testeDe Girls in the House para as livrarias: Duny vai lançar um livro!

Barraqueira e desbocada, Duny está disposta a tudo para se tornar uma celebridade. Uma das estrelas da websérie Girls in the House, atualmente na terceira temporada e com mais de 100 milhões de views no YouTube, a diva dos memes com humor para lá de ácido (para dizer o mínimo) já ganhou até uma série própria, Disk Duny, em que é acionada para resolver diversas tretas do mundo pop.

Num dos episódios mais famosos, “Kim Expõe Taylor”, Duny revela tudo o que rolou na célebre briga entre Taylor Swift e as Kardashian:

Além de ajudar Lady Gaga a achar Tony Bennett, que não tem mais retornado suas ligações, ou salvar a cantora Sia, mantida em cativeiro pela Beyoncé, Duny também é comentarista on-line de premiações como o Oscar e o Grammy para uma grande rede de TV.

Duny Eveley é criação do carioca Raony Phillips, que tem mais de 1,2 milhão de inscritos em seu canal, o RaoTV. Aos 24 anos, Raony roteiriza, edita, sonoriza, compõe a trilha sonora e dubla praticamente todas as falas de suas webséries, produzidas na plataforma do jogo The Sims.

Em entrevista à Revista Galileu, Raony explica o sucesso de suas séries na internet: “Acho que é importante fazer uma história em que os personagens sejam como todos nós. Falta um pouco disso nos personagens de séries em geral. Escrevo as falas de forma livre e espontânea e procuro falar a língua das coisas da nossa realidade, coisas que vivemos.”

Raony e suas personagens

Para todos que já amam a Duny ou que ainda não conheceram sua trajetória repleta de lacres, barracos e baixarias cometidos em busca da fama, a Intrínseca publica em 1º de agosto Meu livro. Eu que escrevi, autobiografia recheada do início ao fim com o melhor da ironia (ou grosseria) moderna e total ausência de preciosismo vernacular.

Já que Duny não perderia a oportunidade de aparecer, confira o áudio de um trecho inédito do livro que já está em pré-venda. 

E a capa:

testeSorteio Facebook 23.06.17 [Encerrado]

Vamos sortear três exemplares dos nossos lançamentos mais recentes. Para participar, compartilhe PUBLICAMENTE a foto do sorteio no seu perfil do Facebook e preencha o formulário abaixo. O resultado será divulgado em 26 de junho (segunda-feira) de 2017.

 

Confira os vencedores abaixo: 

 

testeVozes dissonantes

FOTO: KAORU/CPDoc JB

A impressão de longe, tanto tempo passado, é a de que a geração dos meus pais era algo monolítico e que todos pensavam da mesma forma. Engano. Nos anos 1972 e 1973, o movimento de rua já havia terminado. Os sequestros e assaltos a banco também. O milagre econômico, a propaganda maciça e o apelo ao “patriotismo” alienavam a maioria dos jovens. O AI-5 calara a maioria das vozes. 

É nesse silêncio que um grupo pequeno no Espírito Santo decide manter um movimento improvável, incluindo meus pais: Marcelo Netto e Míriam Leitão. É nesse contexto que a história de Em nome dos pais se passa. Por isso, digo no livro que eles pareciam alienígenas. 

Gal Costa lançara seu Fa-Tal – Gal a todo vapor em novembro de 1971. O disco estourou, quebrando o silêncio imposto pelo regime. As músicas de Gal tinham versos fortes, e sua voz cristalina como água era um protesto lírico e triste: “No fundo do peito esse fruto, apodrecendo a cada dentada”, ou “Oh, sim, eu estou tão cansada, mas não pra dizer que eu não acredito mais em você”, ou “Assum preto, seu cantar é tão triste quanto o meu”.

 

 
O ambiente era o terror do governo Emílio Garrastazu Médici, o pior do regime militar e no auge de sua força. 

