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Criador de Avatar fala sobre a representatividade LGBTQIA+ em A lenda de Korra

24 / fevereiro / 2023

Novo quadrinho da série animada explora casal sáfico

Em 2012, a Nickelodeon lançava A lenda de Korra, uma série do universo Avatar ambientada setenta anos após os acontecimentos de Avatar: A lenda de Aang. Na animação, acompanhamos a nova reencarnação do único ser capaz de dominar os quatros elementos da natureza: água, fogo, ar e terra.

Por quatro temporadas, Korra enfrentou inimigos que tentaram retirar sua habilidade de dobrar os quatro elementos, explorar o poder do mundo espiritual e instaurar sistemas similares ao fascismo. Tudo isso enquanto sofria severas consequências de guerras anteriores, como envenenamento e transtorno de estresse pós-traumático.

Seja em batalhas no mundo físico ou espiritual, Korra sempre contou com seu grupo de amigos para ajudá-la: Mako, Bolin e Asami. Mas, ao longo das últimas temporadas da série animada, a amizade entre Korra e Asami começou a se transformar em um romance — que foi confirmado na cena final da série, quando as duas entram de mãos dadas no portal.

Com essa cena, que foi ao ar em 2014, Korra e Asami se tornaram um dos primeiros casais LGBTQIA+ a protagonizar um desenho animado voltado para o público infantil.

Agora, chega ao Brasil o quadrinho A lenda de Korra: guerra territorial, em que vemos mais um grande passo em relação à representatividade. Nesta edição, que reúne as três partes de Guerra territorial, Korra e Asami voltam de suas férias no mundo espiritual e precisam enfrentar embates políticos que ameaçam a Cidade República e o difícil equilíbrio entre os dois mundos. Além disso, precisam se ambientar a nova rotina de seu relacionamento.

No prefácio da HQ, um dos criadores de Avatar, Michael Dante DiMartino, fala sobre a importância de trazer mais histórias como a de Korra e Asami, que agora podem ser abertamente um casal, e como isso tem um impacto positivo na vida e nas experiências dos leitores. Confira o prefácio na íntegra:

 

Prefácio

por Michael Dante DiMartino

No último episódio de A lenda de Korra, que foi ao ar em 2014, Korra e Asami atravessam o portal do mundo espiritual de mãos dadas, prontas para encarar uma nova aventura como um casal. A cena foi muito mais que apenas o típico final feliz em que duas personagens queridas pelo público ficam juntas. Para os fãs LGBTQIA+, significou representatividade.

Seis meses depois, a Dark Horse propôs que continuássemos A lenda de Korra no formato de histórias em quadrinhos. Agarrei de imediato a oportunidade de escrever os roteiros. Como todo mundo, queria saber o que tinha acontecido com Asami e Korra depois de terem passado pelo portal. E agora essa história poderia ser contada.

Para mim, não havia dúvida de que a HQ deveria começar logo após o fim da série animada, para que víssemos o início do relacionamento romântico entre Korra e Asami. Se a história avançasse demais para o futuro, o público perderia os primeiros problemas enfrentados pelo jovem casal, situações pelas quais todos já passamos. O desafio era equilibrar a alegria e o romance do namoro com os conflitos pessoais das duas. Não queria que o relacionamento fosse livre de qualquer obstáculo, mas também não desejava sobrecarregá-lo com conflitos demais.

Outra questão com a qual tive dificuldade foi pensar na melhor maneira de aprofundar a história das pessoas LGBTQIA+ no universo Avatar. Foi bastante complicado, para ser sincero. Não queria que a narrativa fosse uma longa e maçante aula de história, mas era essencial reconhecer como indivíduos LGBTQIA+ foram tratados no passado, sobretudo porque nunca abordamos abertamente esse assunto na animação. Depois de conversar com Bryan Konietzko, chegamos à conclusão de que a melhor opção era representar a comunidade pelos olhos das diferentes culturas do mundo Avatar. Em Guerra territorial, não criei um pano de fundo histórico tão extenso quanto gostaria, mas o quadrinho oferece um contexto que poderá ser expandido em futuros projetos.

Fico grato, para dizer o mínimo, com o entusiasmo com que o final da série animada e Guerra territorial foram recebidos. Sempre soube que a diversidade na mídia era importante, mas, após ouvir diversos relatos sobre como o relacionamento de Korra e Asami inspirou tantos jovens a se assumirem para amigos e familiares, ou simplesmente que foi um lembrete de que eles não estavam sozinhos, senti isso de forma mais profunda. Essa é a confirmação da enorme influência que as histórias e a mídia têm na nossa cultura. Quando usados de maneira positiva, um personagem ou uma narrativa podem mudar a vida de uma pessoa.

Desde o final de A lenda de Korra, alguns anos atrás, a representatividade LGBTQIA+ na mídia evoluiu. A cada ano vemos histórias mais diversas, mas ainda não estamos nem perto do ideal. Espero que, nesse aspecto, A lenda de Korra e Guerra territorial continuem a estimular mais pessoas a criar essas narrativas.

Agradeço a Dave Marshall, a Rachel Roberts e a todo o pessoal da Dark Horse Comics. Obrigado a editora Joan Hilty por seus comentários perspicazes e prestativos sobre a narrativa. Agradeço a Irene Koh pelo trabalho incrível na arte e por graciosamente levar em consideração todos os meus pedidos. E agradeço também a Killian Ng pelas lindas cores. E a Bryan, meu irmão de Avatar, que foi um ótimo crítico e conselheiro durante todo o processo de escrita.

— Michael Dante DiMartino
Outubro de 2018


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