Clube de Leitura

Clube de Leitura: F de Falcão

5 / outubro / 2016

Por Bruno Leite*

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Desde que foi lançado, tento fazer com que o livro-testemunho de Helen Macdonald se torne a obra escolhida para o clube. Foram três tentativas. Quando soube que ela participaria da Flip, decidi que leria o livro por conta própria — seria uma leitura para a minha vida.

Durante a Flip, perguntei à Helen qual seria a melhor trilha sonora para acompanhar minha leitura de F de Falcão. Ela riu, disse essa que era uma questão elementar na qual ela nunca tinha parado para pensar com cuidado, mas sugeriu algo clássico e moderno. Perguntei se O Pássaro de Fogo (L’Oiseau de Feu), de Stravinski, seria uma boa pedida. Ela acenou com muita empolgação e meio que oficializamos essa como a trilha sonora oficial do livro.

Mês passado, F de Falcão foi finalmente contemplado como o livro do mês para o clube. Corri com ele pelo auditório da Livraria Cultura emulando uma mal-sucedida volta olímpica. Então, se vocês quiserem saber mais sobre o livro, sobre a autora e sobre aves de rapina, apertem o play e venham comigo.

Ao contrário do que o título sugere, o livro não trata apenas de aves. Tudo começa quando a nossa escritora, narradora e protagonista recebe a fatídica notícia de que seu pai havia morrido. Helen escreveu uma das passagens mais bonitas que eu já li sobre luto:

 

Imagine, eu disse na época a alguns amigos na franca tentativa de explicar, imagine sua família inteira em uma sala. Sim, todos eles. Todas as pessoas que você ama. Então, o que acontece é que alguém entra na sala e dá um soco no estômago de cada um. Em todos. Muito forte. Então vocês caem no chão. Certo? O que acontece é o seguinte: vocês compartilham o mesmo tipo de dor, exatamente o mesmo, mas estão ocupados demais experimentando uma agonia total para sentir qualquer outra coisa além de completa solidão. É assim! Terminei meu pequeno discurso de forma triunfal, convencida de ter encontrado a maneira perfeita de explicar como eu me sentia. Fiquei confusa com os rostos piedosos, horrorizados, porque não me ocorreu de maneira nenhuma que um exemplo que colocava as famílias dos meus amigos juntas em salas, apanhando, pudesse carregar um sabor de loucura total.

 

Tentei, mas não consigo me lembrar de uma passagem tão pungente, tão precisa sobre o assunto sem ser piegas ou melodramática. O que vocês acharam dessa passagem? Vocês conseguem dimensionar a dor que a autora propõe?

A partir de então, Helen passa por um processo muito doloroso — embora necessário — de dissociação do mundo ao seu redor. E para além dessa decisão ela se propõe a treinar uma ave de rapina. Não apenas uma ave de rapina, mas um açor (a espécie mais feroz). A dificuldade eminente serve como um atrativo para que Helen se reencontre com o seu eu mais selvagem e, ao mesmo tempo, entenda o poder inalienável da liberdade e de como é importante que ela elabore o seu luto. O que vocês acham dessa decisão? Também gostam de aves de rapina? Vocês fariam a mesma coisa — ainda que com outro animal?

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Aliás, uma questão pertinente ao longo do livro e que muito me encantou foi a relação homem-animal. Os laços criados entre Helen e Mabel, nome do seu açor, são tão complexos quanto os que existem em qualquer relação entre humanos. Vocês acham esse tipo de relação saudável? Também se relacionam assim com o bichinho de vocês?

E por falar em bichinhos, a Helen veio pra Flip participar de uma mesa SOBRE animais. Se você quiser ouvir, a produção da Flip disponibilizou o áudio da mesa. Mas cuidado ao dar play: há spoilers nas falas.

Dia 13 de outubro, quinta-feira, nos reuniremos para falar sobre essas e muitas outras questões no auditório da Livraria Cultura do shopping Bourbon. Para participar basta mandar um e-mail com nome para renato.costa@livrariacultura.com.br. Vejo vocês em breve!

 

Bruno Leite é estudante de Letras, trabalha há 8 anos no mercado editorial e é colaborador no blog O Espanador.

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