testeUma tragédia épica: a guerra sem vencedores

Ao longo do século XX, o Vietnã teve sua história marcada por diversos conflitos armados e guerras contra grandes potências mundiais. No primeiro desses embates, a Guerra da Indochina, os vietnamitas enfrentaram as forças francesas para conseguir sua independência. A batalha durou oito anos e deixou mais de 500.000 vítimas, a maioria do próprio Vietnã.

Embora a vitória tenha concedido a soberania nacional, o cenário polarizado da Guerra Fria contribuiu para que o Vietnã sofresse um novo golpe e tivesse seu território dividido em duas repúblicas: o Vietnã do Norte, comunista e comandado pelo grupo revolucionário que lutou na Guerra da Indochina; e o Vietnã do Sul, capitalista, com forte influência norte-americana e governado de forma autoritária por Ngo Dinh Diem.

Quando o governo do Sul se recusou a participar das eleições que reunificariam o país, alegando não acreditar na capacidade do governo do Norte em conduzir eleições livres, o país se viu imerso em um novo conflito. Temendo uma possível vitória do grupo comunista, os Estados Unidos decidiram entrar oficialmente na guerra, dez anos após seu início, e enviaram milhares de soldados e armamentos para um Vietnã já fragilizado pelos conflitos internos. 

Com resultados até hoje desconhecidos para grande parte do mundo ocidental, a Guerra do Vietnã foi um dos eventos mais polêmicos do século XX. As perdas humanas, compostas majoritariamente por vietnamitas, ficaram na casa dos milhões, e as consequências psicológicas para a população foram imensuráveis.

Em seu novo livro, Vietnã, o jornalista e historiador Max Hastings reconstrói essa trágica história e narra com detalhes os eventos ocorridos entre 1945 e 1975. Dando voz a uma vasta gama de personagens reais, Hastings questiona se algum dos lados merecia mesmo ter saído vencedor. 

Perfeito para quem gosta de mergulhar nos eventos históricos, Vietnã, do mesmo autor de Inferno e Catástrofe, chega às livrarias a partir de 13 de dezembro.

testeYung Pueblo: autoajuda para o século XXI

*Por Gabriel Trigueiro

A autoajuda quase sempre experimentou um sucesso popular e comercial considerável, embora seu prestígio intelectual costume ser inversamente proporcional ao sucesso. A primeira geração de modernistas não só considerava o gênero vulgar, como também o tornou alvo de piadas, satirizando o excesso de didatismo e a instrumentalidade da literatura de autoajuda. É o caso de How Should One Read a Book? [Como se lê um livro?], de Virginia Woolf, e ABC of Reading [O ABC da escrita], de Ezra Pound, por exemplo.

Por isso, foi grande a surpresa quando a biblioteca pessoal do escritor norte-americano David Foster Wallace, um dos maiores do século XX, foi doada à Universidade do Texas e nela foi encontrada uma boa quantidade de livros de autoajuda. Em todos eles, inúmeras anotações nas margens, rabiscos, setinhas, referências e paráfrases, quase como se o autor estivesse em diálogo constante com as questões e os problemas apresentados nas obras.

Nada estranho para alguém que sempre se ocupou daquilo que é humano e do poder da literatura de nos tornar menos sós e, quem sabe, até mesmo pessoas melhores. Mesmo assim, o acervo surpreendeu críticos e especialistas conceituados, principalmente os tidos como os guardiões do bom gosto, que sempre torceram o nariz para a autoajuda como gênero.

Mas o engraçado é que, quando você lê Graça infinita, por exemplo, a obra-prima de Wallace, um romance pós-moderno publicado em 1996 e um catatau de mais de mil páginas, percebe que, além dos recursos de linguagem e das demais invencionices formais e de estilo, a maior preocupação do autor é tão simples quanto a de qualquer autor de autoajuda: a de criar uma conexão profunda com o leitor e um espaço de autorreflexão e de crescimento humano. Isso, é claro, não qualifica Wallace como um autor de autoajuda, mas certamente como alguém influenciado pelo gênero.

