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Leonardo, o mais humano dos gênios

11 / janeiro / 2018

Por João Carvalho*

Quando pensamos em Leonardo Da Vinci a primeira palavra que nos vêm à cabeça é gênio. Da Vinci era genial, isso é um fato posto. Afinal, estamos falando do cara que pintou a Mona Lisa e A Última Ceia. Um homem que cinco séculos atrás desenhou projetos de helicópteros e escafandros. Um sujeito que era a um só tempo tão versado em pintura e geologia quanto em anatomia e engenharia. Mas o que significa ser um gênio?

A palavra gênio tem sua origem no latim genius, que era o espírito guia ou deidade pessoal que acompanhava cada um de nós, quase uma versão pagã do anjo da guarda. Como aqueles que conseguiam atingir grandes feitos eram considerados possuidores de um grande genius, a palavra passou a significar também inspiração. Em sua acepção moderna o termo bebe de duas fontes latinas. Genius, que já explicamos, e ingenium, que, por sua vez, significa talento, capacidade natural, dom.

Ou seja, genial seria aquele que tem um enorme talento ou dom que se manifesta quase que metafisicamente através de uma dádiva recebida de um espírito guia, ou, após o surgimento da cristandade, de Deus. Assim, o gênio se torna um inspirado, alguém fora do convívio humano, um predestinado que já nasceu preparado para surpreender a todos com seu talento sobrenatural. Se essas são as qualidades de um gênio, ironicamente, Da Vinci foi tudo, menos isso.

A Última Ceia (Fonte)

Da Vinci era acima de tudo um polímata, um homem do Renascimento. Seus interesses eram tão diversos quanto difusos: óptica, perspectiva, anatomia, engenharia hidráulica, arquitetura, engenharia militar, pintura, música, teatro, geologia, botânica, enfim, pense em um ramo da ciência que alguém pode buscar conhecer e você achará alguma página dos inúmeros cadernos de Da Vinci contendo notas a respeito. Mas a genialidade de Da Vinci não era algo inato. Seu maior dom era sua curiosidade infindável e seu desejo de conhecer o ser humano em absolutamente todas as suas facetas.

Estudos de Adoração dos Magos por Leonardo da Vinci (1452-1519), drawing 436E recto.

Da Vinci tinha a curiosidade de uma criança, a obstinação em angariar conhecimento de um Hércules e o foco de um Husky Siberiano, não à toa ele é o “gênio das obras inacabadas”. Muitas de suas descobertas fantásticas tiveram que ser redescobertas após a sua morte porque ele não chegou a divulgá-las, devido ao afã de aprimorá-las, fossem as artísticas, fossem as científicas. E é no fascinante mundo mental do mais humano de todos os gênios que a biografia de Walter Isaacson nos convida a mergulhar.

Isaacson é um dos biógrafos mais renomados de nossa geração. Dele também temos o apanhado da vida de Steve Jobs, de Benjamin Franklin e de Albert Einstein. Talvez o que torne Isaacson um biógrafo tão espetacular seja sua capacidade de a um só tempo apresentar uma pesquisa científica digna de um doutorado em uma linguagem aberta e atraente como se fosse um livro de ficção. Além disso, faz algo que é raro entre os biógrafos: ele se aproxima mais do estilo de um narrador, quase de um jornalista e não de um apologista, e podemos ver o melhor da sua escrita na biografia de Leonardo.

Isaacson nos traz em um livro luxuosamente bem editado um mergulho no universo mental de Leonardo Da Vinci, a partir de uma pesquisa de anos na quase totalidade do corpus de suas obras e, principalmente, de seus escritos que sobreviveram até os nossos dias. Ao final, Isaacson consegue pintar um Da Vinci tão fascinante e misterioso quanto o sorriso da Mona Lisa.

É com enorme prazer que eu te convido a fazer essa jornada fantástica e conhecer mais a fundo um dos homens mais fascinantes que caminhou sobre essa Terra. A biografia de Leonardo é sobretudo um convite ao aprendizado, à observação e à curiosidade. Leonardo desperta em nós perguntas que fazíamos quando éramos crianças e nos convida a olhar o mundo de uma forma mais profunda e ao mesmo tempo mais singela.

Obviamente a grande maioria de nós não pintará uma nova Mona Lisa ou descobrirá a quadratura do círculo ao fim da leitura, mas, certamente, aquele que ler sua biografia perceberá que o mundo a nossa volta se tornou mais colorido, mais encantado e cheio de novas perguntas e descobertas a cada dia.

Quinhentos anos após a sua morte Leonardo continua vivo a cada vez que nos perguntamos acerca da natureza que nos cerca bem como tentamos entender a nossa própria natureza humana. Sua genialidade, forjada no molde da observação e da experimentação, nos convida a nos maravilharmos com o mundo e torna Leonardo o mais humano de todos os gênios.

 

* João Carvalho é podcaster pelo DecrépitosAnticast Revolushow. Formado em História e Letras Clássicas e mestre em História Social, trabalha no Ministério das Relações Exteriores desde 2009.

Comentários

3 Respostas para “Leonardo, o mais humano dos gênios

  1. Um de meus filhos (o do meio) nasceu em um Quatorze de Março. Seu nome (pré-nome) é VINCI.

  2. Grande gênio!! Adorei o artigo, deu pra conhecer um pouquinho mais do gênio DaVinci

  3. Eu sou escritor e tive como uma de minhas referências, Leonardo Da Vinte, para escrever um livro de crônicas, intitulado: Crônicas do Cotidiano, pois esse genial pintor e cientista realizou grandes obras e serviu de guia para outros através de seus estudos. Deixando enfim, um grande legado histórico, científico e cultural para toda a humanidade.

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