Eu os descrevo solitários, andando nas ruas, escrevendo nas paredes alguns recados como “Abaixo a ditadura” ou fazendo reuniões secretas com um importante diretor da União Nacional dos Estudantes. Reunião é modo de dizer, porque apresento um encontro do meu pai com o então líder estudantil Ronald Rocha, com tudo o que um contato clandestino tem: andavam e conversavam por vários quarteirões de Copacabana olhando para os pés.

Havia poucas válvulas de escape, e a maioria nem entendia o que estava de fato acontecendo no país. Mesmo na universidade. Por isso cada ato era tão valioso. Como fazer uma greve universitária num momento assim? Meu pai, Marcelo, conseguiu liderar uma greve na medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. 

Certa vez, Míriam foi fazer sua primeira ação na rua com uma fita-cola. Tinham, ela e uma colega, que passar um algodão molhado atrás e pregar. E passaram. E colaram. Mas um agente da área de inteligência percebeu o movimento e foi se aproximando até que, pimba! Segurou o braço de minha mãe. Ela gritou pedindo socorro, fazendo-se de vítima. Virou uma confusão. O homem soltou e elas correram.

Na ditadura, quatro anos fizeram uma enorme diferença de clima e ambiente. Quem viveu 1968 viu passeatas, manifestações, o movimento de rua. De certa forma havia esperança. Em 1972 era outra história, e é essa que conto em nome dos meus pais e dos amigos deles de Vitória. Eles eram poucos.

>> Leia um trecho de Em nome dos pais

testeConheça nosso estande na FNLIJ, inspirado em Extraordinário

Cercado de livros, o inesquecível August Pullman é o homenageado do estande da Intrínseca no 19º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, que acontece até 28 de junho no Rio de Janeiro. Além de todos os livros da família Extraordinário, nosso espaço reúne uma seleção especial de títulos para crianças e jovens e está recheado de materiais exclusivos e descontos.

Pais e educadores que forem ao evento também terão a oportunidade de conhecer Sr. Tigre solto na selva, livro do premiado autor e ilustrador Peter Brown que recebeu o Selo Altamente Recomendável FNLIJ 2017. Indicado para crianças de 4 a 6 anos, a fábula do sr. Tigre incentiva o respeito às diferenças e a liberdade de sermos quem realmente somos.


Local: FNLIJ – Centro de Convenções SulAmérica
Av. Paulo de Frontin nº 1 — Cidade Nova, Centro, Rio de Janeiro
Estande da Intrínseca: 12
Horário: Segunda a sexta: 8h30 às 17h
Sábados e domingos: 10h às 18h

 

Ingresso para entrada na FNLIJ: R$ 12,00
Gratuidade para maiores de 60 anos, portadores de deficiência, professores da rede municipal do Rio de Janeiro e instituições que trabalham com crianças e jovens de comunidades de baixa renda, contanto que pré-agendadas com a FNLIJ. Mais informações.

testeNem tudo é o que parece ser

Por Flávio Izhaki*

Que tal tentar iniciar a conversa com um caso? Uma amiga telefona e conta que o bebê que está para nascer foi diagnosticado com síndrome de Down. Na mesma semana, enquanto você espera o Uber, o porteiro do seu prédio lhe mostra a foto do filho sorrindo e você percebe que ele também tem Down. De repente, você pode pensar que está todo mundo tendo filho com Down, então você também terá. Porém, como é uma doença genética e você não tem nenhuma ligação de sangue com aquelas duas pessoas (sua amiga e o porteiro), a chance de seu filho ter essa condição segue a mesma hoje do que era na semana anterior.

Um caso simples como esse poderia ter sido o início da observação que levou Daniel Kahneman e Amos Tversky a estudarem como a mente humana, supostamente racional, chega a conclusões que nem sempre são racionais. Segundo os estudos de Kahneman e Tversky, as pessoas muitas vezes apoiam suas decisões em uma narrativa quando seria natural supor que fariam isso amparados em dados e porcentagens.

