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American Gods: uma (excelente) oferenda para a deusa da televisão

7 / junho / 2017

Toda vez que uma adaptação para a televisão ou para o cinema é anunciada, bate aquele medo de que nossos livros favoritos não sejam retratados da forma que esperávamos. O medo fica ainda maior quando o projeto é adiado, muda de canal de TV e é rescrito diversas vezes. Deuses americanos é um desses casos.

Desde 2011 em um limbo dos roteiros que nunca ficam prontos, e após mudar de produtoras, roteiristas e emissoras, a série finalmente chegou a nós, mortais, em 2017, e todo o receio que os leitores tinham foram dissipados nos primeiros segundos da série. Shadow e Wednesday estão perfeitos na série, que narra suas desventuras por uma América de deuses esquecidos.

Se no livro a placidez e a apatia de Shadow Moon irritaram alguns leitores, na televisão o ex-presidiário é um personagem muito mais pró-ativo, que reage ao mundo absurdo que descobre quando aceita trabalhar como guarda-costas de um Sr. Wednesday praticamente saído das páginas de Gaiman, ardiloso e sempre com cara de que sabe muito mais do que aparenta. Juntos os dois são apresentados aos novos deuses, que passaram por algumas atualizações em relação ao livro, escrito no final da década de 1990.

A deusa da mídia, que originalmente aparecia em aparelhos de TV antigos de motéis de beira de estrada, agora aparece em telas de LED com alta resolução, assumindo a forma de diferentes personagens da cultura pop, como Marilyn Monroe e David Bowie, sempre nos alertando sobre a quantidade inestimável de tempo que perdemos vidrados em nossos celulares e tablets. No livro, o deus da tecnologia se assemelha muito mais a um personagem de Matrix do que o da série, uma espécie de Youtuber com milhões de seguidores.

A deusa da Mídia, como David Bowie (Fonte)

Já os deuses clássicos retratam a decadência dos seres que só existem enquanto são louvados. Uns encontraram formas de sobreviver nos tempos modernos, como o deus da forja e do fogo, que criou um culto em torno de uma fábrica de armamentos – como o próprio diz, a forma mais fácil de colocar um vulcão na mão de cada fiel é dar a ele uma arma. Outros, como Odin e Czernobog, querem enfrentar as novas divindades e recuperar a glória do passado. Não por acaso, boa parte dos deuses antigos é representada por imigrantes —  idosos, cansados, que não mais desfrutam do esplendor e juventude que outrora tiveram em sua terra natal.

Até agora já foram exibidos seis episódios da primeira temporada – que vai abordar aproximadamente um terço do livro –, e os produtores puderam mostrar com calma a chegada à América de deuses como Odin, Anansi, entre outros. Além disso, o ritmo mais lento da produção em relação ao material original permitiu que todas as esquisitices, as cenas polêmicas e os detalhes que apenas imaginávamos lendo o livro saíssem das páginas e inundassem a tela, sem nenhum tipo de corte ou censura. (É importante lembrar: a série não é indicada para menores de 18 anos)

Muito mais do que uma história sobre a guerra entre deuses novos e velhos, American Gods é uma história sobre imigração, preconceitos e a descoberta de nós mesmos. A série é exibida na Amazon Prime Video, com novos episódios todas as segundas-feiras. E, enquanto a segunda temporada não tem data de estreia confirmada, os fãs podem continuar a jornada na edição preferida do autor de Deuses americanos, lançada pela Intrínseca no ano passado e que traz diversos conteúdos extras, incluindo uma entrevista hilária com Neil Gaiman.

Comentários

Uma resposta para “American Gods: uma (excelente) oferenda para a deusa da televisão

  1. A série está sensacional. Mesmo baseado num único livro, o modo como a história está sendo dividida e contada é muito eficiente. Não se sente uma enrolação, mas uma preparação para o terreno do que está por vir, além de aprofundar certos personagens. American Gods está sendo uma grata surpresa.

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