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Trecho de O desaparecimento de Stephanie Mailer

9 / janeiro / 2019

O escritor suíço Joël Dicker, conhecido pelo sucesso de A verdade sobre o caso Harry Quebert, está de volta com o seu novo romance policial: O desaparecimento de Stephanie Mailer.

Dessa vez, uma pacata cidade balneária dos Hamptons é abalada por um crime horrível: o prefeito e sua família são brutalmente assassinados, assim como uma outra moradora da região. Dois jovens policiais, Jesse Rosenberg e Derek Scott, conseguem solucionar o caso e colocar o responsável atrás das grades, encerrando as investigações.

No entanto, tudo muda quando, vinte anos mais tarde, a jornalista Stephanie Mailer aparece com novas informações sobre o crime. Poucos dias depois, ela desaparece misteriosamente e os policiais precisarão reabrir o caso para enfrentar segredos enterrados há décadas.

O livro foi escolhido para ser o primeiro do clube intrínsecos e muitos leitores já se apaixonaram por esse mistério! Por isso, leia um trecho e desvende esse caso também:

 

“Jesse Rosenberg

Segunda-feira, 23 de junho de 2014

33 dias antes da abertura do 21º festival de teatro de Orphea

 

A primeira e última vez que vi Stephanie Mailer foi quando ela participou da pequena recepção organizada para comemorar minha saída da polícia do estado de Nova York.

Naquele dia, um grande número de policiais de todas as brigadas se reuniu sob o sol do meio-dia diante do palanque de madeira que era montado para ocasiões especiais no estacionamento do centro regional da polícia estadual. Eu estava no palanque ao lado do meu superior, o major McKenna, que havia sido meu comandante ao longo de toda a minha carreira e me fazia uma homenagem.

— Jesse Rosenberg é um capitão jovem, mas, visivelmente, está com pressa de ir embora — disse o major, suscitando risadas no público. — Nunca imaginei que ele partiria antes de mim. A vida tem dessas: todo mundo queria que eu fosse embora, e continuo aqui. Todo mundo queria que Jesse ficasse, mas ele vai embora.

Eu tinha 45 anos e deixava a polícia sereno e feliz. Após 23 anos de serviço, me decidira pela aposentadoria à qual agora tinha direito, a fim de concluir um projeto que me motivava havia muito tempo. Eu ainda tinha uma semana de trabalho até o dia 30 de junho. Depois disso, começaria um novo capítulo da minha vida.

— Lembro-me do primeiro caso complicado de Jesse — prosseguiu o major. — Um quádruplo homicídio horrível, que ele resolveu brilhantemente, quando ninguém na brigada o julgava capaz disso. Ainda era um policial bem jovem. A partir desse momento, todos ficaram cientes de como Jesse é de fato. Todos que conviveram com ele sabem que foi um investigador excepcional. Acho que posso dizer, inclusive, que foi o melhor de todos nós. Nós o apelidamos de “Capitão 100%”, por ter resolvido todas as investigações de que participou, o que faz dele um investigador único. Policial admirado pelos colegas, perito respeitado e instrutor da academia de polícia durante muitos anos. Deixe-me lhe dizer uma coisa, Jesse: faz vinte anos que sentimos inveja de você!

A plateia riu novamente.

— Ainda não entendemos direito esse seu novo projeto, mas desejamos-lhe boa sorte na empreitada. Saiba que sentiremos sua falta, a polícia sentirá sua falta e, sobretudo, nossas mulheres sentirão sua falta, pois passavam as festinhas da polícia devorando-o com os olhos.

Uma chuva de aplausos se seguiu ao discurso. O major me deu um abraço amistoso, depois eu desci do palanque para cumprimentar todos os amigos presentes antes que eles corressem para o bufê.

Sozinho por um instante, fui então abordado por uma mulher muito bonita, na casa dos 30 anos, que eu não me lembrava de ter visto antes.

— Então o senhor é o famoso Capitão 100%? — perguntou ela com um

tom sedutor.

— Parece que sim — respondi, sorrindo. — Por acaso nos conhecemos?

— Não. Meu nome é Stephanie Mailer. Sou jornalista do Orphea Chronicle.

Trocamos um aperto de mão. Então ela continuou:

— Vai ficar chateado se eu o chamar de Capitão 99%?

Franzi a testa.

— Está insinuando que não resolvi algum dos meus casos?

Como resposta, ela tirou da bolsa a fotocópia de um recorte do Orphea Chronicle de 1º de agosto de 1994 e a passou para mim.