Michael Lewis tem um jeito peculiar de escolher as histórias que vai contar. O leitor brasileiro que gostou de Moneyball (sobre as imperfeições no mercado de jogadores de beisebol) e Flash Boys (a revolução da velocidade no mercado de capitais), ambos publicados pela Intrínseca, pode pegar O projeto desfazer na livraria e perguntar sobre o que afinal se trata esse novo livro de título enigmático.

A teoria que intitula o livro fala de como, ao tentar refazer as situações que levaram a um fato, a nossa mente se engana ao pensar que uma situação específica pode ser mais impactante que outras, mesmo quando não é, e de como isso pode ser manipulado por uma narrativa. O título do livro não remete apenas à teoria, mas como de um encontro fortuito entre dois brilhantes cientistas nasceram teorias de economia comportamental e psicologia que impactariam o mundo em áreas tão díspares como medicina, política, economia, esporte e militar.

Desta vez a história quase veio até Lewis. Um artigo publicado depois de Moneyball falava sobre a teoria desses dois psicólogos israelenses e de como ela explicava o livro (apesar de Lewis não conhecê-la). Por coincidência, Danny Kahneman mora há alguns quilômetros da casa de Lewis, enquanto o filho de Tversky foi seu aluno na Universidade da Califórnia.

O que sustenta o arcabouço de O projeto desfazer, assim como nos livros anteriores de Lewis, é a magistral capacidade de dar empatia aos personagens transpostos da vida real. A nova obra fala das teorias desenvolvidas pelos cientistas, mas o que dá sabor ao livro é a estranha amizade entre dois gênios tão diferentes, o background de Israel dos anos 1960 e 1970 que estimulava novas descobertas, de preferência com implicações práticas, ou, nas palavras de Lewis em entrevistas, um pré Vale do Silício.

Danny Kahneman é um filho do Holocausto, introvertido, inseguro, casmurro, enquanto Amos Tversky é extrovertido, o centro das atenções de qualquer festa, atlético, paraquedista do Exército israelense. Intelectualmente, Danny sempre tinha a certeza de estar errado. Amos, a de estar certo.

Com a habilidade narrativa de Michael Lewis, mesmo num livro cuja a temática não é simples, a impressão que temos ao ler O projeto desfazer é de uma grande conversa de décadas entre melhores amigos, um bromance com risadas, tensão, discórdia, avanços, alegrias e decepções. Mas não foram amigos quaisquer, e sim cientistas inovadores que, de certa forma, mudaram o mundo.

Kahneman, um psicólogo, terminou recebendo o Prêmio Nobel de Economia, o que Tversky certamente teria alcançado também se não tivesse morrido prematuramente em 1996. Mas aqui cometo um erro bem típico e que os dois se regozijariam ao apontar: uma previsão é apenas um julgamento que envolve incertezas.

*Flávio Izhaki é autor de três romances. O mais recente, Tentativas de capturar o ar (Rocco), foi lançado em 2016.

testeConheça Dias bárbaros, premiada biografia de William Finnegan, autor convidado da Flip

Em autobiografia vencedora do Prêmio Pulitzer, jornalista da revista The New Yorker apresenta o surfe em uma perspectiva extremamente pessoal, original e surpreendente

Mauí, 2005. FotoDonald Miralle/Getty Images 

O surfe é um esporte, mas só para os que apenas assistem. Para quem surfa, trata-se de muito mais: um vício, uma arte, um estilo de vida. William Finnegan viveu a infância na Califórnia e no Havaí, e aprendeu cedo a surfar. Ao longo da vida, viajou o mundo em busca das melhores ondas.

Amante de livros e de aventuras, Finnegan tornou-se um escritor e correspondente de guerra de grande prestígio. Também é colaborador regular da revista The New Yorker desde 1987 com artigos escritos de várias partes do mundo, como América Central, América do Sul, Europa, Austrália e Estados Unidos. Em julho, o autor vem ao Brasil para participar da Festa Literária de Paraty e lançar Dias bárbaros, autobiografia vencedora do Prêmio Pulitzer em 2016.

