplares vendidos só no Brasil, O lado bom da vida narra a história tumultuada de Pat Peoples, um professor que retorna ao lar após passar uma temporada em uma clínica psiquiátrica. Ele acredita que para ter sua vida “normal” de volta precisa seguir uma nova filosofia, que inclui algumas obsessões: entrar em forma, ser gentil e fazer de tudo para se reconciliar com sua ex-mulher, Nikki.

No meio de tudo isso, seu caminho se cruza com o de Tiffany, uma mulher deprimida e instável que perdeu o marido recentemente. Juntos, os dois descobrem coisas em comum, e decidem se apoiar no processo de recuperação. Para isso, ela o convence a participar de um concurso de dança de salão com a justificativa de que trabalhariam melhor a disciplina e o tempo que ambos dispõem.

A obra, adaptada para o cinema pelo diretor David O. Russel, e estrelada por Bradley Cooper, Robert de Niro e Jennifer Lawrence, concorreu em oito categorias do Oscar de 2013, entre elas, melhor filme e melhor atriz, esta última vencida pela atriz.

Problemas para superar o passado, necessidade de controlar o tempo, oscilações de humor e ansiedade. Alguém aí reconheceu alguns destes sintomas olhando para as últimas semanas? O lado bom da vida consegue transmitir com bom humor os momentos tocantes e complicados do dia a dia de quem quer seguir em frente em meio a todas as dificuldades, sejam elas antigas ou muito atuais.

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Comentários

3 Respostas para “3 livros essenciais sobre transtornos mentais em tempo de isolamento social

  1. Gostaria de saber se estes são gratuitos para ler

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