testeTurnê Poética em Manaus

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Pedro Gabriel e Clarice Freire, autores de Eu me chamo Antônio e Pó de lua estiveram em Manaus no dia 22/10, como parte da Turnê Poética. Os autores conversaram com os leitores e falaram sobre seus novos livros, Ilustre Poesia e Pó de lua nas noites em claro.

Confira as fotos do evento!

testeHBO divulga primeiro trailer de Big Little Lies com Shailene Woodley

A HBO divulgou o primeiro trailer de Big Little Lies, série baseada no romance Pequenas grandes mentiras, de Liane Moriarty. Com Nicole Kidman, Reese Witherspoon e Shailene Woodley no elenco, a atração estreia em 2017, mas ainda não tem data definida.

Kidman dará vida a personagem Celeste, Shailene interpretará a jovem mãe Jane e o papel de Madeline ficou a cargo de Reese. A direção é de Jean-Marc Vallée, conhecido por Clube de Compras Dallas, Livre e A jovem rainha Vitória. Serão sete episódios.

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Pequenas grandes mentiras conta a história de três mulheres que aparentemente têm uma vida comum em uma pequena cidade da Austrália. Madeline é forte e passional. Celeste é dona de uma beleza estonteante e Jane é uma jovem mãe solteira. Os filhos dessas três mulheres estudam na mesma escola, onde acontece uma misteriosa tragédia.

testeMESA PARA CINCO: Ler nos torna mais empáticos

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Ao ler, experimentamos situações e emoções novas. Entendemos melhor a nós mesmos e como as outras pessoas se sentem. A conexão entre literatura e empatia é o tema do nosso primeiro Mesa para cinco, estreia da equipe da Intrínseca no YouTube.

Saímos da editora para comer conversar sobre os livros de Neil Gaiman, as histórias hilárias (e horríveis) de Jenny Lawson em Alucinadamente feliz e o apaixonante Simon vs. a agenda Homo Sapiens.

Assistam ao nosso primeiro vídeo e comentem! Mesa para cinco será um programa mensal, sempre com livros e convidados diferentes. Esperamos que gostem. 🙂

testeDNA Guinle

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Ana Clara Guinle e a obra Estampa de abraço (Fonte)

A trajetória vitoriosa da família Guinle no Rio de Janeiro começou com a abertura de uma loja de tecidos no Centro, a Aux Tuileries. Junto com o sócio Cândido Gaffrée, Eduardo Palassim e Guilhermina Guinle iniciaram sua ascensão econômica e social vendendo artigos para roupas de luxo. Conforme conto em Os Guinle, só mais tarde eles diversificariam seus investimentos, com destaque para a construção do porto de Santos (SP).

Ainda hoje diferentes gerações do clã seguem, fiéis, o espírito da Aux Tuileries. Descendente do Eduardo Guinle da segunda geração, a jovem artista Ana Clara Guinle participou da exposição Tempo, no Centro de Arte Hélio Oiticica — dentro da V Bienal da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizada este ano —, com a obra Estampa de abraço. O trabalho, uma instalação, eterniza o vestido de uma de suas avós, dona Isabel (que não é da família Guinle).

O maior herdeiro do espírito da Aux Tuileries é, no entanto, Eduardo Guinle, do mesmo ramo de Ana Clara, mas da quarta geração. Dono de uma sofisticadíssima grife de roupas e acessórios masculinos, Eduardo é um Guinle da melhor cepa: charmoso, simpático, educado e superempreendedor. Sem contar que é um amante da alta gastronomia e das boas bebidas.

A continuidade da “genética” da Aux Tuileries está garantida. A filha de Eduardo, Maria Antonia Guinle, é estilista e fotógrafa. Além de manterem viva a tradição de sua família, ela e o pai perpetuam outra marca de seus antepassados: a elegância.

 

testeVocê acredita em seus sonhos?

Por Letícia Calhau*

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Era uma vez um jovem aluno chamado David Luong. Ele era calado e ficava no fundo da sala sem chamar muita atenção. Tinha sonhos para seu futuro, mas não parecia ser nenhum gênio nas aulas de álgebra. Um dia, sua professora se questionou como aqueles trabalhos e provas bem-feitas podiam ser de um aluno tão pouco expressivo em sala e por que ele tinha tão bons trabalhos, mas não estava em uma turma mais avançada.

