testeClube de Leitura: F de Falcão

Por Bruno Leite*

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Desde que foi lançado, tento fazer com que o livro-testemunho de Helen Macdonald se torne a obra escolhida para o clube. Foram três tentativas. Quando soube que ela participaria da Flip, decidi que leria o livro por conta própria — seria uma leitura para a minha vida.

Durante a Flip, perguntei à Helen qual seria a melhor trilha sonora para acompanhar minha leitura de F de Falcão. Ela riu, disse essa que era uma questão elementar na qual ela nunca tinha parado para pensar com cuidado, mas sugeriu algo clássico e moderno. Perguntei se O Pássaro de Fogo (L’Oiseau de Feu), de Stravinski, seria uma boa pedida. Ela acenou com muita empolgação e meio que oficializamos essa como a trilha sonora oficial do livro.

Mês passado, F de Falcão foi finalmente contemplado como o livro do mês para o clube. Corri com ele pelo auditório da Livraria Cultura emulando uma mal-sucedida volta olímpica. Então, se vocês quiserem saber mais sobre o livro, sobre a autora e sobre aves de rapina, apertem o play e venham comigo.

Ao contrário do que o título sugere, o livro não trata apenas de aves. Tudo começa quando a nossa escritora, narradora e protagonista recebe a fatídica notícia de que seu pai havia morrido. Helen escreveu uma das passagens mais bonitas que eu já li sobre luto:

 

Imagine, eu disse na época a alguns amigos na franca tentativa de explicar, imagine sua família inteira em uma sala. Sim, todos eles. Todas as pessoas que você ama. Então, o que acontece é que alguém entra na sala e dá um soco no estômago de cada um. Em todos. Muito forte. Então vocês caem no chão. Certo? O que acontece é o seguinte: vocês compartilham o mesmo tipo de dor, exatamente o mesmo, mas estão ocupados demais experimentando uma agonia total para sentir qualquer outra coisa além de completa solidão. É assim! Terminei meu pequeno discurso de forma triunfal, convencida de ter encontrado a maneira perfeita de explicar como eu me sentia. Fiquei confusa com os rostos piedosos, horrorizados, porque não me ocorreu de maneira nenhuma que um exemplo que colocava as famílias dos meus amigos juntas em salas, apanhando, pudesse carregar um sabor de loucura total.

 

Tentei, mas não consigo me lembrar de uma passagem tão pungente, tão precisa sobre o assunto sem ser piegas ou melodramática. O que vocês acharam dessa passagem? Vocês conseguem dimensionar a dor que a autora propõe?

A partir de então, Helen passa por um processo muito doloroso — embora necessário — de dissociação do mundo ao seu redor. E para além dessa decisão ela se propõe a treinar uma ave de rapina. Não apenas uma ave de rapina, mas um açor (a espécie mais feroz). A dificuldade eminente serve como um atrativo para que Helen se reencontre com o seu eu mais selvagem e, ao mesmo tempo, entenda o poder inalienável da liberdade e de como é importante que ela elabore o seu luto. O que vocês acham dessa decisão? Também gostam de aves de rapina? Vocês fariam a mesma coisa — ainda que com outro animal?

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Aliás, uma questão pertinente ao longo do livro e que muito me encantou foi a relação homem-animal. Os laços criados entre Helen e Mabel, nome do seu açor, são tão complexos quanto os que existem em qualquer relação entre humanos. Vocês acham esse tipo de relação saudável? Também se relacionam assim com o bichinho de vocês?

E por falar em bichinhos, a Helen veio pra Flip participar de uma mesa SOBRE animais. Se você quiser ouvir, a produção da Flip disponibilizou o áudio da mesa. Mas cuidado ao dar play: há spoilers nas falas.

Dia 13 de outubro, quinta-feira, nos reuniremos para falar sobre essas e muitas outras questões no auditório da Livraria Cultura do shopping Bourbon. Para participar basta mandar um e-mail com nome para renato.costa@livrariacultura.com.br. Vejo vocês em breve!

 

Bruno Leite é estudante de Letras, trabalha há 8 anos no mercado editorial e é colaborador no blog O Espanador.

teste14 ou 15 fatos que provam que Fernanda Gentil é a melhor pessoa

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Reunimos alguns fatos que provam que a jornalista Fernanda Gentil, autora de Gentil como a gente, é a melhor pessoa!

