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Por que o Brasil ainda é tão desigual?

16 / setembro / 2020

O Brasil ainda não conseguiu deixar de ser sinônimo de desigualdade. O livro “Capital e ideologia”, do economista francês Thomas Piketty, mostra em dados o que se vê nas ruas brasileiras: os 10% mais ricos da população detêm mais da metade da renda; já os 50% mais pobres ficam com cerca de um décimo da renda total. 

Ao falar da desigualdade no Brasil, Piketty reforça que fomos o último país do Ocidente a acabar com a escravidão; que atravessamos uma ditadura militar (o autor afirma que o golpe de 1964 encerrou um período de queda na desigualdade iniciado 20 anos antes); e que só com a Constituição de 1988 o voto tornou-se de fato universal em nosso país. 

Para Piketty, apesar de políticas públicas importantes como o Bolsa Família e a valorização do salário mínimo, os governos do PT pouco incomodaram o bolso dos mais ricos no combate à desigualdade. 

Ainda segundo ele, a conta das políticas de redistribuição de renda foi paga pelo grupo entre os 50% mais pobres e os 10% mais ricos — as classes médias, em resumo, ou 40% intermediários — “sem nunca prejudicar os 10% mais ricos”. Isso ocorreu, afirma, porque não houve uma reforma para diminuir impostos sobre o consumo, que atingem pobres e ricos da mesma forma, e taxar a renda de forma progressiva.

Além de fazer críticas ao impacto limitado das políticas de redistribuição de renda implantadas pelos governos petistas, Piketty afirma que elas geraram um “desejo de retomada de controle da situação por parte das elites tradicionais brasileiras”, movimento que segundo ele se revela com o impeachment de Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro.

Mesmo tendo em mente as peculiaridades do Brasil, Piketty defende que as trajetórias de cada país não podem ser vistas de forma isolada neste começo de século. Para ele, somente um olhar global permite entender melhor as fragilidades de cada local e pensar na construção de uma nova ideologia de combate à desigualdade.

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