Luiz Fernando Vianna

No fundo, somos apenas pais que sofrem e amam

7 / abril / 2017

A ONU estabeleceu 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. É uma data em que parentes de pessoas com autismo, terapeutas e interessados fazem campanhas informativas e caminhadas para tornar mais público o tema. Não foi diferente em 2017, principalmente porque caiu num domingo. Foi o início de uma semana de muitas atividades.

Como conto em Meu menino vadio: histórias de um garoto autista e seu pai estranho, sempre admirei a militância a distância, mas nunca consegui me engajar, por timidez e dificuldades de socialização — características afins ao meu filho Henrique, mas com as quais não o ajudo muito.

Não recusei, porém, o convite para participar, no dia 3, de uma mesa na abertura dos eventos da Semana de Conscientização do Autismo realizados pelo Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro. A instituição tem um ótimo e constante trabalho na área. Participaram duas respeitadas terapeutas ligadas ao método Floortime, Adriana Fernandes e Roberta Caminha, e a atriz Tatiana Henrique, mãe de Apolo. Ele estava no auditório, muito educado e afetuoso.

Depois da fala comovente e contundente de Tatiana, desmoronei. Não consegui me expressar direito, chorei, fui alguém diferente do narrador um tanto cruel que aparece no livro — que é pouco afeito a sentimentalismos, embora emotivo em vários momentos.

Relato isso para dizer que, no fundo do jornalista, do autor de livros, do entrevistado sobre autismo, está o pai inseguro, que quer o melhor para o filho, mas não tem as respostas. É uma procura permanente, com algumas alegrias, mas sofrida.

Ouvindo Tatiana e olhando nos olhos de outros pais e mães que estavam na plateia, senti um misto de proteção e desalento que derreteu minha falsa carcaça de durão. Cada um lida do seu jeito com os autistas que amamos — escrevendo, militando, cuidando. Embora por vezes pareçamos fortes, somos vulneráveis e precisamos de ajuda.

Tentarei estar mais próximo de pessoas que vivem situações semelhantes à minha. Seria bom que muito mais gente se apegasse ao assunto e trabalhasse para um mundo mais tolerante e acolhedor para os autistas. Nossos filhos, e os que ainda virão, merecem.

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Comentários

Uma resposta para “No fundo, somos apenas pais que sofrem e amam

  1. Sei que não é do assunto mas , quem apoia a Intrinseca lançar a coleção de Percy Jackson em capa dura , com as capas originais no brasil ?

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