 

1) Ela é uma das fundadoras da Caslu,  instituição que ajuda crianças e adolescentes

 

2) Ela cuida do afilhado como um filho depois que a mãe dele partiu

 

3)  Ela é muito divertida e realmente gentil com todo mundo

 

4) Ela conheceu o ex- marido na sua festa de 15 anos! E ele foi de penetra!  

gentil_1Trecho de Gentil como a gente

5) Ela sabe fazer carão

 

6) Ela é rainha das embaixadinhas segurando bebê no colo

 

7) Ela um dia terá um trio elétrico

Amo vocês vizinhos!!!!!!!❤️❤️❤️❤️ (preciso de um trio elétrico)

Um vídeo publicado por Fernanda Gentil – Oficial (@gentilfernanda) em

 

8) Ela nina o filho cantando, em vez de “Nana nenê”, “Cohab City”!

 

9) Ela escreveu um livro incrível

10) Ela faz autógrafos personalizados!

 


11) Ela é fera no Imagem & Ação 

gentil_10Trecho de Gentil como a gente


12) Ela é carismática nível 11

 

13)  Ela não é nem um pouco neurótica, ela só pensa em todas as possibilidades…

gentil_7Trecho de Gentil como a gente

 

 

14)   Ela é uma pessoa 100% sensata, que mantem as situações sob controle, não importa o que aconteça.

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Trecho de Gentil como a gente

15) <3

Primeira vez que fico tanto tempo fora sem os dois. Primeira vez que sinto como se tivesse tirado dois corações do corpo e deixado um com cada um. Primeira vez dessa saudade em dose dupla que corrói, urra, dói fisicamente como uma ferida que nunca cria casquinha. Primeira vez que curto uma viagem e olho cada esquina pensando em como seria com eles. Será que dá pra trazer? Com ou sem babá? Ficaria muito caro? Tem programa pra eles? E essa camisa, fica bem no Lucas ou no Gabriel? Tem tamanho pros dois? Levo igual ou diferente? Esse brinquedo cabe na mala? Essa mamadeira ainda vai ser útil? Essa praia com criança não dá. Esse restaurante é legal pra eles. Tem parquinho no hotel? E nesse quadriciclo, como iríamos todos juntos? Teria que alugar carro. O hotel é ótimo pra criança! Essa piscina dá pé? Pois é… primeira vez que todos esses pensamentos habitam tanto a minha cabeça. Definitivamente viajar ganhou um novo significado – agora não é apenas tirar uns dias pra relaxar e descansar. É relaxar, descansar e também sobreviver sem eles. Os dois primeiros eu fiz, fiz com orgulho, com vontade, com a consciência leve como pluma; de quem merece uns dias pra arejar. De quem deixou os pequenos com os pais, aliás, os melhores que poderiam ter. Mas sobreviver sem eles é humanamente impossível. Por isso to voltando pra casa. Volto para rever essa cena, como se nunca tivesse visto. Pela primeira vez volto com a empolgação de quem tá voltando pela primeira vez.

Um vídeo publicado por Fernanda Gentil – Oficial (@gentilfernanda) em

testeSilenciar sentimentos implode a alma

Por Pedro Martins*

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Com mais de 200 mil cópias vendidas e milhões de seguidores on-line, o “desenhador de palavras” Pedro Gabriel lançou no mês passado seu terceiro livro, Ilustre Poesia, fechando a trilogia de pré-romance do seu alter ego, Antônio, personagem que há quatro anos vem sendo “escrito, vivido”.

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Frente a uma pilha enorme de pequenos papéis, usados e depois rasgados, Pedro Gabriel, das profundezas de sua alma, deu à luz Antônio, dando corpo às angústias vivalmas: coragem, rancor, liberdade, amor — e à sua ilustre poesia.

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Com o sucesso inusitado nas redes sociais, veio o primeiro livro: Eu me chamo Antônio, uma antologia do início de sua criação, revelando o boêmio apaixonado que era Antônio a discorrer sobre a vida com o pesado traço a nanquim. Após algum tempo, veio o Segundo, quando o personagem sai dos bares em direção ao mundo dos sonhos, enquanto Pedro se aventura timidamente na prosa, valendo-se de parágrafos curtos e isolados. Por fim, entretanto, algumas palavras simplesmente não cabiam mais dentro das fronteiras dos guardanapos. Nem as ilustrações. E, como na primeira vez em que Antônio viu a luz do dia, o poder de encanto de Ilustre Poesia é único.

Se com os dois livros anteriores Pedro Gabriel já havia mudado a concepção de poesia para muitos — especialmente jovens —, algo que acreditavam ser necessariamente acadêmico, chato e distante demais de si mesmos, desta vez fica ainda mais evidente a importância de sermos poetas, ainda que apenas da nossa própria vida.