Quantos de nós cultivamos projetos e sonhos impossíveis? Às vezes parece que não alcançaremos nossas metas porque nossas características mais evidentes parecem não ajudar muito, ou porque alguém nos disse que não éramos bons o suficiente, ou ainda porque não nos considerávamos geniais para conquistá-las.

Quando olho um pouco para trás, lembro que meu primeiro objetivo na vida foi aprender a ler, mas isso não foi nada simples. Passei por várias estratégias, professores e metodologias diferentes para conseguir. Fui levada a alguns médicos que diziam que eu não tinha nada, aparentemente. Aos nove anos, não só aprendi, como me apaixonei pelos livros e pela ideia de ser escritora. Tinha vergonha de compartilhar esse sonho com as pessoas. Como alguém que tinha dificuldades para aprender a ler poderia ser algo tão incrível como uma escritora? Por muito tempo acreditei que só pessoas dotadas de alta inteligência eram capazes de transformar sonhos em realidade.

O livro Garra: o poder da paixão e da perseverança conta, entre outras, a história de David Luong, mas poderia ser a minha ou a de qualquer outra pessoa, jovem ou não, que tenha sonhos e paixões, mas talvez não se encaixe nos modelos aparentemente promissores.

E se um dia descobríssemos que nosso cérebro é capaz de se desenvolver e aprender sempre? E se o mito do talento fosse desconstruído diante da vontade e da perseverança? E se a ideia de que os bem-sucedidos são especiais deixasse de fazer sentido?

Primeiro, acho que se eu soubesse que era capaz de conquistar mais do que conquistei, se não tivesse a impressão que estava insistindo em sonhos que não eram para mim, teria perdido menos tempo sentindo medo e frustração.

Na minha opinião, a principal razão pela qual a valorização do talento pode ser nociva é simples: ao focarmos apenas no talento, arriscamos deixar tudo o mais fora do nosso campo de visão. Sem querer, passamos a mensagem de que esses outros fatores — como a garra — são menos importantes.

No livro, Angela Duckworth explica como a ideia do talento pode atrapalhar a jornada das pessoas que querem realizar um sonho ou colocar em prática uma ideia. Ela fala sobre o valor de uma paixão e de como a garra e a perseverança contam mais para alcançar o objetivo do que simplesmente ser alguém que se destaca em testes, provas e avaliações. Do que adianta ter boas notas se não se tem vontade real de conquistar um sonho? No livro, ela conta histórias de outras pessoas que eram excelentes alunos e que se destacavam por seu desempenho, mas que desistiram no meio do caminho porque não tinham tanta certeza do que queriam para si e se intimidavam com resultados ruins durante o percurso.

A paixão é como uma bússola — um aparelho que você demora a construir, a aprimorar e aperfeiçoar e que, por fim, o orienta em sua longa e tortuosa viagem rumo a seu objetivo final.

 Ter uma paixão como meta e acreditar que é possível conquistá-la por meio de perseverança, dedicação e esforço podem ser diferenciais na hora de conquistar uma vaga em um estágio, na universidade ou mesmo para abrir seu primeiro negócio. O que você quer realizar? E quais são as crenças que o estão impedindo de lutar por seus sonhos?

Nosso potencial é uma coisa. O que fazemos com ele é outra, bem diferente.

O livro também nos ajuda a entender que a garra, assim como outras características, pode ser desenvolvida. De nada adianta pensar nela como uma característica inata. Não existem fórmulas perfeitas, mas Angela, com sua experiência como professora e psicóloga, nos faz pensar em como podemos desenvolver a garra de dentro para fora e como podemos contar com a ajuda de outras pessoas para criar uma atmosfera favorável ao seu desenvolvimento. Andar com pessoas que têm garra, cercar-se de professores que colaboram; nessa hora, toda ajuda para alimentar o interesse e a esperança é importante.

