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As mentiras mortais e suas consequências

26 / julho / 2019

A segunda temporada de Big Little Lies chegou ao fim este mês, deixando apenas saudade dos personagens e das crises – algumas hilárias, outras dramáticas, e frequentemente uma mistura dos dois (Renata, te amamos). A primeira temporada da adaptação de Pequenas grandes mentiras, livro de Liane Moriarty, chegou à televisão em 2017 e fez um grande estrondo. As atuações, a direção e a narrativa encantaram a todos, e a produção recebeu seis Emmys. Se você ainda não assistiu à série, cuidado: spoilers a seguir!

Como Big Little Lies foi pensada inicialmente para ser uma minissérie, o que viria na segunda temporada era uma surpresa para leitores e telespectadores. Em outras produções as facetas mais sutis de Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Jane (Shailene Woodley), Bonnie (Zoë Kravitz) e Renata (Laura Dern) passariam despercebidas, mas a série expandiu e aprofundou as terríveis consequências das ações da primeira parte da série, apresentando situações realistas e personagens vulneráveis. 

Pequenas grandes mentiras nos apresentou mulheres aparentemente perfeitas de classe média alta com lindas famílias e sem muitas preocupações além das triviais. Mas, enquanto entramos mais na história, vemos que cada uma delas esconde um segredo, e tudo se torna ainda mais instigante em uma narrativa que alterna presente e passado e indica que um terrível assassinato ocorreu durante a Noite de Trívia na escola das crianças.

Madeline, decidida e enérgica, parece sempre conseguir o que quer, mas vemos que sua relação com a filha adolescente está desgastada e a menina prefere passar os dias com a madrasta Bonnie, fazendo a mãe se sentir constantemente como segunda opção. Celeste é casada com Perry, rico, bem-sucedido e o melhor pai do mundo para seus pequenos gêmeos, mas o homem controlador e violento a agride constantemente. Jane é uma jovem mãe solteira que acaba de se mudar para a cidade buscando melhores escolas para o filho pequeno, mas seu passado esconde um estupro e traumas que a perseguem até hoje.

Todas essas questões são exploradas de forma muito sensível, com um destaque especial para as cenas entre Celeste e a psiquiatra, em que a mulher fala pela primeira vez sobre seu casamento problemático. No último episódio, descobrimos que o terrível acidente é o assassinato de Perry, empurrado de uma grande altura por Bonnie. As cinco mulheres mentem para a polícia e afirmam que foi apenas um terrível acidente.

Em dois anos, o intervalo de tempo que separa as temporadas, a narrativa amadureceu e nos trouxe mais uma vez temas difíceis tratados com muita sensibilidade. Celeste está finalmente livre do marido violento, mas não se sente bem. Seu luto e sua nova vida ainda são um mistério para si mesma. Como ela deve agir depois de tanto tempo vivendo com seu abusador? Seria errado sentir falta dele? Seria errado não sentir falta dele? O processo de recuperação psicológica de vítimas de agressão é complicado e por vezes nebuloso, mas ao longo da temporada vemos como Celeste fica cada vez mais segura.

Jane descobriu a verdadeira identidade de seu agressor, e a culpa e o medo da personagem, tão evidentes na primeira temporada, mudam de ângulo. Seu próximo obstáculo é a dificuldade de se relacionar novamente e se abrir para novas pessoas, principalmente para um novo interesse romântico.

Bonnie não parece ela mesma. Em um estado quase catatônico de culpa pelo assassinato que cometeu, se fecha para todos em sua vida, incluindo o marido e a filha. As cinco mulheres se veem pressionadas pela mentira que contaram, envoltas em sussurros e encontros furtivos, e todos da cidade desconfiam que a noite na escola não foi um acidente. A mentira que parecia a melhor opção acabou trazendo consequências que nenhuma delas imaginava. Mary Louise, a mãe de Perry, acusa Celeste de matar o marido, e a briga entre as duas atinge o ápice quando a avó tenta ficar com a guarda das crianças. Inclusive, um destaque da segunda temporada é a brilhante atuação de Meryl Streep, que deixa os espectadores sem fôlego sempre que entra em cena. Amamos odiar a terrível e ácida sogra, sempre com um veneno velado na boca.

Se na primeira temporada investigamos as mentiras que compõem o mosaico da vida das personagens de Pequenas grandes mentiras, na segunda, entendemos as consequências de contar essas meias-verdades por muito tempo, os traumas, decepções e dificuldades que formam uma gigantesca bola de neve, nos perseguindo incessantemente até enfim desistirmos e sermos levados por ela.


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