Em Dias bárbaros, que será publicado em 30 de junho, ele compartilha, através de sua trajetória no surfe, as histórias da época em que pertencia a uma gangue de meninos brancos em Honolulu, a loucura que impregnou jovens e adultos na década de 1960, sua vivência das ondas mais famosas do mundo e tudo o que aprendeu com elas — do pesar de ter usado LSD para desbravar a baía de Honolua, em Maui, à satisfação intensa de atravessar os recifes da Polinésia de mapa em punho para descobrir uma das maiores ondas que existem.

À medida que as viagens de Finnegan o levam cada vez mais longe, suas memórias ganham um viés deliciosamente improvável, quase antropológico, que explora da simplicidade pitoresca de uma aldeia de pescadores em Samoa às excêntricas regras tonganesas para o sexo com estrangeiros. Mais do que um livro de aventura, Dias bárbaros é uma autobiografia inteligente, uma história social e um road movie literário. Apresenta de modo surpreendente o domínio gradual de uma arte tão exigente quanto magnífica, narrado com uma voz que transporta o leitor até as águas, as ondas, os povos e os países que Finnegan conheceu, extrapolando tempo e espaço em uma das melhores viagens que um livro será capaz de proporcionar.

testeDivulgado elenco completo do filme inspirado em Simon vs. a agenda Homo Sapiens

Com Nick Robinson e Katherine Langford (a Hanna de 13 Reasons Why), o filme inspirado no romance de Becky Albertalli já tem elenco completo.

Dirigido por Greg Berlanti, responsável pela adaptação do universo da DC Comics em produções como Lanterna Verde, Arqueiro Flash, e mais conhecido por seu trabalho nas séries de TV Dawson’s Creek Brothers & Sisters, o filme tem roteiro de Isaac Aptaker e Elizabeth Berger. A produção caberá ao mesmo time que levou A Culpa é das Estrelas aos cinemas.

CUIDADO: se você ainda não leu o livro, aqui embaixo tem spoilers!

O ator Keiynan Lonsdale, da série Divergente, foi escalado para interpretar Bram Greenfeld.

As filmagens estão quase no fim, e as primeiras imagens divulgadas mostram Jennifer Garner e Josh Duhamel nos papéis dos pais de Simon. O filme tem estreia prevista para o primeiro semestre de 2018.

 

Confira o elenco completo:

Nick Robinson será Simon Spier

 

Katherine Langford será Leah Burke

 

Miles Heizer será Cal Price

 

Alexandra Shipp será Abby Suso

 

Jorge Lendeborg Jr. será Nick Eisner

 

Logan Miller será Martin Addison

 

Talitha Bateman será Nora Spier

 

Tony Hale será Sr. Worth (diretor da Creekwood High School)

 

Natasha Rothwell será Sra. Albright

 

Mackenzie Lintz será Taylor

 

Clark Moore será Ethan

 

Colton Haynes será Kevin (chamado de Peter no livro)

testeCultos e mortes na década do paz e amor

Por Clarissa Wolff*

Em As garotas, Emma Cline se inspira em uma trágica história real para falar do amadurecimento feminino.

As garotas da vida real, durante o julgamento da “família” Manson (fonte)

Os anos 1960

Dos meus 10 aos 16 anos (tá bom, talvez 26), meu sonho era participar de uma sociedade secreta. Fui fundadora de umas três ou quatro, com nomes em latim ou em francês, e cuja única integrante era eu mesma. A sociedade secreta que deu mais ou menos certo foi no quinto ou sexto ano da escola. Usei todo o conhecimento roubado da minha mãe, que é médica, e levava informações sobre a puberdade para minhas colegas. Juntas, estudávamos o estagiamento de Tanner, comparávamos o tamanho dos seios e calculávamos o tempo para que cada uma menstruasse. O grupo se chamava G.A.S.P. (Garotas Avançando no Saber da Puberdade — eu não era tão criativa nessa época) e tinha dez regras em uma lista impressa em papel azul e fonte Garamond — pela qual eu estava obcecada após descobrir que era a usada na edição de Harry Potter. Lembrei-me recentemente dessa pérola em uma viagem para a casa dos meus pais, em Porto Alegre.