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Por fim, o livro nos ajuda a entender que a garra é o que não nos faz abandonar uma meta durante longos períodos de dedicação e que é isso que faz a diferença, no fim das contas. E, com o tempo, podemos perceber que acreditando em novas possibilidades de realização, com o esforço diário, acabamos criando uma filosofia de vida sólida. Passamos não só a acreditar em nossos sonhos, como a investir neles todos os dias, mesmo que tenhamos obstáculos pelo caminho, porque sabemos que com paixão e perseverança é possível realizar um projeto. Ele pode demorar meses, alguns anos, mas o mais importante é a confiança no percurso.

O esforço que uma pessoa dotada de garra dedica em um dia é importante, mas ainda mais importante é ela acordar no outro dia, e no outro, disposta a subir naquela esteira e continuar a correr.

Garra orienta o leitor a pensar em uma forma mais interessante de organizar as metas no tempo e como desenvolver uma cultura de garra. E o mais importante: a acreditar em si mesmo.

 

* Letícia Calhau é professora da área de educação, mestranda e pesquisadora na área de inclusão em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Carioca, nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, blogueira e criadora de hortas caseiras.

testeUma playlist para os fãs do impossível

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Em Fãs do impossível, Kate Scelsa apresenta três personagens em momentos delicados da vida: Jeremy é um menino calado que precisa aprender a lidar com a opinião alheia e com o bullying na escola; Mira sofre de depressão foi transferida recentemente para um novo colégio; Sebby é um garoto órfão e gay que não frequenta a escola e mora em um abrigo, sob a tutela de uma senhora religiosa. Os jovens acabam se encontrando e, apesar de todos os obstáculos, tentarão driblar todas as expectativas e viver o impossível.

Em seu perfil pessoal, a autora disponibilizou uma playlist que dá um clima especial para o livro. Misturando músicas pop e alternativas contemporâneas até clássicos dos anos 1970 e 1980, a seleção reflete os questionamentos dos três amigos. Pedimos uma ajuda aos nossos leitores no Twitter e complementamos a playlist com outros hits escolhidos pela equipe. Ouça agora!

testeEnquanto o asfalto ainda está quente

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Liga o toca-fitas. Coloca um rock antigo. Se joga na estrada que o asfalto ainda está quente, não dá pra sentir? Tira os sapatos que dá. Eu só dirijo descalça.
Por isso meus sapatos são facilmente tiráveis,
assim como deveriam ser meu medo da chuva, minha cautela exagerada, minhas previsões erradas, minhas caras lavadas de sereno quando escurece e o asfalto perde o quente.
Perde para o calor que bate na alma, num fim de tarde de inverno. Quando em silêncio escuto uma música, namoro a janela
e me sinto eterno.
Também não gosto muito do freio. Nem de nada freia a gente, por isso eu ouso um novo antigo, muito antigo, de abrir a mente, segurar o quente.
Mas é claro que falo do amor, é ele somente
que eterniza as tardes de inverno. Diviniza as noites de inferno.
Aumenta o volume do rock antigo, quem sabe ele não fala mais alto que as más lembranças e embala em boa melodia as belas esperanças.
Cantarola alto como se a gente não morresse, como se você não fosse.
Lá se vai o Sol por entre duas colinas cheias de cana-de-açúcar:
o dia seguinte vai ser doce!
Coloca um jeans jogado se aproveita do amor enquanto ele ainda está quente. E sereno.
Se eu fosse um chão, seria estrada. Se um adjetivo, alada, mas sempre descalça para não estranhar a dureza do asfalto.
E amaria o silêncio nas madrugadas de verão.
Viajaria
com o pensamento preso
no sonho mais alto.

Clarice.

testeAs histórias das muitas vidas de Ted Chiang

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Um dos autores de mais destaque no cenário da ficção científica, Ted Chiang pode ser descrito como um escritor pouco prolífico: tem apenas quinze trabalhos publicados, entre contos e novelas curtas. A pequena produção contrasta com sua expressiva quantidade de premiações: os oito textos reunidos em sua coletânea História da sua vida e outros contos, que será lançada em novembro pela Intrínseca, ganharam no total nove dos mais importantes prêmios literários dedicados a textos de ficção científica.

