Luiz Fernando Vianna

Pais, autismo e livros, muitos livros

16 / fevereiro / 2017

Como os títulos de todos os capítulos de Meu menino vadio: a história de um garoto autista e seu pai estranho são citações de canções brasileiras, pensei escrever um que se chamasse O muito que eu li, o pouco que eu sei. O verso é da música “Mensagem de amor”, de Herbert Vianna. Não escrevi.

O título seria exagerado, pois não li tanto assim sobre autismo. Aliás, li bem menos do que deveria. Fiz, no entanto, o mesmo que muitos pais após receberem o diagnóstico: fui caçando informação às cegas na internet e comprando livros só pelo título — não importava se a abordagem fosse psicanalítica, comportamental ou mesmo espírita.

Caí em muitas arapucas, mas encontrei obras que se mostraram fundamentais para eu começar a entender meu filho. Entre elas, estão Uma menina estranha, autobiografia de Temple Grandin; dois de Oliver Sacks nos quais há capítulos sobre autismo, Um antropólogo em Marte e O homem que confundiu sua mulher com um chapéu; e o romance O estranho caso do cachorro morto, de Mark Haddon.

Por vezes, deparei com livros otimistas demais — ao menos para meu gosto —, como Brilhante, de Kristine Barnett; ou pessimistas demais — até para meu gosto —, como Sinto-me só, de Karl Taro Greenfeld.

Depois de alguns anos, bateu cansaço. Eu andava sem esperanças de ler algo que voltasse a me sacudir quando, em 2015, recebi a indicação de Cartas de Beirute, de Ana Nunes. Trata-se de um livro que influenciou decisivamente o Meu menino vadio. Além dele, claro, há Longe da árvore, de Andrew Solomon, obra monumental que tem um dos capítulos dedicado ao autismo.

Faço, sem constrangimento, propaganda de dois títulos da Intrínseca. O que me faz pular, do adolescente japonês Naoki Higashida, é um relato pungente produzido com a ajuda de um alfabeto de papelão. Aonde a gente vai, papai? é um livrinho repleto de sarcasmo escrito pelo francês Jean-Louis Fournier, pai de dois meninos com deficiência.

Para quem está no início da jornada, recomendo que, antes de estourar o cartão de crédito comprando tudo o que aparecer, faça duas coisas: respire e peça orientação. Ler muito é importante sempre, mas ler bons livros é mais importante ainda. Do pouco que li, é o muito que sei.

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