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Mulheres atraídas pela morte

5 / maio / 2017

Por Vanessa Corrêa*

Rosamund Pike e Ben Affleck em cena de Garota exemplar

O que você seria capaz de fazer para morar em uma casa perfeita?

Jane estava disposta a fazer uma série de mudanças na vida para se tornar a moradora da casa de número 1 da Folgate Street, em Londres. Ela abriu mão de ter animais de estimação, de deixar a louça do jantar na pia para ser lavada no dia seguinte ou de espalhar suas coisas pela casa. Aceitou se submeter a testes psicológicos e ter seus hábitos e sua saúde monitorados. Confiou em um sofisticado sistema de tecnologia capaz de sugerir o melhor momento para acordar ou a melhor seleção musical para ouvir.

Para Jane, todas as regras valiam a pena, pois em troca lhe foi concedido o privilégio de viver em um lugar considerado um ícone da arquitetura moderna, a tradução máxima do conceito de minimalismo. Ela só não conseguiu ignorar a misteriosa morte da inquilina que ocupou o endereço antes dela.

Desaparecimentos e assassinatos estão no centro da trama da maioria dos best-sellers de suspense, mas é o papel de destaque dado às mulheres na história que mais aproxima Quem era ela, de JP Delaney, de alguns dos sucessos mais recentes do gênero no Brasil. Assim como Rachel, a protagonista de A garota no trem, de Paula Hawkins, Jane decide investigar por conta própria a morte de outra mulher. Ambas têm em comum também o fato de estarem passando por momentos difíceis em suas vidas: enquanto Rachel luta para superar o fim de um relacionamento amoroso e o alcoolismo, Jane se esforça para seguir em frente após dar à luz um bebê morto.

Emily Blunt em A Garota no Trem

O clima intenso de suspense e a sensação de que ninguém é quem parece ser também levaram leitores a comparar o livro de JP Delaney com o best-seller de Gillian Flynn, Garota exemplar. Emma, que divide com Jane o posto de protagonista de Quem era ela, tem muito em comum com Amy, a antiheroína de Flynn. Ambas são capazes de usar a beleza para conseguir o que querem e se envolvem em relacionamentos marcados pela obsessão.

Com personagens femininos tão complexos, era de se esperar que Quem era ela tivesse sido escrito por uma mulher, como é o caso de Garota exemplar e A garota no trem. Mas, na verdade, a história surgiu da imaginação do autor britânico Tony Strong, que em entrevista ao jornal The New York Times declarou se sentir “realmente agradecido” que muitos leitores — incluindo esta jornalista — acreditaram, pelo modo como a história foi escrita pela perspectiva de duas mulheres, que se tratava da obra de uma autora.

Tramas cheias de reviravoltas com personagens que fazem o leitor desconfiar de suas intenções a cada momento são ideais para serem levadas às telas de cinema. Dirigido por David Fincher, Garota Exemplar arrecadou quase US$ 370 milhões e rendeu à protagonista Rosamund Pike uma indicação ao Oscar de melhor atriz em 2015. A Garota No Trem, que foi dirigido por Tate Taylor e estrelado por Emily Blunt, não recebeu os mesmos elogios da crítica cinematográfica, mas também teve bom desempenho nas bilheterias.

Os direitos de Quem era ela foram comprados pelo estúdio Universal e o filme baseado no thriller de JP Delaney deve ser dirigido por Ron Howard, conhecido por sucessos como Uma Mente Brilhante e O Código Da Vinci. Ainda não se sabe o elenco, mas uma coisa é certa: os ambientes minimalistas da casa número 1 da Folgate Street terão tanto destaque quanto os personagens da história.

 

Vanessa Corrêa é jornalista, já trabalhou na Folha de S.Paulo e no portal UOL e é apaixonada por livros, cinema e fotografia.

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