Clóvis Bulcão

Os Guinle e o Teatro Tablado II

23 / novembro / 2015

Pluft o Fantasminha 1955 - Pluft e Maribel

Pluft o Fantasminha 1955 – Pluft e Maribel

Existe no Rio de Janeiro, no bairro da Lagoa, área nobre da cidade, uma instituição beneficente bastante conhecida chamada Patronato Operário da Gávea. Fundada em 1929, aos poucos o Patronato foi ampliando suas atividades mais imediatas e construindo creche, ambulatório e capela. Em 1951, a jovem dramaturga e atriz Maria Clara Machado criou um novo braço dessa instituição — um grupo de teatro amador que se tornaria famoso em todo o país: O Tablado.

Em seus primeiros anos de vida, quando ainda era associado ao Patronato, O Tablado sobrevivia com alguma dificuldade. Por isso, em fevereiro de 1955, sua fundadora iniciou uma campanha pela imprensa para arrecadar fundos. Por coincidência, na mesma época, o suntuoso teatro do Copacabana Palace seria reaberto, após um incêndio, e Octávio Guinle, proprietário do hotel Copacabana Palace, não poupava esforços para transformar o espaço na mais moderna e bem equipada sala de espetáculos da cidade, com ar-condicionado central inclusive.

A notícia da reabertura do teatro causou certa disputa no meio artístico: quem estaria no palco na noite de estreia? O primeiro nome cogitado foi a da grande dama do teatro brasileiro, Henriette Morineau, com o Grupo Artistas Unidos. Depois os jornais começaram a falar em Sérgio Britto e sua trupe, o Teatro dos 7. Só a peça estava definida: Diálogo das Carmelitas, do francês Georges Bernanos. E a montagem seria uma superprodução com um elenco de mais de trinta atores. A companhia Artistas Unidos acabou sendo a escolhida.

Preterida para o papel principal, Henriette Morineau resolveu não participar do espetáculo, alegando desentendimentos com Carlos Brant, empresário do grupo. Foi assim que dois nomes emergiram nas apostas: o de Maria Clara Machado e o de Ana Edler. Maria Clara, afinal, foi a eleita.

Com a data de estreia definida, 23 de abril de 1955, outra disputa teve início: que instituição beneficente seria agraciada com a renda da bilheteria? Tudo apontava na direção da Escola Apostólica Dominicana de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Mas, na hora de bater o martelo, Octávio Guinle optou pelo Patronato da Gávea.

Ter participado como atriz principal dessa produção no imponente teatro do Copacabana Palace, alterou completamente a vida profissional de Maria Clara Machado, cuja carreira até então estava vinculada basicamente ao teatro infantil amador do Tablado. A imprensa passou a tratá-la com respeito e acabaram até surgindo rumores de que ela poderia aparecer de biquíni em um show de revistas de Carlos Machado.

Muito anos mais tarde, em 1981, Madame Morineau estava em cartaz no Teatro Villa-Lobos, em Copacabana, com a peça Ensina-me a viver, de Colin Higgins. Com direção de Domingos de Oliveira, participação de Diogo Vilela e Nathália Timberg, a produção comemorava os 50 anos de atividades da veterana atriz. No meio da temporada, no entanto, ela ficou doente e foi substituída (novamente) por Maria Clara Machado, que não atuava profissionalmente desde 1961.

Tive a sorte de ter testemunhado um dos momentos mais emocionantes da história do teatro brasileiro.

Leia também: Os Guinle e o Teatro Tablado I

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