A autoajuda e a “compaixão estrutural”

A origem moderna da autoajuda, como gênero literário, data das sociedades socialistas e anarquistas britânicas do século XIX. Manifestos como Self-Help by the People [Autoajuda pelo povo], de George Jacob Holyoake, publicado em 1857, sugeriam que os trabalhadores aprendessem ofícios variados a fim de que pudessem ser úteis à sua comunidade. What Is to Be Done? [O que deve ser feito?], publicado na Rússia em 1863 por Nikolai Chernyshevsky, discutia estratégias políticas e também abarcava dicas que iam desde como lidar com relações românticas até como criar e liderar uma cooperativa de costura.

Com o passar do tempo, foi ocorrendo um aburguesamento do gênero, cujo marco histórico normalmente é datado a partir da publicação de Self-Help [Autoajuda], em 1859, por Samuel Smiles, um jornalista escocês liberal-reformista. Essa guinada liberal acabou condicionando o tom de parte das publicações subsequentes do gênero, traduzido no foco excessivo no progresso individual em detrimento de quaisquer considerações mais coletivas e sociológicas.

Os estudiosos organizam o desenvolvimento da autoajuda nos Estados Unidos em três grandes fases: uma focada na criatividade e no esforço individual, situada em até meados do século XX; depois, o pós-Segunda Guerra, um momento em que essa literatura se volta para a ideia da busca de “lazer e conforto” pelo indivíduo após o conflito mundial; e, por fim, a fase da abertura à espiritualidade, no final do século. Repare que o conteúdo e mesmo a forma desse gênero literário acompanha o contexto social e cultural macro.

O movimento em voga, então, é a ideia da busca da felicidade e da paz interior a partir de um caminho trilhado e pavimentado por autoconsciência, generosidade, compaixão e coragem. É justamente nesse terceiro paradigma que se encaixa o jovem Diego Perez, que assina com o pseudônimo de Yung Pueblo e é um dos expoentes da literatura de autoajuda contemporânea.

Autoajuda: conexão e humanidade

Pueblo nasceu no Equador e migrou, ainda criança, para os Estados Unidos. Já adulto descobriu a meditação Vipassana e começou a escrever, em livros e no Instagram, poemas, pequenos ensaios, frases e aconselhamentos de autoconhecimento para o seu cada vez maior público leitor. Em determinada passagem de seu livro, afirma: “Novos acontecimentos normalmente não são percebidos com total clareza, pois sua semelhança com situações do passado engatilha antigas reações emocionais e elas rapidamente nublam a capacidade da mente de observar com objetividade o que acontece. Vemos o hoje e, ao mesmo tempo, sentimos todos os ontens.”

Um ponto sempre reiterado pelo autor é essa ascendência do passado sobre o presente, além da urgência em abraçarmos uma postura de vida pautada pela autoconsciência. Nas palavras do autor: “Da próxima vez que se sentir aflito por recair em antigos padrões, lembre-se de que a simples consciência de estar repetindo o passado é sinal de progresso”. Também há uma atenção especial dirigida aos nossos relacionamentos e à natureza das configurações de afeto a que nos entregamos. Por exemplo, quando ele pontua que “Lealdade cega não nutre ninguém. Apoiar a quem se ama na ignorância, ou pior, tolerar continuamente o mal que lhe causa, é um ato de traição a si próprio”.

É interessante, também, notar que Pueblo recupera e se filia a uma tradição da autoajuda que é politicamente radical em sua origem: segundo ele, “cabe a nós tornar estrutural a compaixão”. Como Pueblo mesmo argumenta, e aqui de modo abertamente político, “subir o padrão de forma a não mais haver gente sofrendo em nível material não é uma impossibilidade; é só questão de disposição. Temos, coletivamente, a riqueza e o conhecimento para fazê-lo. O que nos falta é um senso maior de compaixão incondicional”.

Você pode classificar Clareza & conexão, o livro mais recente de Pueblo, como “autoajuda para o século XXI” ou até como um “Minutos de Sabedoria hipster”. Mas o fato de sua obra ter ganhado visibilidade a partir de posts em uma rede social como o Instagram, a qual amplifica os nossos traços individuais e coletivos de narcisismo e individualismo, é mais um indicador da capacidade de conexão humana, compaixão e coragem geradas por sua escrita. E isso talvez aponte para algo de positivo e de generoso sobre a capacidade humana de lidar com a apatia e o cinismo nosso de cada dia.

