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Você acredita em seus sonhos?

21 / outubro / 2016

Por Letícia Calhau*

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Era uma vez um jovem aluno chamado David Luong. Ele era calado e ficava no fundo da sala sem chamar muita atenção. Tinha sonhos para seu futuro, mas não parecia ser nenhum gênio nas aulas de álgebra. Um dia, sua professora se questionou como aqueles trabalhos e provas bem-feitas podiam ser de um aluno tão pouco expressivo em sala e por que ele tinha tão bons trabalhos, mas não estava em uma turma mais avançada.

Quantos de nós cultivamos projetos e sonhos impossíveis? Às vezes parece que não alcançaremos nossas metas porque nossas características mais evidentes parecem não ajudar muito, ou porque alguém nos disse que não éramos bons o suficiente, ou ainda porque não nos considerávamos geniais para conquistá-las.

Quando olho um pouco para trás, lembro que meu primeiro objetivo na vida foi aprender a ler, mas isso não foi nada simples. Passei por várias estratégias, professores e metodologias diferentes para conseguir. Fui levada a alguns médicos que diziam que eu não tinha nada, aparentemente. Aos nove anos, não só aprendi, como me apaixonei pelos livros e pela ideia de ser escritora. Tinha vergonha de compartilhar esse sonho com as pessoas. Como alguém que tinha dificuldades para aprender a ler poderia ser algo tão incrível como uma escritora? Por muito tempo acreditei que só pessoas dotadas de alta inteligência eram capazes de transformar sonhos em realidade.

O livro Garra: o poder da paixão e da perseverança conta, entre outras, a história de David Luong, mas poderia ser a minha ou a de qualquer outra pessoa, jovem ou não, que tenha sonhos e paixões, mas talvez não se encaixe nos modelos aparentemente promissores.

E se um dia descobríssemos que nosso cérebro é capaz de se desenvolver e aprender sempre? E se o mito do talento fosse desconstruído diante da vontade e da perseverança? E se a ideia de que os bem-sucedidos são especiais deixasse de fazer sentido?

Primeiro, acho que se eu soubesse que era capaz de conquistar mais do que conquistei, se não tivesse a impressão que estava insistindo em sonhos que não eram para mim, teria perdido menos tempo sentindo medo e frustração.

Na minha opinião, a principal razão pela qual a valorização do talento pode ser nociva é simples: ao focarmos apenas no talento, arriscamos deixar tudo o mais fora do nosso campo de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores — como a garra — são menos importantes.

No livro, Angela Duckworth explica como a ideia do talento pode atrapalhar a jornada das pessoas que querem realizar um sonho ou colocar em prática uma ideia. Ela fala sobre o valor de uma paixão e de como a garra e a perseverança contam mais para alcançar o objetivo do que simplesmente ser alguém que se destaca em testes, provas e avaliações. Do que adianta ter boas notas se não se tem vontade real de conquistar um sonho? No livro, ela conta histórias de outras pessoas que eram excelentes alunos e que se destacavam por seu desempenho, mas que desistiram no meio do caminho porque não tinham tanta certeza do que queriam para si e se intimidavam com resultados ruins durante o percurso.

A paixão é como uma bússola — um aparelho que você demora a construir, a aprimorar e aperfeiçoar e que, por fim, o orienta em sua longa e tortuosa viagem rumo a seu objetivo final.

 Ter uma paixão como meta e acreditar que é possível conquistá-la por meio de perseverança, dedicação e esforço podem ser diferenciais na hora de conquistar uma vaga em um estágio, na universidade ou mesmo para abrir seu primeiro negócio. O que você quer realizar? E quais são as crenças que o estão impedindo de lutar por seus sonhos?

Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente.

O livro também nos ajuda a entender que a garra, assim como outras características, pode ser desenvolvida. De nada adianta pensar nela como uma característica inata. Não existem fórmulas perfeitas, mas Angela, com sua experiência como professora e psicóloga, nos faz pensar em como podemos desenvolver a garra de dentro para fora e como podemos contar com a ajuda de outras pessoas para criar uma atmosfera favorável ao seu desenvolvimento. Andar com pessoas que têm garra, cercar-se de professores que colaboram; nessa hora, toda ajuda para alimentar o interesse e a esperança é importante.

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Por fim, o livro nos ajuda a entender que a garra é o que não nos faz abandonar uma meta durante longos períodos de dedicação e que é isso que faz a diferença, no fim das contas. E, com o tempo, podemos perceber que acreditando em novas possibilidades de realização, com o esforço diário, acabamos criando uma filosofia de vida sólida. Passamos não só a acreditar em nossos sonhos, como a investir neles todos os dias, mesmo que tenhamos obstáculos pelo caminho, porque sabemos que com paixão e perseverança é possível realizar um projeto. Ele pode demorar meses, alguns anos, mas o mais importante é a confiança no percurso.

O esforço que uma pessoa dotada de garra dedica em um dia é importante, mas ainda mais importante é ela acordar no outro dia, e no outro, disposta a subir naquela esteira e continuar a correr.

Garra orienta o leitor a pensar em uma forma mais interessante de organizar as metas no tempo e como desenvolver uma cultura de garra. E o mais importante: a acreditar em si mesmo.

 

* Letícia Calhau é professora da área de educação, mestranda e pesquisadora na área de inclusão em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Carioca, nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, blogueira e criadora de hortas caseiras.

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