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Leia um trecho de Pageboy, livro de memórias de Elliot Page

6 / junho / 2023

O emocionante livro de memórias de Elliot Page já está entre nós!

Repleto de detalhes de bastidores do cinema e de questionamentos íntimos sobre sexo, amor, traumas e Hollywood, Pageboy é a história de uma vida que chegou ao limite. Em essência, uma narrativa emocionante sobre a trajetória sinuosa de uma pessoa queer e trans que lutou para se desvencilhar das expectativas dos outros. Contada de forma visceral, em que o leitor quase ouve a voz de Elliot, é uma celebração ao ato de assumir quem realmente somos com rebeldia, força e alegria.

O astro do cinema, conhecido por papéis como Juno e The Umbrella Academy, pode, agora, finalmente, contar a sua própria história.

Você pode conferir um trecho inédito do livro aqui:

Durante muitos anos pensei em escrever um livro, mas nunca pareceu o momento certo e, para ser sincero, não parecia algo possível. Eu mal conseguia ficar sentado quieto, muito menos permanecer assim por tempo suficiente para concluir uma tarefa dessas. A energia de meu cérebro estava se esvaindo num pinga-pinga infindável enquanto tentava lidar com meu desconforto e controlá-lo. Mas agora é diferente. Enfim consigo ficar sozinho comigo mesmo, neste corpo, presente… digitando por horas, meu cachorro Mo relaxando ao sol, minhas costas mais retas, minha mente mais calma. Esse nível de contentamento não seria possível sem os tratamentos médicos que recebi, e, à medida que aumentam os ataques contra os cuidados afirmadores de gênero, junto aos esforços de pessoas cisgêneras para nos silenciar, senti que era o momento ideal para colocar em palavras o que eu sentia.

Então aqui estou eu, grato e apavorado, escrevendo em especial para você que está lendo. Pessoas trans são alvo de violência física crescente e nossa humanidade é “debatida” na mídia. E, quando temos a oportunidade de contar nossa história, narrativas queer são com frequência editadas, ou pior, universalizadas: uma única pessoa se torna porta-voz da verdade. Há infinitas maneiras de ser uma pessoa queer e de ser trans, e minha história diz respeito apenas a uma delas. Como digo mais à frente neste livro, não somos nada além de um pontinho no universo, e espero que, ao contar minha história, eu consiga fazer com que ela contribua com o combate à desinformação sobre vidas trans e queer. Sugiro que você procure outras dentre as extensas e variadas narrativas de autores, ativistas e pessoas LGBTQIA+, caso ainda não o tenha feito. O movimento para a libertação de pessoas trans afeta a todos nós. Todo mundo passa por euforia e opressão de gênero de maneiras diferentes. Como Leslie Feinberg escreve em Trans Liberation: Beyond Pink or Blue [Libertação trans: além do rosa ou do azul], “esse movimento lhe dará mais espaço para respirar — para ser você. Para descobrir verdadeiramente o que significa ser você”.

Para escrever esta história, tentei ao máximo me recordar de cada momento de minha transição. Quando não consegui me lembrar dos detalhes, consultei outras pessoas que passaram pela mesma experiência para elucidar melhor as coisas. Alguns nomes foram mudados e informações específicas foram alteradas para proteger a identidade de certas pessoas. Em alguns momentos, usei meu nome morto[*] e os antigos pronomes de tratamento para falar sobre mim, apenas em ocasiões anteriores à transição. Tomei essa decisão porque pareceu o mais adequado para mim, mas não é um convite ou uma autorização para que você também o faça. É importante ter em mente que, ainda que em minha vida identidade de gênero e sexualidade sempre tenham dialogado, são coisas distintas. Me afirmar como lésbica e me afirmar como trans foram experiências completamente diferentes, e cresci muito depois de me libertar da expectativa alheia. Estas memórias formam uma narrativa não linear porque ser queer é intrinsecamente não linear, são jornadas que convergem e dialogam entre si. Dois passos para a frente, um passo para trás. Passei parte de minha vida em busca da verdade, ao mesmo tempo que estava morrendo de medo de desmoronar. Isso se revela em minha escrita de maneira intencional. De várias formas, este livro é a história de minha autodescoberta.

O ato de escrever, ler e compartilhar a multiplicidade de nossa experiência é um passo importante para lutar e resistir contra aqueles que querem nos silenciar. Não tenho nada profundo a dizer, nada que já não tenha sido dito antes. Mas os livros me ajudaram, até me salvaram, então talvez este aqui possa ajudar alguém a se sentir menos só, a se sentir visível, não importa quem esse alguém seja ou qual seja sua jornada. Obrigado por ler sobre a minha.


[*] A expressão “nome morto” é utilizada por algumas pessoas trans para se referir ao nome pelo qual eram conhecidas antes da transição de gênero. [N. da E.]

Se ficou com vontade de ler mais esse emocionante relato de um dos maiores porta-vozes da comunidade trans, conheça Pageboy, disponível nas principais livrarias e lojas on-line!


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