Bastidores

As delicadas formas de pensar

31 / agosto / 2015

Por Rebeca Bolite*

bradley_o lado bom da vida

Bradley Cooper em cena do filme “O lado bom da vida”

Quando começamos a editar O lado bom da vida, a única coisa que eu sabia a respeito do livro é que estava sendo produzida uma adaptação cinematográfica com Bradley Cooper como protagonista (ele é lindo demais, né?). O trabalho já tinha então um lado bom (ho ho): imaginar Pat Peoples com o rostinho de Bradley. Mas, depois de iniciada a produção do livro, percebi que Pat nem precisava de um rosto tão bonito assim para ser sensacional. Em toda sua confusão, ele é um personagem incrivelmente simpático, carismático e doce. Trabalhar no texto durante aquele período foi muito gratificante.

capa_A sorte do agora_PT-BR.inddCerca de dois anos depois, outro livro do Matthew Quick veio parar na minha mesa: A sorte do agora. Só pelo título, eu já estava encantada. Bartholomew Neil não tinha o rosto do Bradley Cooper, mas foi capaz de me conquistar já na orelha da capa. Com quase 40 anos, logo depois de a mãe morrer, ele encontra uma carta do Richard Gere na gaveta de calcinhas dela e começa a se corresponder com o ator em busca de conselhos. O personagem não poderia ser mais delicado e singular: solteiro, cuidou da mãe a vida inteira, até a morte dela, e agora precisa aprender a viver sozinho e seguir em frente, fazer os próprios amigos e construir sua família. Em cartas comoventes e muito francas para Richard Gere, ele narra todo o percurso para ser bem-sucedido nessa missão.

Pat Peoples e Bartholomew Neil têm muitas diferenças: o primeiro é bonitão (ele é o Bradley, gente!) e tem muitos familiares e amigos com quem pode contar no seu processo de recuperação, enquanto o outro faz o estilo solteiro, quarentão e gordinho e só agora está formando seu círculo de amizades. Mas algo mais importante os aproxima: a forma singular de pensar e estabelecer relações. Os dois são narradores da própria história, uma história marcada por experiências traumáticas e dificuldades, as quais precisam superar para que tenham um final feliz. E é da perspectiva deles que temos o privilégio de experimentar sentimentos tão profundos quanto delicados.

Ao finalizar a leitura, fiquei então pensando como em geral as pessoas têm tido dificuldade em compreender que cada um tem uma história de vida, uma forma de pensar, e que é preciso se colocar no lugar do outro antes de julgar suas visões e experiências. Algumas redes sociais viram verdadeiros campos de batalha (para os de coração fraco, fica sempre a dica: não leiam os comentários), muito xingamento, pouco argumento e no final a sensação de que ninguém está lendo nada. Só se odiando mesmo. Nesse sentido, acredito que a literatura tenha um poder transformador. Ao nos permitir viver diferentes situações a partir de variados pontos de vista, os livros nos tornam seres humanos mais aptos a praticar a empatia e melhoram nossa noção de alteridade. Eles nos fazem entender que cada pessoa é única em sua forma de sentir e pensar e que não é porque alguém acha determinada coisa fácil, simples, que o outro precisa achar também.

RICHARD GERE

Dessa forma, tanto O lado bom da vida quanto A sorte do agora são livros sensacionais, que, além de divertir, fazer chorar e rir, também proporcionam a oportunidade de ver o mundo através dos olhos de adultos com muitas falhas e dificuldades, aprendendo ou reaprendendo a se relacionar, e ainda assim tão belos em suas esforçadas tentativas.

Minha esperança é a de que todas as pessoas tenham a chance de ler esses e os outros livros do Quick e refletir sobre o próprio comportamento (na internet e na vida), se esforçar para julgar menos e ter mais empatia. Somos 7 bilhões já, gente, dividindo um espaço que está ficando cada vez mais apertado. É melhor caminharmos todos juntos em paz, né?, buscando novas alternativas para essa vida tão autocentrada. No final das contas, acho que fiz só um discurso de Miss Universo, mas a conclusão é a seguinte: por um mundo mais pacífico, com mais filmes com Bradley Cooper e mais livros do Matthew Quick.

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Rebeca Bolite é editora de livros de ficção estrangeira na Intrínseca e, como Pat Peoples, está sempre procurando o lado bom das coisas.

Comentários

10 Respostas para “As delicadas formas de pensar

  1. Muito bom o texto! Fiquei interessada em ler o livro! Por mais pessoas otimistas no mundo que possam ver o lado bom da vida!

  2. adorei seu texto, vou comprar A sorte do Agora”, deve ser tão bom como O lado bom da vida”. Parabéns e obrigada.

  3. Adorei vou comprar A sorte do agora. Obrigada pela dica!

  4. Adorei seu texto vou comprar A sorte do Agora obrigadaz

  5. Já tive o prazer de ler dois livros do Quick: O Lado Bom Da Vida e Perdão,Leonard Peacock. E as duas experiências foram (e ainda são) sensacionais, assim mudando a minha percepção do que é a vida ^^ .

  6. Concordo com vc… Os dois livros muito nos envolvem. Histórias distintas mas q reconhecemos dentro de nós! Indico à todos. São ótimas leituras.

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