Matadouro-Cinco chega às livrarias em edição capa dura
“Nada de inteligente pode ser dito sobre a guerra”, sentencia Kurt Vonnegut em sua obra máxima, o clássico Matadouro-Cinco. Publicado originalmente em 1969, em plena guerra do Vietnã, a crítica ácida e bem-humorada ao militarismo e à cultura consumista norte-americana mescla a imaginação prodigiosa de um dos mais importantes escritores da literatura contemporânea a um dos episódios mais cruéis da Segunda Guerra Mundial: o bombardeio da cidade alemã de Dresden — massacre que deixou a mesma quantidade de vítimas que o lançamento da ogiva nuclear em Hiroshima.
Assim como o protagonista da história, Billy Pilgrim, Kurt Vonnegut foi mantido prisioneiro e obrigado a trabalhar em um armazém subterrâneo de carnes durante o conflito. Como Billy, o escritor testemunhou a morte de milhares de civis, vivenciou a maldade humana e todo o absurdo da guerra: um espetáculo sem sentido, sem nada do glamour estampado nos filmes, e, na verdade, travado por garotos.
A edição comemorativa de 50 anos de Matadouro-Cinco, em formato capa dura, com pintura trilateral já está nas livrarias com tradução de Daniel Pellizzari e apresentação de Antônio Xerxenesky. Divisor de águas na carreira do escritor norte-americano, a obra inovadora combina ficção científica e relato autobiográfico com a linguagem sarcástica e simples que o consagrou. Para Kurt Vonnegut a escrita acessível não era, de forma alguma, um demérito. É um ato político.
Na trama, acompanhamos a desvairada trajetória de Billy Pilgrim, um garoto que já nasceu esquisito e que, com o tempo, ficou mais esquisito ainda. De aparência curiosa, alto e magricela, o jovem que se parecia com uma garrafa de Coca-Cola foi enviado para a Segunda Guerra Mundial sem roupas adequadas, sem armas e sem vontade de lutar. Após o massacre de Dresden, Billy é internado, como outros milhares de soldados, em um hospital psiquiátrico. No entanto, Billy passa por uma experiência única: ficar solto no tempo. Capaz de viajar no tempo e no espaço, Billy pode reviver seu passado e seu futuro, além de estar, ao mesmo tempo, em lugares distintos: trancafiado em um vagão de prisioneiros durante o rigoroso inverno europeu durante a guerra e dirigindo seu Cadillac numa ensolarada tarde americana.
Uma obra divertida e necessária, Matadouro-Cinco questiona reiteradamente nossa capacidade de nos acostumarmos com tudo. Qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência.
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