Em um curto espaço de tempo, passei duas vezes pelo Jockey Club de São Paulo, por coincidência, em dois sábados. E foi com tristeza que vi as arquibancadas vazias. O mesmo acontece no Rio de Janeiro, pouco importa o dia – quinta, sexta, sábado ou domingo. Ninguém mais liga para corridas de cavalo. Nunca apostei nem sei a diferença entre uma aposta na dupla ou num placê, mas sempre amei o clima do entorno do Hipódromo da Gávea, em especial nos dias de Grande Prêmio.
Por décadas seguidas, mais especificamente entre 1933 e 2014, realizou-se em agosto no Rio de Janeiro, sempre no primeiro domingo do mês, o mais importante encontro do turfe nacional e mais sofisticado evento esportivo do país: o Grande Prêmio Brasil. A prova foi idealizada por Linneu de Paula Machado, casado com Celina Guinle, como pretexto para reunir os melhores animais brasileiros. Nos últimos anos, o páreo passou a ser disputado em julho.
O ápice da festa se dava nas arquibancadas do Hipódromo, particularmente nas “sociais”, setor reservado aos sócios do Jockey. Em geral, a prova era disputada com a presença do presidente da República, o que já causava burburinho. Como nessa época do ano a temperatura no Rio é amena, as mulheres aproveitavam para trajar estolas, peles e chapéus. Esse desfile do grand monde ajudava a glamourizar o encontro dos amantes do esporte.
Ao longo da história do GP Brasil, alguns personagens viraram lenda. Foi o caso do jóquei Juvenal Machado da Silva, que venceu cinco vezes o torneio (1979, 1982, 1986, 1987, 1990). Sua fama ficou imortalizada pelo bordão do locutor Hernani Pires Ferreira: “E lá vem o Juvenal.” Outro que fez história foi o treinador Ernani de Freitas, com seis vitórias (1939, 1943, 1944, 1947, 1948, 1975). Como os proprietários do Haras São José & Expedictus e os do Stud Linneo de Paula Machado são descentes de Linneu, temos uma única família detentora de seis vitórias, já que o Expedictus foi campeão em 1975, 1979 e 1985; e o Stud, em 1944, 1947 e 1948.
Não sei o motivo da decadência do turfe nacional. Mesmo não tendo frequentado hipódromos, sinto certa nostalgia do encanto do GP Brasil, com a transmissão da prova pela televisão, as complicações no trânsito da Zona Sul e as reportagens na imprensa falando das mulheres com casacos de pele e chapéus. Muitos chapéus.
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