Publicados originalmente em volumes diversos, as oito histórias de Chiang apresentam rigor científico aliado a uma narrativa muito bem escrita e humana. Com uma prosa límpida e ideias às vezes desconcertantes, Chiang utiliza a ciência como expressão dos questionamentos mais profundos de seus personagens.

Entre os contos estão “A torre da Babilônia”, no qual um minerador sobe a famosa torre com a missão de escavar a abóbada celeste; “Divisão por zero”, uma reflexão precisa e devastadora sobre o fim da esperança e do amor, e “História da sua vida”, texto que dá nome à coletânea e mostra a jornada de uma linguista para aprender um idioma alienígena, o que transforma sua vida para sempre.

“História da sua vida” foi adaptado para o cinema como A Chegada, produção dirigida por Denis Villeneuve, estrelada por Amy Adams e Jeremy Renner, e indicada aos prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Direção no Festival de Veneza e selecionada como o filme de abertura do Festival do Rio. A Chegada estreia no Brasil em grande circuito em 24 de novembro.  Assista ao trailer abaixo.

testeA economista Monica de Bolle analisa o mergulho brasileiro na crise

Rennan da Rocha*

debolle_preview-54Foto: Leo Aversa

O título já dá o tom do novo livro da economista Monica Baumgarten de Bolle. Como matar a borboleta-azul: uma crônica da era Dilma é uma história de fôlego jornalístico contada ao sabor da sucessão dos fatos na qual recursos da narrativa, como metáforas e fábulas, têm ascendência sobre a análise econômica. É uma escolha, claro. Aos 44 anos, a professora da Universidade Johns Hopkins, em Washington, prefere falar para além do círculo de colegas economistas, profissão que, admite, sofre de certa crise existencial desde o colapso financeiro de 2008 e é dada hoje à pirotecnia técnica. Monica optou por escrever para o leitor que não faz ideia do que significa “quantitative easing” (ela explica no livro, a propósito), mas que se pergunta cotidianamente por que, em apenas cinco anos, o Brasil deixou de ser um farol emergente para submergir em recessão traumática. É desse tombo surpreendente que trata o livro.

A narrativa começa quando Dilma Rousseff assume a Presidência, em 2011, e termina quando sofre impeachment, em 2016. Para a autora, o calor de fatos tão recentes, em vez de impor a necessidade de mais tempo e distanciamento, inspirou a missão de esclarecer desentendimentos “que ainda são fonte de rancores e de visões apaixonadas”.

“Por esses motivos, ela (a história) fascina. Eu sabia que, ao publicá-la, correria o risco de ser rotulada de golpista, ou de ultradireita, ou de neoliberal, ou de tantas outras coisas que tenho dificuldade de entender e definir”, conta Monica.  “Entendo que, para alguns, essa história é ferida aberta, e que eu estou colocando o dedo nessa ferida. Para esses leitores, em especial, quero dizer que esse livro não é um tratado político anti-PT, nem é a favor de qualquer partido ou posicionamento ideológico. Eu teria escrito fosse Dilma petista ou não”, esclarece na entrevista a seguir.

 

capa_comomataraborboletaazul_webSeu livro conta como a ex-presidente Dilma Rousseff chegou ao poder disposta a fazer tudo de um modo diferente para alcançar resultados também inauditos: civilizar os juros, erradicar a pobreza etc. A história sobre a morte da borboleta-azul fala justamente disto: ideias mirabolantes, aparentemente bem-intencionadas, que resultam em desastre. Depois de mergulhar nessa trajetória, que motivos você aponta como os principais para a debacle dos anos Dilma? 

Há duas maneiras de refletir sobre o desastre econômico da gestão Dilma, complementares e não substitutas. A primeira é que Dilma, ao contrário de seu antecessor, enfrentou ambiente internacional absolutamente hostil. Tudo o que havia ajudado o Brasil ao longo dos anos Lula — matérias-primas em alta, China pujante, comércio global galopante, forte impulso do crescimento mundial — mudara.