A pré-adolescência e a juventude são a epítome da necessidade de pertencer, de ser aceito, e, mais que isso, de ser especial. Como diria The Killers, “it’s only natural”. Hoje temos grupos no Facebook e no WhatsApp que saciam essa ânsia, mas nos anos 1990 nada disso existia. Nos Estados Unidos dos anos 1960 e 1970, muito menos.

Os anos 1960 viram o país sair do torpor pós-Segunda Guerra Mundial e mergulhar na realidade da Guerra Fria e da Guerra do Vietnã, o que levou os movimentos de esquerda de paz e amor ao enfrentamento. A década presenciou a morte dos heróis do movimento negro em 1965 (Malcolm X) e 1968 (Martin Luther King Jr.) e o surgimento dos Panteras Negras. Viu o feminismo se desenvolver como movimento político a partir da publicação em 1963 de A mística feminina, de Betty Friedan, e crescer e se fortalecer nas mãos de heroínas como Angela Davis, Shulamith Firestone e Andrea Dworkin, que lutavam pelo fim do estupro, da pornografia e pelo direito ao aborto (finalmente alcançado em 1973). Viu o Verão do Amor em 1967 e o Woodstock em 1969.

Esse era o momento de encontrar um propósito, um lugar para pertencer, sua religião e seu messias. E foi a década de 1960 que viu nascer Charles Manson.

 

O culto mais famoso do mundo

Minto. Na verdade, Charles Manson nasceu em 1934. Mas me refiro ao mito: aquele sobre quem vemos referências nos nomes de bandas e artistas como Kasabian e Marilyn Manson, na literatura de Thomas Pynchon e Joan Didion, em filmes e em músicas. Esse sim nasceu nos anos 1960.

No Brasil, muita gente não faz ideia de quem é Charles Manson — e, mesmo assim, as chances de termos deparado com uma versão distorcida de alguma referência a ele em filmes exibidos na “Tela Quente” ou na “Sessão da Tarde” são bem grandes. Mas lá fora Manson definiu uma geração. Vendido ainda pequeno pela mãe alcóolatra em troca de uma garrafa de vodca, ninguém esperava que ele se tornasse um cidadão exemplar. Manson acreditava que era um messias, usava técnicas de manipulação inteligentíssimas, drogava seus seguidores com LSD e anfetamina, obrigava suas seguidoras a transar com ele e era tão perturbado quanto foi poderoso para aquele grupo. Dezenas de biografias, estudos, documentários e reportagens tentaram desvendar e entender a mente por trás do culto mais famoso do mundo: a família Manson.

O carismático líder acreditava na supremacia branca e que as mulheres deviam atender suas necessidades. É natural que, como produtos de uma sociedade patriarcal que treina mulheres à submissão e ensina-lhes que seu valor reside na opinião de um homem, elas sejam as presas mais fáceis. Ainda assim, a família contava com um ou dois homens entre os mais ou menos 15 integrantes que acreditavam plenamente no discurso de Manson.

Apesar disso, o que ele realmente queria era ser famoso. Em uma era pré-reality show, Manson recorria a seu suposto talento como músico e a sua ligação com Dennis Wilson, do Beach Boys, para que seu sonho se tornasse realidade. Não conseguiu. Frustrado, raivoso, descontrolado, instruiu que seus seguidores invadissem a casa onde acreditava que morava o produtor musical que o havia rejeitado. Eles deveriam matar quem encontrassem. Havia quatro pessoas, inocentes, sem ligação com a vítima desejada: entre elas estava a atriz Sharon Tate, na época mulher do diretor de cinema Roman Polanski, grávida de oito meses. O transe não acabou, e os assassinatos continuaram até somarem nove vítimas.

