Por André Carvalhal*
Paul Crutzen, ganhador do prêmio Nobel de Química em 1995, diz que a humanidade modificou o planeta Terra de forma tão intensa que substituiu a natureza como a força ambiental dominante. Isso é o que ele chama de Antropoceno. Como consequência, estamos mudando o clima, exercendo forte pressão seletiva sobre a fauna e a flora e provocando diversas outras transformações.
Quando exatamente isso começou a acontecer deixa margem para discussão. Segundo uma das teorias, o processo começou há oito ou nove mil anos, bem antes dos registros históricos, mas se intensificou apenas com a industrialização e a invenção de novas tecnologias.
As perdas agora se estendem por todos os continentes, oceanos e todas as espécies. Desejamos o desenvolvimento e agora estamos presenciando uma mudança global, comparável ao impacto do asteroide que acabou com o domínio dos dinossauros há 60 milhões de anos.
Nunca fomos encorajados a ter um estilo de vida que preservasse o planeta. Pelo contrário, fomos mais estimulados a controlar e explorar a natureza. Em decorrência disso, estamos criando um mundo cada vez mais inabitável, superpopuloso, esgotando recursos naturais e provocando mudanças climáticas.
A esperança de um futuro melhor
Elizabeth Kolbert, autora de Sob um céu branco: A natureza no futuro, nos alerta que nosso modo de vida atual pode acabar contribuindo com a extinção da nossa espécie. Faz-se prudente, então, retroceder e reduzir esses impactos. Mas somos tantos e fomos tão longe que recuar parece impraticável.
A população não vai parar de crescer, e assim a demanda de recursos naturais será cada vez maior para alimentos, roupas, energia… Quanto mais usamos recursos sem equilíbrio, mais desestabilizamos o ecossistema. E mais difícil fica a renovação desses recursos.
Os efeitos desse desequilíbrio já podem ser percebidos. Devido à escassez de peixes, é necessário procurá-los cada vez mais longe; diversas matérias-primas estão ficando mais caras, enquanto, na nossa própria casa, já sentimos também as consequências: pagando altos custos para consumir água e luz. Estamos diante de um dilema sem precedente. Haverá saída?
Kolbert mergulha em uma minuciosa investigação sobre o impacto da ação do homem na biodiversidade e entrevista biólogos e engenheiros genéticos e atmosféricos para entender como os cientistas estão agindo para remodelar a Terra. Sob o céu branco conta a história de pessoas tentando resolver problemas criados por pessoas tentando resolver problemas.
O livro apresenta alguns projetos que estão surgindo com o objetivo de solucionar o dano causado pelos humanos e sua má interação com a natureza. Nem tanto com um olhar de positividade, eu senti, mas para nos fazer refletir sobre os impactos das nossas ações e desejos. Afinal, a cada problema “resolvido”, outro acaba surgindo.
Pesquisei alguns outros exemplos de inovações que estão vindo por aí:
Para solucionar a questão da morte das abelhas — cujo papel na polinização é muito importante —, já foram criadas abelhas-robôs e até flores robóticas impressas em 3D para atrair os insetos. O projeto se chama Synthetic Pollenizer, criado por Michael Candy. Pensando em resolver os problemas do lixo eletrônico, alunos e professores da Universidade do Iowa criaram um mecanismo de autodestruição, que faz com que os aparelhos — como celulares, tablets, notebooks — desapareçam quase instantaneamente.
Em Kato, no Japão, estão sendo “plantadas” fazendas solares no mar. São grandes placas utilizadas para evitar a evaporação da água de represas e gerar energia. Ainda com este objetivo, mas substituindo as placas, uma equipe da Universidade de Michigan desenvolveu um tipo de vidro. A tecnologia se assemelha ao vidro que conhecemos, mas ele também captura a energia do sol e a converte em eletricidade. O EM1 é um produto composto por bactérias benéficas que “comem” as maléficas, contribuindo assim com a retirada de substâncias nocivas do leito de rios e atuando na sua revitalização (atualmente em fase de testes na Bahia).
Para mim, fica a mensagem de que precisamos da ciência — jamais podemos negá-la. E também de que precisamos encontrar o limite entre servir e usar o planeta, descobrindo formas de cooperar em vez de dominar.
Nós somos a natureza. Fazemos parte dela e precisamos dela para sobreviver. Sem essa noção, nem a ideia mais genial e tecnológica será capaz de nos salvar dos problemas que nós mesmos criamos.
André Carvalhal é escritor, consultor, colaborador-colunista de diversos veículos e especialista em design para sustentabilidade.
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