Quando assumiu a Presidência, os preços das matérias-primas começavam a resfolegar em razão da perda de tração da China; os países afetados pela crise de 2008 davam sinais alarmantes; o crescimento mundial estava na berlinda. Diante desse quadro, Dilma mirou alto demais. Tentou o impossível, que era manter a economia brasileira crescendo e gerando empregos, no mesmo ritmo dos anos anteriores, sem adequá-la à nova realidade. A outra reflexão é que Dilma realmente tinha ideias diferentes sobre como promover o desenvolvimento do Brasil. E algumas de suas ideias já haviam sido tentadas no passado com resultados desastrosos. Exemplo: a ideia de que para crescer é preciso tolerar um pouco mais de inflação. A inflação ascendente foi para nós como a grama que cresceu, dizimando as formigas que protegiam os ovos da borboleta. A inflação, a grama. As formigas, os trabalhadores. A inflação, a queda da renda dos trabalhadores, a morte do crescimento.

 

Seu livro também usa, como apoio, alguns textos contemporâneos aos fatos, como posts e artigos seus publicados em jornais. Ao contrário de outras crises, em que economistas e a própria imprensa são acusados de falhar em prevê-las, essa parece ter sido documentada como um folhetim, não?

Por isso trata-se de uma grande crônica. Comecei a escrever com regularidade para jornais e para meu blog na segunda metade de 2010. Durante todo o governo Dilma, fui fazendo artigos, anotações, paralelos com a literatura, com filmes e músicas. Isso permitia que juntasse meus interesses pessoais com os profissionais — aliás, a grande liberdade da escrita. Sempre trabalhei com crises. Minha tese de doutorado foi sobre crises; minha experiência no FMI [Fundo Monetário Internacional] foi em resolvê-las — a da Argentina e a do Uruguai; hoje leciono sobre crises na Johns Hopkins. Crises são fascinantes, têm suspense, clímax, ambiente, personagens interessantes. São, enfim, trama para ninguém botar defeito.

A ideia de escrever um livro sobre os anos Dilma que trouxesse essa essência das crises vem, portanto, de muito tempo. Esse livro começou a ser elaborado em 2014, mas naquele ano eu já havia juntado tanto material de minhas análises que não foi difícil transformá-lo em uma narrativa com tom jornalístico.

Vejo essa forma de contar a história dos anos Dilma como o ponto forte do livro, que é sobre economia, mas sobre economia como coisa da vida, de todos os dias.


Trata-se também de um livro publicado no calor dos fatos. Por que contar essa história enquanto ela ainda está “quente”?   

Exatamente porque ela ainda pulsa, ainda provoca muitos desentendimentos, ainda é fonte de rancores e de visões apaixonadas. Por esses motivos, fascina. Eu sabia que, ao publicá-la, correria o risco de ser rotulada de golpista, ou de ultradireita, ou de neoliberal, ou de tantas outras coisas que tenho dificuldade de entender e definir. Hoje moro em Washington, mas escrevi a maior parte do livro enquanto morava no Brasil. Vivi as angústias e frustrações de cada momento, vivi a deterioração do debate entre as pessoas, a rixa entre “direita” e “esquerda”, que turva visões, dilacera corações, acaba com longas amizades.

Entendo que, para alguns, essa história é ferida aberta, e que eu estou colocando o dedo nessa ferida. Para esses leitores, em especial, quero dizer que esse livro não é um tratado político anti-PT, nem é a favor de qualquer partido ou posicionamento ideológico. Eu teria escrito fosse Dilma petista ou não. Digo a esses leitores: eu não votei em Dilma, mas um dia já votei no PT. Agora, que venham as pedradas do outro lado, como já as tomei quando traduzi o livro de Thomas Piketty!

 

Há alguns dias você escreveu sobre os “vitupérios internáuticos” que tem recebido por causa do livro. Por que nos anos Dilma o Brasil parece ter passado por um processo apressado de polarização? 

