Bastidores

Eu, John Green e os infinitos dentro de nós

20 / julho / 2018

Por Leticia Vallecilo*

Existem histórias que passam rápido, outras que ficam por um tempo, mas tem aquelas que nunca realmente vão embora, que nos acompanham desde a primeira leitura até as adaptações cinematográficas e que nos deixam morrendo de vontade de ler todos os livros do autor. Certa vez, um escritor entrou na minha vida em forma de metáforas, amor e lágrimas, and this, kids, is How I Met John Green (caso não tenha entendido a referência, deixarei um texto para você nas sugestões lá no final).   

Se alguém me pergunta por que ler um livro do John Green, a resposta vem fácil: porque ter um livro dele nas mãos é como estar com um amigo. Eles te fazem rir, emocionam, fazem o tempo passar mais rápido naqueles momentos chatos, ensinam lições importantes, mostram pontos de vista diferentes e, quando você termina, quando finalmente precisa deixá-los, a vontade que fica é de abraçá-los com força e não largar nunca mais. Mas, como acontece com todo bom amigo, os anos de distância não diminuem o sentimento.

Eu tinha 18 anos, fazia faculdade do outro lado da cidade e passava muita raiva nos transportes públicos quando decidi que era hora de trazer Hazel Grace e Augustus Waters para me ajudarem a enfrentar essa odisseia diária. Eu posso até não lembrar o que jantei ontem ou quem disputou a semifinal da Copa do Mundo, mas é impossível esquecer onde estava quando a cena da capela me fez chorar compulsivamente em público. “POR QUE FAZ ISSO COMIGO?”, pensei, em caps lock. “Sabe de nada, inocente”, respondeu a versão imaginada do John Green na minha cabeça. 

As cento e vinte três caixas de lenços de papel foram só uma amostra do novo mundo que se abriria para mim, e não demorou muito para que eu desse gargalhadas com o Colin de O teorema Katherine (que tem uma habilidade sobre-humana de se apaixonar por meninas chamadas Katherine). Alguns anos depois, esbarrei com uma edição de Cidades de papel na estante da casa de uma prima. Eu pedi umas quarenta vezes, o que pode ou não ter envolvido tentativas de chantagem emocional, mas ela não quis me emprestar, porque era o “xodó” dela. Não teve jeito, eu precisei seguir a vida me contentando em assistir à adaptação de A culpa é das estrelas (e chorar nas mesmas cenas) mais um milhão de vezes e em ver a Cara Delevingne sendo linda no filme inspirado em Cidades de papel.

Foi aí que eu entrei na Intrínseca e Quem é você, Alasca? logo cruzou o meu caminho. Uma ida de ônibus para São Paulo e eu já estava arrebatada: nossa, que história! (Muitas pessoas me diziam que Alasca era melhor que Culpa, mas, como uma cinéfila que não consegue escolher entre Titanic e E.T., recomendo que leiam os dois.) Pouco mais de um ano depois, recebemos o grande e esperado lançamento do autor, Tartarugas até lá embaixo (que eu li antes da minha prima porque o mundo dá voltas), e é obvio que após tantos livros e filmes inspirados nas obras dele eu já era uma fã de carteirinha (ou Nerdfighter, if you know what i mean).

De todos os livros do John Green, Tartarugas foi o único com o qual tive a oportunidade de trabalhar no departamento de marketing. Foi uma sensação totalmente diferente, porque me apaixonar pela Aza junto com tantos leitores tornou essa história ainda mais especial. Se tinha algo que faltava para o John marcar um “J” no meu coração, agora está tudo mais que completo. E, embora seja difícil encontrar quem veja o mesmo mundo que o meu, graças a ele eu encontrei milhares.

Por isso digo que os livros do John são aqueles amigos que ficam para sempre. Faz cinco anos desde que aprendi que “Alguns infinitos são maiores que outros”, e, mesmo depois de tanto tempo, de conhecer a complexidade da Alasca, de rir com as confusões do Colin, de explorar os mistérios da Margo e de mergulhar nos pensamentos da Aza, aqueles Hazel e Gus do primeiro livro estarão sempre convidados para cruzar a cidade — e a vida — junto comigo, porque o nosso infinito é maior que aquele entre 0,1 e 1.000.000.

P.S.: Todas as referências de Cidades de papel deste texto foram baseadas no filme, pois apesar dos anos e das voltas do universo, Julia jamais me emprestou seu exemplar.

Leticia Vallecilo tem uma prima egoísta, já assistiu a How I Met Your Mother quatro vezes e felizmente não precisa mais cruzar a cidade todos os dias.

Comentários

6 Respostas para “Eu, John Green e os infinitos dentro de nós

  1. Muito lindo, amo os livros dele, me identifiquei com as histórias e os personagens. Cada livro mostra uma lição e um aprendizado diferente e marcante ao mesmo tempo. Parabéns pelo trabalho, me emocionei lendo. Obrigada e que continue com essa escrita maravilhosa.

  2. Acredite se quiser, mas eu chorei ao ler esse texto, e lembrar da Hazel e do Gus; muito bem escrito adorei parabéns!

  3. Sou uma rata de biblioteca e não tenho vergonha de dizer isso. Conheci Jonh Green um mês antes de lançaram a adaptação, como Hazel descreveu seu amor pelo Gus, me encantei com os livros do Jonh da mesma forma que se cai no sono, gradativamente. Eu ri com as aventuras de Colin e seu “pequeno” problema com as Katherine’s, sofri amargamente com o mistério que rondava Alasca, me apaixonei pela enigmática Margo. Jonh trouxe-me uma visão privilegiada do mundo, não aqueles cheios de fadas e finais felizes, mas como ele realmente é, e o quão encatador ele pode ser. Algumas vezes, seus melhores amigos não são físicos, mas te ensinam importantes lições de uma vida complexa e estressante, te fazem enxerga além do que o senso comum nos permite ver. Foi isso que vi, foi assim que me apaixonei.
    De fato, Jonh tem uma maneira interessante e, por que não, um pouco sádica, de nos prender do início ao fim com sua narrativa intrigante e verídica.

    Fico feliz de não ser a única nesse mundo não tão grande assim, a ver a beleza das palavras e a fraternidade de um conjunto de personagens que marcam sua vida de maneira permanente.

  4. Super me identifiquei com esse texto rs
    A minha ordem de leitura dos livros foram exatamente iguais. Foi tudo tão igual????❤❤
    Eu li A Culpa é Das Estrelas no mesmo período em que foi publicado. Foi um dos melhores livros que já li, todos os livros do John são os melhores❤

  5. A melhor sensação é que, quando VC lê os Livros de JG, parece que estás em cena Dentro da história. Simplesmente a melhor coisa .

  6. Puta merda, o quanto isso foi foda, o quanto isso me descreveu. Amei, mil vezes.

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