 

*Gabriel Trigueiro é doutor em História Comparada pela UFRJ

testeSorteio Facebook – Livros imperdíveis [Encerrado]

Black Friday =  livros maravilhosos em promoção!

Para mimar mais ainda os nossos leitores, o sorteio da semana é de livros imperdíveis da Black Friday. Serão 3 vencedores que poderão escolher 1 livro.

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ATENÇÃO:

– Caso a mesma pessoa se inscreva mais de uma vez ela será desclassificada.

– Você pode se inscrever no sorteio do Instagram e Twitter também, é só seguir as regras.

–  Ao terminar de preencher o formulário aparece a mensagem “Seu formulário foi enviado com sucesso”. Espere a página carregar até o final para confirmar a inscrição.

– Se você já ganhou um sorteio nos últimos 7 dias no Facebook, você não poderá participar deste sorteio.

– O resultado será anunciado no dia 29 de novembro,  segunda-feira, em nosso perfil no Facebook. Boa sorte!

testeSorteio Twitter – Livros imperdíveis [Encerrado]

Black Friday =  livros maravilhosos em promoção!

Para mimar mais ainda os nossos leitores, o sorteio da semana é de livros imperdíveis da Black Friday. 

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– O resultado será anunciado no dia 29 de novembro, segunda-feira, em nosso perfil no Twitter. Boa sorte!

testeSorteio Instagram – Livros imperdíveis [Encerrado]

Black Friday =  livros maravilhosos em promoção!

Para mimar mais ainda os nossos leitores, o sorteio da semana é de livros imperdíveis da Black Friday. Serão 3 vencedores que poderão escolher 1 livro.

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–  Ao terminar de preencher o formulário aparece a mensagem “Seu formulário foi enviado com sucesso”. Espere a página carregar até o final para confirmar a inscrição.

– Se você já ganhou um sorteio da Intrínseca nos últimos 7 dias no Instagram, você não poderá participar deste sorteio.

– O resultado será anunciado no dia 29 de novembro, segunda-feira, em nosso perfil no Instagram. Boa sorte!

testeGoodreads Choice Awards 2021: Conheça os lançamentos da Intrínseca que concorrem ao prêmio

O Goodreads, comunidade virtual onde leitores avaliam e comentam suas leituras,  realiza uma votação anual dos melhores livros publicados. São 17 categorias. A lista de 2021 foi divulgada recentemente e há, entre os indicados, diversos títulos já lançados pela Intrínseca ou que chegarão em breve por aqui! Ficou curioso? Então confira:

Na categoria de Melhor Livro de Ficção, temos Dial A for Aunties, de Jesse Q. Sutanto, e Cloud Cuckoo Land, de Anthony Doerr, autor de Toda luz que não podemos ver, ambos sem título em português e o segundo com lançamento marcado para o começo de 2022. O palácio de papel, de Miranda Cowley Heller, livro de novembro do clube intrínsecos, concorre nessa mesma categoria e também na de Melhor Autor Estreante. A obra chegará às livrarias em janeiro de 2022.

Ao prêmio de Melhor Mistério e Thriller, concorrem o novo livro da escritora Liane Moriarty, Apples never fall, que tem previsão de lançamento para 2022, e também A última coisa que ele me disse, de Laura Dave, ainda sem data de lançamento. Moriarty concorreu na categoria Melhor Livro de Ficção em 2018 com Nove desconhecidos, livro que recentemente foi adaptado para série pelo Amazon Prime Video. Será que neste ano ela levará um troféu?

Na categoria de Melhor Ficção Histórica, nossa torcida está com The Lincoln Highway, de Amor Towles, ainda sem título em português. Towles é o autor de O cavaleiro em Moscou, livro publicado em 2018 pela Intrínseca, e também colaborou com Forward, coletânea de ficção científica lançada em novembro deste ano. Para Melhor Romance, temos o já queridinho Na estrada com o ex, da escritora Beth O’Leary, que será enviado no kit superespecial de dezembro do clube intrínsecos. Apostamos também em It happened one summer, de Tessa Bailey, ainda sem título em português e data de lançamento. 

