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Vamos falar sobre Loney

30 / junho / 2016

Por Josh Malerman*

Minha citação favorita sobre Loney eu li na Emerald Street, uma revista do Reino Unido, e diz o seguinte:

“É raro que um livro faça você suspirar de encantamento com cada frase enquanto, ao mesmo tempo, fica pensando se suas janelas estão bem trancadas, e Loney é perfeito nesse e em muitos outros aspectos.”

Li isso quando estava na metade do livro e fiquei louco. Claro, pensei, essa frase resume tudo. Qualquer palavra a mais é dispensável. Porém, como todos nós amamos palavras a mais, vamos falar sobre Loney.

loneygrandeUm romance com verdadeira poesia. Praticamente em todas as linhas. A sensação, na maioria das vezes, é de estar escutando a história da boca de um sábio ancião que a guardou por toda a vida, à espera do momento exato (o clima, talvez) de passá-la adiante. É um livro em que você consegue ouvir o silêncio! Consegue ouvir a calma que Andrew Michael Hurley deve ter buscado antes de escrever, como se ao final de cada página ele tenha parado, se recostado e olhado o papel por longos minutos, permitindo que a quietude de seu escritório impregnasse profundamente a folha entre cada uma das letras que davam forma à narrativa que ele estava criando.

O horror silencioso. É provável que você já tenha ouvido esse termo antes, e, se não ouviu, ouvirá com relação a Loney. Na teoria, livros de horror são ou estridentes (um maníaco com uma chave inglesa invade um convento) ou silenciosos (os lamentos de um fantasma, sussurros na noite). E é mesmo possível classificá-los desse modo, não é nem ao menos trabalhoso. Obviamente, a maioria dos grandes livros está em algum lugar entre essas duas categorias. Em Loney, porém, a questão que se levanta é ainda maior. A pergunta em Loney é… O que causa o barulho, para começo de conversa?

Na minha opinião, o personagem mais esquecido, mais menosprezado no horror é seu personagem principal, a peça central de qualquer história assustadora: o medo. Sim, o medo em si é a figura primordial porque, sem ele, o clima, o desenvolvimento, as tramas e o cenário, nada vai funcionar como deveria. (Imagine ler O bebê de Rosemary como um drama, despojado de todo o medo.) O fato de ter em mãos um conto gótico (no caso de Loney, todos o têm classificado assim, e não há por que discordar) já coloca você à espera de algo sobrenatural. Ou algo assustador, pelo menos. Não se pode menosprezar isso. Porque esse personagem silencioso (O MEDO) tem ele próprio uma voz. E o silêncio aterrorizante que espera por você em Loney é magnífico. É mais forte que Hanny, que o Padre Bernard, mais forte que qualquer umas das paisagens rurais inglesas que preenchem as páginas como pinturas.

É como música para os meus ouvidos de leitor.

Loney é assim.

Minha vontade é falar muito mais. Mas, como com a maioria dos meus livros favoritos, acho que o melhor é dizer apenas:

Loney é um livro sensacional. Leia. Depois me escreva on-line se quiser conversar mais. Porém, até ter lido, até ter experimentado você mesmo o ritmo, a poesia e (sim) o medo que vai sentir, não podemos falar mais.

Loney vai pegar você em silêncio, e você estará esperando por isso tão cegamente que só vai perceber depois que já tiver sido tomado pelo horror. E no final vai pensar: Como eu pude não ver isso acontecendo?

 

 

Josh Malerman é autor de Caixa de pássaros. Ele também é cantor e compositor da banda de rock High Strung e gosta de escrever ao som de trilhas sonoras de filmes de terror, como Grito de horror e Creepshow – Arrepio do medo. Mora em Ferndale, Michigan, com a noiva.

Comentários

Uma resposta para “Vamos falar sobre Loney

  1. Minha duvida em relação a loney é: Não ler ou ler e ficar assombrada durante meses? :S

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