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Bruce Dickinson: muito além do Iron Maiden

9 / abril / 2018

Por Marcelo Costa*

Bruce Dickinson: Vocalista, Esgrimista e Piloto de Avião (Fonte)

Você conhece Bruce Dickinson, certo? Bruce, o vocalista da fase de maior sucesso do Iron Maiden, uma das maiores bandas de metal de todos os tempos? Bem, o público do metal costuma ser fiel e detalhista. Certa vez, Ronnie James Dio, um dos maiores nomes do rock mundial, comentou numa entrevista: “O fã de metal é aquele que sabe tudo sobre a banda, até o nome do cachorro da namorada do roadie.” Se você se encaixa nessa categoria, seus conhecimentos sobre Bruce Dickinson e Iron Maiden serão colocados à prova com a autobiografia que acaba de chegar às livrarias porque, além de vocalista do Iron Maiden, Bruce também é escritor, roteirista, aviador, esgrimista, cervejeiro, empresário e, bem, muitas outras coisas.

Por outro lado, se você não é lá muito chegado em metal, a leitura pode se provar uma enorme surpresa. A rigor, a obra é sustentada por cinco pilares: Iron Maiden, esgrima, carreira solo, aviação e câncer. Yep, isso mesmo. Como toda boa biografia, Bruce esclarece situações ocorridas na infância que ajudaram a construir sua personalidade, fala da adolescência (quando optou por um internato para “fugir” dos pais e da família) e de como o rock o atraiu. Daí, é a sequência básica: montar uma banda, tocar, quebrar a cara, acabar com a banda, montar outra banda, tocar, quebrar a cara, acabar com a banda… até, no caso de Bruce, que era do Samson e foi roubado pelo o Iron Maiden, um momento contado com riqueza de detalhes e histórias. Conforme a narrativa segue, os discos novos do Iron Maiden precisam dividir espaço com uma de suas grandes paixões: a esgrima.

Quem diria, esgrima, aquele esporte de combate em que os competidores utilizam armas brancas (florete, sabre ou espada) para atacar e defender. Bruce ostenta diversas medalhas e troféus nesse desporto, que ele conheceu no colégio e que usou como “droga” durante dezenas de turnês pelo mundo com a banda: enquanto um ou outro integrante enchia a cara no bar e outros roqueiros estariam se drogando, Bruce estava… esgrimando. Isso em qualquer cidade! Bastava o Iron Maiden pousar para que Bruce saísse atrás da academia de esgrima mais próxima. O esporte não só manteve sua sanidade como também protegeu suas cordas vocais dos excessos da vida de rock star. Ou você acha que é possível detonar toda noite e continuar cantando e gritando por mais de 30 anos?

O gosto pela aviação começa cedo, influenciado pelo tio, e ressurge mais tarde, quando a idade bate e o corpo fica mais lento, favorecendo os outros competidores de esgrima. Bruce então se joga de corpo e alma nesse projeto, um dos que mais rende momentos emocionantes para o livro, afinal, pássaros se chocando contra o vidro à frente do piloto, suspeitas de fogo na turbina a milhares de metros de altura e pousar com um veículo de quatrocentas toneladas quase sem gasolina em meio a uma tempestade são histórias que prendem o leitor. E Bruce, que não é um escritor de primeira viagem — ele já escreveu os romances The Adventures of Lord Iffy Boatrace (1990) e The Missionary Position (1992), além do roteiro de Chemical Wedding (2008), um filme sobre Aleister Crowley—, domina a narrativa de maneira leve, como se estivesse ao seu lado num pub inglês contando tudo enquanto bebe pints de Fullers ESB, sua cerveja favorita.

Ok, talvez hoje a Fullers ocupe um lugar secundário na paixão cervejeira do vocalista do Iron Maiden, já que, como ele lembra no livro, “enquanto escrevo estas linhas, 18 milhões de pints de The Trooper, a cerveja do Iron Maiden, já foram bebidos mundo afora”. Aliás, quem viu o Iron Maiden ao vivo no Rock in Rio nunca se esquecerá da provocação do vocalista: “A cerveja servida aqui é tão ruim que tive que trazer a minha”, disse, aos risos. Como um bom empreendedor, Bruce conta o que buscava com a cerveja: “A ideia era uma cerveja para o homem comum, que bebesse a Trooper no dia a dia e sempre retornasse a ela, como uma velha amiga. Há várias cervejas exóticas no mercado, e a maioria tem vida curta. Os Robinson e eu queríamos criar algo clássico, e creio que conseguimos.”

A narrativa dos acasos que levam Bruce à carreira solo, e os guitarristas Janick Gers e Adrian Smith ao Iron Maiden (em períodos diferentes), também é outro ponto alto livro, que culmina no câncer na garganta e na língua descoberto em 2015. Assim como tudo no livro, Dickinson narra sua luta contra o câncer nos mínimos detalhes (em trechos que poderiam até integrar uma campanha contra o cigarro: “Você fuma? — perguntou ele (o médico). — Não. Por quê? Faz muita diferença? — São 20% a mais de chances de cura e 20% a menos de probabilidade de retorno”). Depois de 31 sessões de radiação, com o corpo em frangalhos, Bruce Dickinson vê Mick Jagger passando do lado de fora da janela de sua casa, em King’s Road. “Estou quase tão magro quanto você, pensei, sorrindo”, conta.

Um dos caras mais gente boa do metal, Bruce Dickinson consegue fisgar o leitor tanto com histórias escabrosas (tipo urinar na sopa dos professores do colégio — e ser pego depois) quanto por momentos emocionantes (como uma visita a uma creche em Sarajevo no meio da guerra ou outra a Auschwitz: “Chorei muito depois da visita. Senti raiva e fiquei em silêncio”, conta). Sua autobiografia vai além da história de uma celebridade relembrando momentos de sua vida. É um passatempo divertidíssimo (“No espírito do rock’n’roll, que outra justificativa seria necessária?”, pergunta Bruce) que consegue contar a vida de Bruce e também soa como um apêndice importante à obra da Donzela de Ferro.

 

* Marcelo Costa é editor do site Scream & Yell, um dos principais veículos independentes de cultura pop do país. Já passou pelas redações do jornal Notícias Populares e dos portais Zip.NetUOLTerra e iG, além de ter colaborado com as revistas Billboard BrasilRolling Stone e GQ Brasil, entre outras. Participou da Academia do VMB MTV, do júri do Prêmio Multishow e do júri do Prêmio Bravo. Desde 2012 integra a APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

Comentários

2 Respostas para “Bruce Dickinson: muito além do Iron Maiden

  1. Boa Marcelo…realmente foi uma prévia que se espera do livro do
    Bruce. Curiosidades e verdades de um grande vocalista, esportista, escritor e piloto de avião.Nao vejo a hora de adquirir este livro e que já considero um Best seller.

  2. Eu gosto muito de o Iron Maiden, ao contra’rio de muitas outras bandas, não pregar a auto destruição. Pelo contrário, o heavy metal faz muito bem, na maioria dos casos. As pessoas até viram CDFs, começam a ler mais e buscar novos conteúdos por força das músicas. Por essas e outras, eu amo Iron Maiden e prefiro ter amigos metaleiros. Up the irons!

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