Se você leu Caixa de pássaros, já deve saber que uma das características mais legais da escrita de Josh Malerman é nos deixar com medo e assustados o tempo todo. Em Piano vermelho, novo thriller do autor, a sensação não é diferente. Na obra, Josh conquista o leitor com uma narrativa aterrorizante sobre uma banda recrutada para investigar a origem de um misterioso som no deserto de Namibe, na África, com enorme poder de destruição.
Para dar uma prévia do que o leitor pode esperar da nova obra, disponibilizamos um trecho. Leia:
“O paciente está acordado. O som de uma música composta por ele está sumindo, como se, enquanto ele dormia, tivesse tocado sem parar, a trilha sonora de seu sono inacreditável. Ele se lembra de cada detalhe do deserto. A primeira coisa que vê é uma pessoa. Essa pessoa é o médico. De calça cáqui e camisa havaiana, não está vestido como um médico, mas o brilho da ciência em seus olhos o denuncia.
— Você está gravemente ferido. — Sua voz é confiança. Sua voz é controle. — É uma lesão sem precedentes, soldado Tonka. Sobreviver a algo tão… — Ele ergue os punhos à altura do peito, como se amparando uma palavra que caiu. — … injusto.
Philip identifica mais do que medicina no homem de pé em frente à cama. O físico forte e definido. O cabelo com uma perfeição além do normal, a pele tão lisa quanto uma duna do deserto. Aquele médico é militar.
— Agora, deixe-me dizer por que isso é uma coisa incrivelmente difícil de acontecer — continua ele.
Philip não processou por completo a sala onde está. Sua visão periférica está fora de foco. Há quanto tempo está ali? Que lugar é este? Mas o médico não responde a perguntas não solicitadas.
— Se você tivesse quebrado apenas os pulsos e os cotovelos, poderíamos supor que caiu no chão de certa forma. Mas também quebrou os úmeros, os rádios e as ulnas. Suas tuberosidades radiais, os processos coracoides, as troclear e todos os vinte e sete ossos das mãos. — Ele sorri. O sorriso indica que Philip deveria compartilhar de seu assombro. — Não espero que saiba o nome de cada osso do corpo humano, Philip. O que eu estou dizendo é que você não quebrou só os pulsos e os cotovelos. Você quebrou quase tudo.
Philip ouve sussurros vindos de repente de algum lugar que ele não consegue ver. Talvez vozes em um corredor. Philip tenta virar a cabeça para olhar. Não consegue. Não consegue mexer o pescoço. Ele abre a boca para dizer alguma coisa, para dizer que não consegue se mover, mas a garganta está seca como areia no verão. Ele fecha os olhos. Vê marcas de cascos naquela areia.
— Agora, se você tivesse quebrado só as mãos e os braços, eu poderia imaginar que se envolveu em um acidente. Em uma prensa ou alguma espécie de torno, por exemplo. Talvez os dois braços estivessem apoiados no tampo de uma mesa e foram esmagados por algo pesado. Mas, é claro, você não quebrou só as mãos e os braços. Também tem fraturas nos fêmures, nas tíbias e nas fíbulas das duas pernas, assim como nas patelas, nos epicôndilos mediais, em todos os eixos transversais, o que por si só teria sido suficiente para provocar o coma, além da maioria dos vinte e seis ossos de cada pé.
— O médico fala com tanta liberdade, movimenta-se com tanta saúde, que Philip se sente afrontado. — Suponho que alguém poderia reencenar o ocorrido, colocando- -o na beira de um penhasco, braços e pernas pendurados sobre o abismo, enquanto algo cruelmente concebido para atingir apenas cada um dos ossos já mencionados caiu do céu, causando-lhe o mais violento conjunto de fraturas que já vi. Mas, não. Seus infortúnios não param por aí.”
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