Era, de fato, o fim da paz e do amor na Califórnia.

Sharon Tate, na época casada com o diretor Roman Polanski, foi a vítima mais conhecida do culto de Manson. (Fonte)

 

As garotas de Manson

Apesar dos múltiplos relatos sobre o terrível homem por trás disso tudo, pouco se fala sobre as garotas que estrelaram esses acontecimentos. Havia Linda Kasabian, a integrante do culto que finalmente foi até a polícia e revelou detalhes dos crimes, horrorizada com o que tinham feito, e Patricia Krenwinkel, atualmente a mulher presa há mais tempo no sistema penitenciário dos Estados Unidos. Mas as garotas que atraíam olhares de verdade não eram elas.

Leslie Van Houten era linda, tinha cabelos pretos, a pele clara e traços aristocráticos. Era a mais nova integrante do culto. Com um sorriso perfeito, um olhar penetrante e naturalmente sensual, de corpo altivo e elegante, Leslie era uma mulher confiante mesmo aos 19 anos. Ficava difícil desviar o olhar de alguém como ela. As entrevistas posteriores vão aos poucos mostrando a menina se tornando mulher, primeiro em 1977, depois em 1994, e finalmente em 2015, cada vez mais humana, o remorso explícito, tentando ela mesma entender o que tinha se passado.

Havia ainda Susan Atkins, assustadora em cada entrevista subsequente, com o rosto alongado, a voz e os traços infantis mesmo com 30 anos. Assistir às entrevistas de 1976 é ter certeza de que estamos frente a frente com uma bruxa. É impossível desviar os olhos, e é impossível continuar olhando. O arrepio que acompanha a voz de timbre agudo, meio sussurrada, recontando cada momento dos assassinatos, vai subindo pela coluna até eriçar cada pelo do corpo. Susan parece continuar num estado permanente de apatia, como se ainda não tivesse acordado do torpor das drogas. Mesmo em 2009, já de cabelos brancos, a voz permanece a mesma.

Mas as três garotas que entraram rindo diante do juri para responder aos crimes de 1969 também tiveram histórias antes da família Manson, foram produtos da sociedade e do abuso psicológico, físico e emocional de seu líder.

Elas também não deixam de ser vítimas.

 

Um grande livro de estreia

A culpa e a inocência são conceitos abstratos quando existem estruturas capazes de levar indivíduos a determinadas situações. Tendo em vista que a sociedade, o contexto e a opressão influenciam as pessoas, como é possível julgar quem é culpado e quem é inocente?

As garotas de Manson são os dois.

É nesse cenário nebuloso que se passa As garotas, de Emma Cline. O romance de estreia acompanha a vida de uma protagonista apaixonada por sua versão ficcional, uma mistura de Leslie e Susan. Entramos sem convite no mundo de drogas e abuso do culto mais famoso do mundo — mas, acima de tudo, entramos no mundo de uma adolescente que está crescendo e se formando como ser humano, aprendendo o que realmente significa viver e amar.

A narrativa sublime, o cuidado com os detalhes, o impacto de imagens poderosas e as metáforas estranhas e precisas parecem, às vezes, nos enganar: tal qual Vladimir Nabokov em Lolita, Cline às vezes nos faz esquecer de que estamos lendo uma história de horror. O domínio da linguagem nos faz pensar em uma Donna Tartt jovem, mas a capacidade de mergulhar nas ânsias, nos medos e na essência do sentimento adolescente pode nos remeter a um John Green um pouco macabro. E nesse cenário de beleza e repulsa encontramos, mais que uma resposta, a pergunta que faz sentido: o que define nossa inocência, senão o acaso?

>> Leia um trecho de As garotas

 

*Clarissa Wolff escreve desde pequena e já contribuiu para Rolling Stone, UOL e VICE, entrevistando bandas e escritores. Mantém um blog sobre cultura em geral e um canal no YouTube sobre literatura.