 

CHACINA EM ORPHEA:

PREFEITO E SUA FAMÍLIA SÃO ASSASSINADOS

Sábado à noite, o prefeito de Orphea, Joseph Gordon, sua mulher e seu filho, de apenas 10 anos, foram mortos a tiros dentro de casa. A quarta vítima do homicídio chama-se Meghan Padalin, de 32 anos. A mulher fazia sua corrida diária quando os fatos ocorreram e provavelmente foi uma desafortunada testemunha do crime. Acabou assassinada por disparos vindos da rua, em frente à casa do prefeito.

 

Ilustrando a matéria, havia uma foto minha e de meu parceiro na época, Derek Scott, no local do crime.

— Aonde pretende chegar? — perguntei.

— O senhor não resolveu esse caso, capitão.

— Será que estou ouvindo direito?

— Em 1994, o senhor se enganou quanto ao culpado. Achei que gostaria

de saber disso antes de deixar a polícia.

Logo pensei numa brincadeira de mau gosto dos meus colegas, até perceber

que Stephanie estava muito séria.

— Por acaso está fazendo uma investigação por conta própria? — questionei-a.

— De certa maneira, capitão.

— De certa maneira? Terá de falar um pouco mais sobre isso se quiser que eu acredite no que está dizendo.

— Estou falando a verdade, capitão. Tenho um encontro daqui a pouco em que talvez eu consiga uma prova irrefutável.

— Encontro com quem?

— Capitão — disse ela num tom divertido —, não sou uma iniciante.

Esse é o tipo de furo que um jornalista não quer correr o risco de perder. Prometo dividir minhas descobertas com o senhor na hora certa. Enquanto isso, tenho um favor a lhe pedir: gostaria de ter acesso aos arquivos da polícia estadual.

— Chama isso de favor? Para mim é chantagem! — rebati. — Primeiro me fale sobre sua investigação, Stephanie. São alegações muito graves.

— Tenho consciência disso, capitão Rosenberg. E por isso mesmo não pretendo ser superada pela polícia estadual.

— Lembro que a senhorita tem o dever de compartilhar com a polícia todas as informações importantes que obtiver. Está na lei. Eu também poderia ordenar uma averiguação no seu jornal.

Stephanie pareceu decepcionada com a minha reação.

— Então azar, Capitão 99% — respondeu ela. — Supus que isso pudesse interessá-lo, mas o senhor já deve estar pensando na sua aposentadoria e nesse novo projeto que o major mencionou no discurso. Do que se trata? Dar uma ajeitada em algum barco velho?

— Isso não é da sua conta — rebati secamente.

Ela deu de ombros e fez menção de partir. Eu tinha certeza de que estava blefando, e, de fato, ela parou após alguns passos e se virou na minha direção.

— A resposta estava na sua cara, capitão Rosenberg. O senhor simplesmente não a enxergou.

Eu me senti ao mesmo tempo intrigado e irritado.

— Não sei se estou entendendo, Stephanie.

Ela então ergueu a mão e a posicionou na altura dos meus olhos.

— O que está vendo, capitão?

— Sua mão.

— Eu mostrei os dedos — corrigiu ela.

— Mas eu vejo sua mão — repliquei, sem compreender.

— Esse é o problema. O senhor viu o que queria ver, e não o que estavam lhe mostrando. Foi isso que o senhor deixou escapar há vinte anos. Foram suas últimas palavras. Ela foi embora, me deixando com seu enigma, seu cartão de visita e a fotocópia da reportagem.

Ao avistar Derek Scott junto ao bufê, meu ex-parceiro que agora vegetava na divisão administrativa, corri até ele e mostrei o recorte de jornal.

— Você continua igual, Jesse — disse ele, sorrindo, divertindo-se ao ver aquela matéria tão antiga. — O que aquela mulher queria com você?

— É uma jornalista. Segundo ela, a gente errou feio em 1994. Ela afirma que na verdade não solucionamos a investigação, pois nos enganamos de culpado.

— O quê? — Derek parecia surpreso. — Mas isso não faz sentido.

— Eu sei.

— O que ela disse exatamente?

— Que a resposta estava na nossa cara e que não a enxergamos.

Derek ficou perplexo. Também aparentava estar abalado, mas decidiu afastar essa ideia da mente.

— Não acredito em nada disso — concluiu ele, resmungando. — É só uma jornalista de segunda categoria que quer se promover às nossas custas.

— É, pode ser — respondi, pensativo. — Mas pode ser que não.

Ao vasculhar o estacionamento com o olhar, vi Stephanie entrar em seu

carro. Ela me fez um sinal e gritou:

— Até logo, capitão Rosenberg!

Mas não houve ‘até logo’.

Porque foi nesse dia que ela desapareceu.”


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