Bastidores

Você vai devorar esse livro (e esse livro vai devorar você)

27 / setembro / 2019

Vanessa Oliveira*

 

Eu li Daqui pra baixo sem saber o que esperar dele, sem ler qualquer sinopse, resenha ou indicação. Eu não tinha a menor ideia do que ia me atingir, e o livro me atingiu com força. É difícil definir o que causou esse sentimento: se a escrita envolvente de Jason Reynolds, os acontecimentos da vida do jovem Will ou como tudo é tão duro, real e doloroso.

Ainda que a leitura seja breve, já que o livro é escrito em versos e se passa em pouco mais de 60 segundos, a reflexão se estende, porque a narrativa continua na nossa cabeça (e no nosso coração). Tudo o que eu queria era falar sobre ela, queria que outras pessoas também lessem Daqui pra baixo e que todo mundo sentisse o soco no estômago causado pela história de Will, que precisa decidir ainda no elevador do prédio se vai ou não vingar a morte do irmão. Quando chegar ao térreo, o destino de Will estará cada vez mais perto de ser definido.

A primeira coisa que fiz quando acabei a leitura foi procurar mais informações sobre o autor, Jason Reynolds. Eu precisava desesperadamente saber mais sobre esse cara, ler o que ele havia escrito e conhecer as tantas outras histórias sobre as quais ele tinha lançado luz.

Depois de Daqui pra baixo, a trajetória do Will me tomou por completo e de forma tão avassaladora que eu queria sentir isso de novo, de novo e mais uma vez. Mas não é exatamente a trajetória do protagonista que é especial — afinal, situações de violência infelizmente acontecem todos os dias —, e sim o fato de ela ter ganhado vida de forma tão sensível. É isso que torna esse livro incrível. E talvez seja esse o grande lance das histórias invisíveis: uma vez expostas, elas nunca mais podem ser “desvistas”, nem esquecidas.

Quantas vezes nós passamos por histórias invisíveis nas ruas? Quantos meninos de futuro incerto cruzam nosso caminho? Quantas vezes a violência parece ser a única saída para essas pessoas? A morte precisa ser sempre o desfecho? São perguntas muito complexas, cujas respostas são mais complexas ainda, e o autor acerta ao nos fazer refletir sobre elas.

Jason imprime em Daqui pra baixo um ritmo quase musical, que embala o leitor por uma jornada de profunda reflexão. Uma obra sensível, forte e muito necessária, que toca nas feridas e expõe realidades invisíveis. É incrível que hoje essa história, pela qual eu e muitas pessoas aqui na Intrínseca têm tanto carinho, esteja chegando para todos vocês. Desejo que você expanda sua visão para além desse livro. O mundo está cheio de histórias à procura de luz, de jovens em busca de voz.

Boa leitura e boa descida!

 

*Vanessa Oliveira curte analogias, analgésicos e analógicos e, há algum tempo, ganha a vida colocando livros em jornais. 

 


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