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Amor e arte se encontram em romance na Paris dos anos 1930

18 / abril / 2019

Um dos casais mais icônicos do mundo artístico ganha as páginas da ficção em um romance histórico envolvente: Tempo de luz.

No livro de estreia da autora americana Whitney Scharer, conhecemos Lee Miller, uma modelo de sucesso que troca Nova York pela fervilhante Paris dos anos 1930. Cansada de ser o objeto das lentes alheias, ela decide largar tudo e recomeçar a vida como artista na capital francesa. Em meio ao ambiente boêmio da cidade, Lee acaba conhecendo Man Ray e dando início a uma história de amor, amadurecimento e descobertas que transformará a vida dos dois.

Perfeito para quem gosta de arte, romance e fotografia, confira um trecho do livro:

 

PARIS

1929

A noite em que conhece Man Ray tem início em um bistrô meio vazio a algumas quadras do hotel em que Lee está hospedada. Sozinha, ela come filé com batatas gratinadas e bebe meia jarra de um vinho tinto intenso. Tem vinte e dois anos, e é linda. O filé é ainda mais saboroso do que havia imaginado ao pedi-lo, servido em uma piscina de molho madeira que se acumula e se infiltra nas camadas de batatas e fatias grossas de gruyère derretido.

Lee passou pelo bistrô muitas vezes desde que chegou a Paris três meses antes, mas — com as finanças como estão — é a primeira vez que se arrisca a entrar. Jantar sozinha não é novidade: Lee passa quase o tempo todo sozinha desde que chegou, uma adaptação difícil depois da vida agitada em Nova York, onde trabalhava como modelo para a Vogue e frequentava bares de jazz quase todas as noites, sempre de braços dados com um homem diferente. Na época, Lee não dava valor ao fato de que todos que conhecia eram fascinados por ela: o pai, Condé Nast, Edward Steichen, todos os homens poderosos que encantara ao longo dos anos. Esses homens. Lee podia tê-los cativado, mas todos lhe tiravam coisas — esmiuçavam-na, latiam ordens sob os panos das máquinas fotográficas, reduziam-na a cacos de uma garota: um pescoço para segurar pérolas, uma cintura fina para exibir um cinto, uma mão para levar aos lábios e jogar beijos. O olhar deles transformara Lee em alguém que ela não queria ser. Talvez sentisse falta das festas, mas não de ser modelo, e na verdade preferia passar fome a voltar ao antigo trabalho.

Ali em Paris, para onde veio com o propósito de recomeçar, de fazer arte em vez de ser transformada nela, ninguém dá muita atenção à beleza de Lee. Quando caminha por Montparnasse, sua nova vizinhança, ninguém a encara, ninguém vira para vê-la passar. Pelo contrário, Lee parece ser apenas mais um belo detalhe de uma cidade onde quase tudo soa artístico. Uma cidade construída sobre o conceito da forma acima da função, onde fileiras de petits fours brilham como pedras preciosas nas vitrines das confeitarias, impecáveis demais para serem comidos. Onde um modista expõe chapéus elaborados, requintadíssimos, mas sem qualquer indicação de como poderiam ser usados. Até as parisienses nos cafés pelas calçadas são como esculturas, naturalmente elegantes, inclinadas em suas cadeiras como se sua razão de ser fosse decorativa. Lee diz a si mesma que gosta de não ser notada, de se misturar à paisagem, mas, mesmo após três meses na cidade, pensa em segredo que não viu ninguém mais bela do que ela.


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