Já para os fãs de terror, temos como concorrente na categoria The final girl support group, do incrível Grady Hendrix. Sim, lançaremos mais títulos do querido autor de O exorcismo da minha melhor amiga! Nessa nova história, Hendrix explora os dilemas das chamadas final girls, ou, no jargão dos filmes de terror, as últimas sobreviventes, aquelas personagens que, com muito esforço, vencem o assassino. Mas o que acontece com as final girls depois da vitória? O livro ainda não tem título em português nem previsão de chegada às livrarias.

A categoria de Não Ficção está repleta de livros maravilhosos! Temos a estreia do escritor John Green no gênero, Antropoceno: notas sobre a vida na Terra; Sob um céu branco: a natureza no futuro, de Elizabeth Kolbert; O livro do conforto, de Matt Haig; A premonição, de Michael Lewis; e This is our mind on plants, de Michael Pollan, lançamento ainda sem previsão. Na categoria de Melhor Livro de Poesia de 2021, Clareza e conexão, do escritor Yung Pueblo, é nosso título na disputa.

Em Melhor Livro de História ou Biografia, concorrem A decodificadora, de Walter Isaacson, que conta a história de Jennifer Doudna, cientista premiada com o Nobel de Química por suas descobertas sobre edição de DNA, e também Amazon sem limites, de Brad Stone

O primeiro volume de Duna, adaptação para quadrinhos de Brian Herbert e Kevin J. Anderson do clássico de Frank Herbert, concorre na categoria Melhor HQ. O livro também recebeu neste ano uma adaptação para as telas dirigida por Denis Villeneuve, estrelada por Zendaya e Timothée Chalamet.

Fechando a premiação de 2021, concorrem nas categorias Melhor Livro de Fantasia e Ficção Científica young adult e Melhor Livro Infantojuvenil, respectivamente, Iron Widow, de Xiran Jay Zhao, ainda sem data de publicação no Brasil, e A filha das profundezas, lançamento do queridíssimo Rick Riordan.

A votação da primeira rodada vai até o dia 28 de novembro e os vencedores serão anunciados no dia 9 de dezembro. Participe dando o seu voto!

testeSorteio Twitter – Dia da Consciência Negra [Encerrado]

Sábado é Dia da Consciência Negra e para celebrar essa data tão importante fizemos uma seleção de livros que nos convidam a refletir sobre negritude, resistência e ancestralidade. Serão 3 vencedores que poderão escolher 1 livro.

Para participar do sorteio você precisa seguir o nosso perfil (@intrinseca), compartilhar essa imagem no FEED do seu Twitter PUBLICAMENTE e preencher o formulário abaixo! Boa sorte!

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testeSorteio Facebook – Dia da Consciência Negra [Encerrado]

 

Sábado é Dia da Consciência Negra e para celebrar essa data tão importante fizemos uma seleção de livros que nos convidam a refletir sobre negritude, resistência e ancestralidade. Serão 3 vencedores que poderão escolher 1 livro.

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testeSorteio Instagram – Dia da Consciência Negra [Encerrado]

Sábado é Dia da Consciência Negra e para celebrar essa data tão importante fizemos uma seleção de livros que nos convidam a refletir sobre negritude, resistência e ancestralidade. Serão 3 vencedores que poderão escolher 1 livro.

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testeEscrevivência negra, um projeto afrofuturista

Yasmin Santos é a convidada desta semana do Quintas pretas, projeto da Intrínseca que abre espaço semanalmente para pessoas negras pautarem conversas sobre temas fundamentais para a nossa construção como sociedade.

 Por Yasmin Santos

 

 

Minha família, como a de muitos de nós, não é muito afeita à leitura. Estante de livros na casa da minha avó era aquela que guardava as enciclopédias, item essencial para a educação pré-internet. Não havia ali livros infantis, romances ou poemas com que crianças e adultos pudessem se entreter. No dia a dia, livros tinham tanto sentido quanto a fórmula de Bhaskara.

Do cochicho na cozinha, passando pela brigaiada na sala de estar, a cerveja no quintal e a fofoca em frente ao portão, o que não faltava na casa de minha avó eram histórias. Era de fato gente muito conversadeira. Como diz Conceição Evaristo, posso não ter nascido rodeada de livros, mas nasci rodeada de palavras.