Vemos isso por toda parte. Aqui nos Estados Unidos os vitupérios internáuticos proliferam com a campanha sórdida de Donald Trump. Já fui atacada aqui por apoiar a candidata democrata. Na verdade, já fui atacada por achar Obama um exemplo de líder e de ser humano em um mundo que carece de gente extraordinária. Incomodo-me muito com a facilidade que algumas pessoas têm de atacar as outras sem conhecê-las, sem saber de seu histórico, do que as fez formar certas opiniões. Eu, por exemplo, acredito que o Estado tem um papel a cumprir, mas não pode querer tomar conta de tudo, como fez o governo Dilma. Ao mesmo tempo, também defendo políticas sociais que ajudem a quebrar o ciclo nefando da desigualdade de renda.

Acho que no Brasil, como no mundo, perdemos a capacidade de enxergar o que há de bom naqueles que pensam diferente de nós. Em minhas redes, converso com pessoas que acham que houve um golpe no Brasil, que preferem lembrar-se do Lula que moveu esperanças, ao mesmo tempo que falo com pessoas que vão votar em Trump porque acham Hillary Clinton muito pior. Hoje, esse tipo de postura, a busca por um meio-termo, ganhou conotação para lá de negativa. Trata-se do tal do “isentão”. É triste.

Ninguém cresce intelectualmente sem trocar ideias, refugiando-se em suas tribos. O mundo está tribal, o Brasil não é exceção.

 

Como se deu o seu processo de apuração e escrita? No meio dele você se mudou para Washington. Esse afastamento do Brasil no auge do drama ajudou a olhar a situação mais friamente?  

O livro cobre toda a era Dilma, de 2011 até o impeachment, que chamei de “impeachment de coalizão” pela forma inusitada que tomou. Portanto, vivi a era Dilma quase na sua totalidade. Saí do Brasil em meados de 2014, antes das eleições, quando já havia começado a escrever o livro. Por um momento, em 2015, quase desisti de escrevê-lo, tão profundamente perturbada estava com os acontecimentos e com as pedras que as pessoas atiravam umas nas outras. Mas já tinha dedicado tanto tempo a ele que acabei decidindo seguir em frente depois de uma interrupção de quase um ano. A distância ajudou a escrever sobre o desfecho da era Dilma com olhar mais clínico, menos movido pelas emoções do momento. Confesso que senti tristeza quando Dilma foi reeleita, pois já estava claro para mim que a economia acabaria mal. Mas também confesso ter sentido desalento no seu afastamento definitivo. O trauma e as feridas são muitas para essa nossa democracia ainda tão jovem.

 

Uma das pimentas sobre a derrocada econômica do governo Dilma é o fato de ela própria ser economista. Essa aparente contradição a espanta?  

Não. A Economia com “E” maiúsculo não é uma ciência exata. Às vezes me pergunto se é mesmo ciência, se meu PhD vale alguma coisa. Crises deveriam tornar os economistas mais humildes, capazes de enxergar as limitações de seus modelos. Alguns, como eu, estão passando por um certo tipo de crise existencial, sobretudo depois de 2008. Outros seguem a insistir que tudo o que aprendemos é imutável, que há regras que, se forem descumpridas, criarão problemas. Até certo ponto isso é verdade, mas só até certo ponto. A economia é analítica, rigorosa, possuiu instrumental matemático e quantitativo valioso. Contudo, é, antes de mais nada, ciência social, sujeita a subjetividades e contradições. A base da economia, como de qualquer ciência social, somos nós, as pessoas. Nós, as pessoas, temos viés, somos por vezes irracionais, nos deixamos levar por emoções e instintos equivocados. A economia tal qual é ensinada hoje perdeu essa essência humanista. Por todas essas razões, acho perfeitamente razoável que Dilma economista pense completamente diferente da Monica economista, ou nem tanto assim.

 

Lá fora, existe uma tradição de livros de economia voltados para o público em geral, consolidada por autores como Milton Friedman, Paul Krugman, Joseph Stiglitz e, mais recentemente, o fenômeno Thomas Piketty. Por que o país de economistas de texto tão brilhante como o de um Celso Furtado ainda publica tão pouco sobre o assunto para leigos? 

