Listas

Mulheres à beira de um ataque de nervos

15 / setembro / 2017

Por João Lourenço*

Você tem mania de limpeza? É viciada em calmantes? Sempre está com uma taça de champanhe na mão? Fala alto, conversa sozinha, interrompe as pessoas e gosta de ser o centro das atenções? É hipocondríaca, apresenta instabilidade emocional? Suas amigas te deixam louca? Ou é você quem enlouquece suas amigas? Cuidado, você pode ser uma neurótica! Na verdade, esse termo não tem o mesmo peso que tinha no passado. Em geral, a tal da neurose não se trata mais de algo clínico. Qualquer comportamento exagerado, um pouco fora dos padrões, pode ser tido como neurose… Mas não se preocupe, um pouco de neurose não faz mal a ninguém. Louco é aquele que nunca perde o controle. 

São vários os tipos de neuróticas. As mais comuns são aquelas que têm consciência da condição e abraçam essa característica. Há também as neuróticas enrustidas, aquelas que tentam mudar, controlar a neura. Esse é o caso da Eleanor Flood, protagonista do novo romance de Maria SempleHoje vai ser diferente. Eleanor não é má pessoa — assim como a maioria das neuróticas também não são. Eleanor é o tipo de mulher que faz listas mentais de tudo que precisa ser diferente em sua vida. Ela quer muito mudar: deseja ser uma mãe melhor, uma amiga melhor, uma esposa melhor. Enfim, uma versão melhor de si mesma. Porém, assim como na vida real, muitos imprevistos e surpresas desagradáveis surgem na vida de Eleanor.

Como não pirar quando tudo desmorona? Apesar de tantos obstáculos, Eleanor tenta encontrar soluções inusitadas para os problemas do cotidiano. Ela é uma personagem cativante que garante boas risadas e reflexões sobre as nossas neuroses do dia a dia. Irônico, engraçado e humano, a história de Eleanor está em processo de adaptação para a telinha, tendo Julia Roberts no papel principal — para neurótica nenhuma botar defeito. 

Abaixo, selecionamos seis personagens neuróticas de filmes e seriados de TV. Ame ou odeie-as. 

 

Carrie Bradshaw — Sex and the City

 

A série televisiva Sex and the City abriu o caminho para produções originais que abordam o universo feminino. Quem nunca quis sentar para um brunch com Samantha, Charlotte, Miranda e Carrie? Esta última sempre foi a personagem que mais dividiu opiniões. Carrie é independente, fashionista, assina uma coluna semanal sobre sexo para o jornal The New York Star e mora em um charmoso apartamento no coração de Manhattan. Ela é a it girl que você quer ser amiga e, às vezes, também consegue ser aquela pessoa insuportável que queremos distância: narcisista, egoísta e cheia de manias. É a típica neurótica que fuma um cigarro atrás do outro e não sai de casa até o “contatinho” ligar. Carrie Bradshaw, apesar de boa amiga, sempre quer ser o centro das atenções. 

 

Chris — I love Dick 

 

Por muitos anos, Kathryn Hahn estrelou como coadjuvante em filmes independentes. Na série da Amazon I Love Dick, ela rouba todas as cenas. Chris é uma cineasta que não produz nada original há anos. Frustrada com a profissão, ela decide seguir o marido, Sylvester (Griffin Dunne), para uma cidadezinha no interior do Texas, onde ele ganhou uma bolsa para estudar na famosa instituição do artista plástico Dick (Kevin Bacon). Em proporções diferentes, o casal se apaixona pelo sedutor Dick. Chris cria inúmeras fantasias e conspirações sobre Dick e transforma tudo isso em um diário picante. Para chamar a atenção do seu objeto de desejo, ela imprime o diário e distribui para a cidade inteira ler. Além de perseguir Dick por todos os cantos, a personagem de Chris se humilha, cria cenas que causam vergonha alheia — no espectador e nos outros personagens — e faz jogos mentais com o marido. Ou seja, um prato cheio! Ela é a mulher mais imprevisível da telinha. 