Inicio este texto trazendo a minha experiência pessoal para inverter a lógica que acaba aproximando apenas pessoas brancas do ofício da escrita. Assim como a literatura de Conceição nasce da grafia-desenho de sua mãe, uma lavadeira que desenhava sóis na areia pedindo aos céus que levassem a chuva embora, o interesse pela escrita ou pela leitura pode nascer em pequenos gestos, mas principalmente na palavra. Escrita, falada, cantada, ouvida, sentida.

Às vezes, como Carolina Maria de Jesus, nasce na escola, pelo incentivo de uma professora. Os estudos param, a vida segue, catam-se papéis, descobrem-se livros no lixo. Em cadernos surrados, surgem poesias, diários, romances, contos, canções. A gramática sisuda se torna fluida. O medo de escrever errado dá lugar ao senso estético. A poética parece, por vezes, tão natural que atribuem a ela um golpe de sorte. Esperta que só, Carolina devolve: Eu tenho é audácia!

Contudo, ainda são poucas as pessoas negras que conseguem ver sentido em investir tempo e energia num ofício desses, até porque há muito pouco o mercado não se interessava por nossas histórias. Nunca deixamos de falar. De fato, a oralidade é um elemento sagrado para a manutenção da ancestralidade. Senta-se aos pés dos mais velhos para ouvi-los, receber conselhos, aprender as histórias e os saberes que serão passados de geração em geração. É pela partilha da palavra, da cultura, do território, que africanos escravizados construíram tradições neste país, resistindo ao genocídio imposto pela colonização portuguesa.

Mas a escrita e todo trabalho intelectual eram vistos, de forma geral, como coisa de branco. Tivemos, sim, brilhantes exceções como Maria Firmina dos Reis, Machado de Assis, Lima Barreto. Mas preto com livro na mão não era coisa boa – aliás, foi assim que Carolina, ainda menina, foi parar atrás das grades de sua cidade natal, Sacramento, no interior de Minas Gerais; a vizinhança especulava que uma mulher preta com um livro na mão só podia ser feitiçaria.

Afeito a binarismos, o Ocidente rejeita complexidades. Tudo funciona numa relação dicotômica de supostos contrários: razão/emoção, mente/corpo, branco/preto, homem/mulher. Nesse sentido, as primeiras características são atribuídas a sujeitos verdadeiramente humanos, enquanto as segundas, a objetos, seres desumanizados, animalizados. Trazendo as raízes do racismo científico, podemos observar como os corpos de pessoas negras eram constantemente associados a anomalias, relegados ao lugar do Outro. Escravizados, negros eram reduzidos a somente o próprio corpo, visto então como uma máquina (re)produtiva. Os atributos físicos, publicamente repugnados, são hipersexualizados. Nasce o estereótipo do homem negro com seu falo extravagante e da mulher negra fogosa, seres insaciáveis sexualmente, animalescos. As mentes negras eram, assim, incapazes de pensar, criar, imaginar.

Ainda que inconscientemente, é todo esse contexto que continua a afastar milhares de talentos negros da escrita. Mesmo com a conquista de um diploma – hoje um pouco mais democrática graças às ações afirmativas –, nos faltam contatos, referências, a aparência dita profissional; sempre há um novo entrave para nos convencer de que o nosso lugar é longe do pensamento, da intelectualidade; de que livro de preto não vende porque preto não lê.

Os rankings dos livros mais vendidos no Brasil, no entanto, mostram o contrário. Livro de preto não só vende, como faz sucesso até entre os brancos. Na Flip 2019, edição pré-pandemia da festa literária, dos cinco livros mais vendidos, quatro eram de autores negros (a portuguesa Grada Kilomba, a nigeriana Ayobami Adebayo, o angolano Kalaf Epalanga e o burundinês Gaël Faye) e um era de um escritor indígena (o brasileiro Ailton Krenak). Em 2021, Torto arado, de Itamar Vieira Junior, foi alçado a fenômeno literário e ultrapassou as centenas de milhares de cópias vendidas em poucos meses. O romance trata de populações quilombolas no sertão baiano. Nos últimos anos, Djamila Ribeiro e sua coleção de livros intitulada Feminismos Plurais ajudaram a popularizar conceitos antes restritos a ativistas e à academia, como lugar de fala, racismo estrutural, apropriação cultural e empoderamento. E é crescente também o número de traduções de livros de jovens autores negros em diáspora, como a premiada Brit Bennett.