Não sei, é uma lacuna terrível, porque ajuda a enraizar percepções equivocadas sobre a profissão, sobre os economistas. Os autores americanos que você citou foram ou são todos vencedores do Nobel de Economia (que não é Nobel de verdade). Talvez isso tenha lhes dado o aval pessoal e a envergadura para tratar da economia como ela é, fugindo do excesso de pirotecnia que hoje predomina na profissão. É um pouco assim: como todos têm o selo de grandes acadêmicos, podem descer do pedestal. O erro é achar que existe pedestal. Não são muitos os que não enxergam pedestal algum. Eu jamais o vi, mas sou mulher numa profissão predominantemente masculina, o que ajuda, talvez, a ver a economia como ela é.


>> Leia um trecho de Como matar a borboleta-zul

 

*Rennan da Rocha é jornalista.

teste[O LIVRO MAIS DESGASTADO DA MINHA ESTANTE]

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O livro mais desgastado da minha estante usa bigode e tem a pele alaranjada. Leminski, com toda sua poesia, me disse tanto em tão poucas – e não ocas! – palavras. Paulo, com todo seu carisma e sensibilidade, me encaminhou ao lugar mais intenso que um verso livre é capaz de nos levar: ao nosso próprio universo criativo.

A publicação exposta na minha prateleira é uma edição recente, de 2013. As traças não tiveram tempo de corroer aqueles haicais impressos em papel pólen soft. A inspiração é que tomou conta da minha cabeça ao ler infinitas vezes cada verso curto: finito visualmente, eterno na mente. É essa sensação de permanência que a poesia nos dá após ler um poema que determina a longevidade de uma obra poética. Paulo Leminski, em mim, é para sempre. Quando leio seus livros me sinto livre. Sem as amarras acadêmicas. Sem as algemas métricas. Sem o rigor da poesia tradicional.

Toda Poesia me acompanhou tantas vezes nas idas e vindas ao trabalho – um percurso que começava no Flamengo e terminava na Barra da Tijuca. Para quem não mora no Rio de Janeiro, essa distância equivale, mais ou menos, do planeta Terra até a lua. Em dias de chuva, esse trajeto aumenta consideravelmente.

Muitos condenam os leitores que rabiscam ou interferem graficamente nos livros. Eu já acho que um livro marcado é um livro vivido. É sinal de que aquela leitura, de alguma forma, foi importante naquele momento. É a prova de que a relação leitor-autor foi realizada com sucesso. O livro te marcou tanto que você retribuiu deixando marcas também.

A minha letra tremida, resultado de uma parceria maligna entre as curvas da Av. Niemeyer e da velocidade desnecessária do motorista do ônibus, é presença garantida em todas as 424 páginas do livro. Sim, rasurei cada uma delas. Todas têm uma intervenção minha: seja um desenho desengonçado, seja um traço incompleto, seja um esboço de uma possível ideia que não dará em nada. O importante é escrever. A escrita não pede explicação. Ela exige apenas que o poeta escreva.

As anotações datam de 3 anos atrás. Os registros da lapiseira 0.5mm já estão um pouco apagados pelo tempo e pela fricção constante das páginas, umas nas outras. O tempo é realmente uma borracha lenta. Alguns guardanapos esquecidos mudaram de função e hoje servem como marcadores de páginas aleatórias. Sempre gostei e proteger minhas criações dentro de livros marcantes.

Dessas leituras, não nasceram os meus melhores versos, mas, sem dúvida, os meus melhores raciocínios. Por exemplo, na página 147, leio a minha caligrafia: “Poesia é quando o sujeito verbaliza o silêncio que há em si”. Um pouco antes, na página 313, minhas mãos escreveram “Longo caminho para um logo destino”. Já a página 394 revela uma curiosidade. Ou um desespero. É a Única mensagem escrita em caneta preta. Talvez para eternizar esse verso: “Eu também quis que o infinito se acabasse em nós”.

Um livro inspirador nunca termina na última página. Ele continua para sempre na sensibilidade do leitor. Afinal, o que se desgasta é o objeto físico. A alma do livro, a cada releitura, é renovada. Desgastado pelas traças, pelos raios solares, pelas rasuras de todos os lápis que já passaram por ele, o meu Toda Poesia continua mais vivo do que nunca na minha estante, alimentando constantemente os meus novos espasmos criativos.

E, você, qual o livro mais desgastado da sua estante?