Ao longo de pouco mais de duzentas páginas, criador, criatura e leitor dialogam uma prosa filosófica sobre a importância de “usar os olhos da imaginação, interagir com a inconsciência e dialogar com o inexplicável”, pois “quem acredita só no que vê não dá espaço à própria poesia”.

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Como o Universo, todos temos buracos negros nas profundezas da alma. Tolo, porém, é aquele que confunde silenciar com exterminar. Como dizia Lavoisier, no auge do século XVIII: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Apesar de serem substantivos abstratos, não seria diferente com os sentimentos: mandá-los para buracos negros não os faz se dissipar. Na vida, basta uma faísca para que eles explodam. Silenciar sentimentos implode a alma. E, para discorrer sobre o assunto, Pedro Gabriel chega a se transformar num metamorfo de profissões.

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Universo, galáxias, planetas, estrelas, o Sol e a Lua. Em “À espera de uma colisão”, primeira parte do livro, Pedro assume o lugar de um ilustre astrônomo. Talvez o de um astronauta, também. E por que não o de um editor de astros?

“No céu poético, a galáxia é o poema; as estrelas são as palavras; os planetas, os versos; os asteroides, as sílabas; e o átomo é a letra.”

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Céu, pássaros, mares, oceanos e o corpo humano. Em “A força de um nó frágil”, capítulo subsequente, o poeta se mostra um talentoso geólogo, oceanógrafo e biólogo refletindo: já que o corpo humano é composto por mais de 70% de água, por que não mergulhar dentro de si mesmo?

“Para muitos, existem cinco oceanos em nosso planeta. A poesia discorda. Ela acredita que, se cada pessoa tem a capacidade de fazer transbordar seus sentidos, o mundo deveria ter, além dos seus grandes mares, mais 7 bilhões de pequenos oceanos.”

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Por fim, a própria Ilustre Poesia — Antônio — nos mostra “O destino das palavras”, personificando sentimentos das angústias anteriores à sua criação, quando era usado para limpar mãos engorduradas e logo após descartado — “ah, se soubessem quanto dói…” —, e à felicidade dos dias atuais, por ter conhecido alguém que mostrasse ao mundo sua capacidade de servir também como tela final para uma obra de arte, e não mais apenas um rascunho.

“Eu me chamo Antônio, mas poderia me chamar Esperança. Eu me chamo Antônio, mas poderia me chamar Saudade. Coragem. Amor. Distância. Na fragilidade da minha pele, qualquer delicadeza deixa marcas.”

E você, como se chama? Já parou para dar voz à sua Ilustre Poesia?

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Pedro Martins, viciado em livros, filmes e séries, descobriu a magia por meio dos escritos de J.K. Rowling aos oito anos. Com muita dedicação, essa paixão o tornou webmaster do Potterish.com e o possibilitou escrever sobre literatura para diversos portais, incluindo o britânico The Guardian. Agora, ele tem mais um lugar onde se aventurar: o blog da Intrínseca.

testeO Departamento de História

Recentemente estive na PUC-Rio, na Gávea, onde me formei em história, para um evento especial. Era a “aula de despedida” do professor Antonio Edmilson Rodrigues. Ele lecionou ao longo de quatro décadas no Departamento de História da universidade e está se aposentando. Edmilson fez uma palestra sobre a história do Rio de Janeiro, do fim do Império aos dias de hoje.

Confesso que fiquei tocado de voltar ao quinto andar do prédio de Ciências Sociais. Na sala 502, aproximadamente sessenta pessoas — entre professores da casa, amigos e alunos de diferentes gerações — se deleitaram com uma verdadeira “aula-espetáculo”. Edmilson não só falou sobre o processo de modernização da capital fluminense como resgatou um pouco da história da pesquisa sobre a cidade.

Relembrou o caráter inovador do Departamento de História da PUC, que, no início da década de 1980, lançou a pesquisa A polícia na Corte e no Distrito Federal (1831-1930), realizada pelos professores Imar, Margarida, Berenice, Gizlene, Werneck, Falcon e o próprio Edmilson. Recordou o papel pioneiro do grupo de estudo que se reunia no Solar Grandjean de Montigny, um dos espaços da universidade, sob a liderança da professora Giovanna Rosso del Brenna. Tudo foi muito emocionante!

Fico feliz que Os Guinle, um livro que nasceu em parte por conta desse fértil ambiente intelectual, narre um pouco da história do Rio de Janeiro e do Brasil, ainda que não seja uma obra acadêmica. A saga da família Guinle tem muitas ramificações na construção da alma do carioca médio de hoje, amante do futebol, do samba, das delícias da cultura praiana, da gastronomia local e do Carnaval. Valeu, PUC! Valeu, Edmilson!