Claro que nossos passos vêm de longe, passam pela ironia fina de Machado de Assis, o tom mordaz de Lima Barreto, a audácia de Carolina Maria de Jesus, a poética de Ruth Guimarães, a sensibilidade de Ana Maria Gonçalves, como também pela criatividade de muitos que não escreveram sequer uma única palavra.

Um levantamento feito pela pesquisadora Fernanda Miranda mostra que a publicação de romances de autoras negras aumentou sobretudo nas últimas duas décadas. De 1859 a 2006, apenas onze romances assinados por mulheres negras brasileiras foram lançados no Brasil. De 2006 até meados de 2019, já eram dezessete.

As grandes editoras demoraram para entender a força e a inventividade contida na escrevivência dos nossos. As editoras independentes tomaram a dianteira nas publicações, e os movimentos negros lutaram para manter a voz dos nossos ressoando entre nós, nos curando, nos inspirando.

Quando sento para ler um livro de Conceição Evaristo, sento aos seus pés, ouvindo suas impressões e suas histórias, mergulho em seus saberes e ensinamentos, leio os seus livros sempre em voz alta, reparo na sonoridade das palavras que, em seus escritos, carregam a força da oralidade. Suas narrativas são provocativas e acolhedoras, familiares. Tive a mesma sensação lendo um conto de Itamar Vieira Junior em que vi, pela primeira vez, muitas das tradições da minha avó registradas em papel. O enterrar dos umbigos, a saudação à lua, o sagrado das ervas. Tudo aquilo que aprendi na escola que era menor, irracional, crendice. As palavras escritas, negadas a tantos de nós, também hoje são nosso lugar de partilha, nosso cordão umbilical, nossa resistência, nossa forma de honrar a ancestralidade, nosso projeto afrofuturista.

O público tem sede, reivindica novas histórias, novos olhares e perspectivas, mais complexidades e menos estereótipos, quer se sentir representado, rejeita o lugar da subalternidade. Não apostar nisso é burrice intelectual e mercadológica. É preciso ter mais criadores negros, não só como funcionários, mas tomando as rédeas da situação, com o poder da caneta. Precisamos de mais autores negros, assim como mais editores, ilustradores, comunicadores negros. Da ponta até o topo da cadeia produtiva.

Não queremos só esse ou aquele negro, queremos proporcionalidade. Para isso, além de ações que visem à inserção de novos profissionais negros em cargos baixos, as empresas precisam encarar o racismo, a misoginia, a LGBTfobia, o capacitismo interno e da própria sociedade. É preciso compreender que empresas também têm responsabilidade social e, para exercê-la, devem estabelecer estratégias que possam proteger profissionais de grupos minorizados de possíveis comportamentos discriminatórios, além de estabelecer metas factíveis de diversidade, implementando projetos que busquem acelerar a carreira de profissionais negros. É preciso começar a (re)imaginar ambientes em que pessoas negras possam não só entrar, mas ficar. Taí a literatura, a arte, a cultura. Caminhamos muito até aqui e tudo o que temos hoje é fruto da luta dos nossos ancestrais. Mas o público tem muita sede, e o que não falta no Brasil é água – falta é querer distribuir.

 

Yasmin Santos é bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2019) e pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global na PUC-RS. Como jornalista, já teve textos publicados nas revistas Piauí, Quatro Cinco Um, Trip e no Nexo Jornal, além de ter integrado a bancada do programa Roda Viva, da TV Cultura, diversas vezes. Em 2021, seu ensaio intitulado “Ladainha da sobrevivência” recebeu menção honrosa no 4º Concurso de Ensaísmo da Serrote, revista do Instituto Moreira Salles. No mesmo ano, também foi homenageada pela Câmara Municipal de Salvador com o Prêmio Maria Felipa, destinado a profissionais que atuam no fortalecimento de políticas públicas para mulheres. ​Escreve principalmente sobre diversidade e inclusão no jornalismo, questões raciais, feminismo e direitos humanos.