 

Madeline — Big Little Lies

 

Além de produtora da badalada série da HBOBig Little Lies, baseada no romance Pequenas grandes mentiras, de Liane Moriarty, Reese Witherspoon também encarnou uma das protagonistas: Madeline. Ela é aquela neurótica que sabe que é neurótica, mas não tem nenhuma vontade de mudar. Madeline mora em uma mansão de frente para o mar, tem tudo que o dinheiro pode oferecer, porém sempre está entediada. Ela está no segundo casamento e é mãe de duas filhas. Pense em uma mãe tigre, aquela que se envolve nas brigas das meninas. Ela também não mede esforços para criar climão com quem se mete em seu caminho. Madeline arruma confusão até com o prefeito da cidade. A última palavra é sempre dela e ela não pensa duas vezes antes de te mandar para aquele lugar. Todos temem a sua língua ferina. Madeline é control freak, se apega a pequenos detalhes e sabe da vida de todo mundo. Mas não é só de barraco que ela sobrevive. Madeline também protege e aconselha as amigas desafortunadas.  

 

Brooke Cardinas — Mistress America

 

No tragicômico Mistress America, fica difícil acompanhar a rotina e as ambições da personagem Brooke Cardinas. Interpretada por Greta Gerwig, que coassina o roteiro do longa, Brooke é um retrato irônico da geração millennial. Brooke faz um pouco de tudo, mas não termina nada que começa. Ela pretende abrir um restaurante, mas, enquanto o sonho não se concretiza, trabalha como decoradora, designer de moda, instrutora de SoulCycle e tutora de matemática para adolescentes ricos. Ufa! Brooke acredita que as pessoas só se aproximam dela para roubar as suas ideias. Esse lado supersticioso e neurótico da personagem rende boas gargalhadas. Em tempos de crise, Brooke apela até para clarividentes. Ela é um personagem que não percebe que muitos de seus sonhos são irrealizáveis. Mas ela jura que: “Sei tudo sobre mim mesma, é por isso que não posso fazer terapia.”

 

Jasmine — Blue Jasmine 

 

O diretor do longa Blue Jasmine, Woody Allen, ficou conhecido por criar personagens neuróticos — lembra de Annie Hall? Em todos os filmes de Allen você encontra personagens que apresentam algum tipo de transtorno obsessivo compulsivo: pessoas que falam demais, excêntricas, paranoicas, desconfiadas até da própria sombra. Em Blue Jasmine não é diferente. Jasmine é uma socialite nova-iorquina que tem a vida virada do avesso quando o marido vai preso, deixando ela na rua da amargura. Jasmine começa a sofrer de transtorno delirante, ou seja, ela não aceita a nova realidade. Então faz de tudo para manter as aparências. Ela apresenta todas as características de uma neurótica de carteirinha: fala sozinha, aborda estranhos na rua para conversar sobre a vida privilegiada que tinha com o marido e por aí vai. Ela também apresenta delírios de grandeza e é compulsiva por compras e roupas de grife. Quando nada faz efeito, ela tenta se acalmar com uma mistura poderosa de calmante e champanhe. O papel rendeu o segundo Oscar da carreira de Cate Blanchett. 

 

Aura — Tiny Furniture 

 

Antes de ser a controversa Hannah Horvath, no seriado Girls, Lena Dunham dirigiu e escreveu Tiny Furnitures. No filme independente, Dunham interpreta Aura, uma recém-graduada em Teoria do Cinema que não sabe o que fazer com o diploma — e com a própria vida. Aura explora os conflitos comuns a qualquer pessoa, como a transição da juventude para a idade adulta. Ela volta a morar na casa dos pais, mas percebe que a mãe e a irmã mais nova estão distantes e não precisam dela por perto. Aura também não consegue mais se conectar com os amigos de infância. À deriva, entediada e sozinha, ela começa a fazer amizades com webcelebridades do YouTube e passa a trabalhar como ajudante em um restaurante. Para completar, ela tem aquele famoso “dedo podre” para homens, só se envolve com gente comprometida ou emocionalmente distante. 

 

João Lourenço é jornalista. Passou pela redação da FFWMAG, colaborou com a Harper’s Bazaar e com a ABD Conceitual, entre outras publicações estrangeiras de moda e design. Atualmente está em Nova York tentando escrever seu primeiro romance.

 

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *