Clube de Leitura

Clube de leitura: Baseado em fatos reais, de Delphine de Vigan

8 / setembro / 2016

Por Bruno Leite*

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Quando recebi o e-mail com a sinopse de Baseado em fatos reais, de Delphine de Vigan, pensei: esse é o tipo de livro que é a cara do clube! E dito e feito: ele será o tema do nosso próximo encontro. A obra é de uma complexidade maravilhosa e faz surgir inúmeras questões enquanto você processa os acontecimentos descritos. Para quem ainda não conhece — o livro está quentíssimo, acabou de sair do forno —, Baseado em fatos reais conta a história de uma escritora chamada Delphine (sim, a personagem tem o mesmo nome da autora). Ela se encontra consumida pela insegurança e a ansiedade após o sucesso de seu último romance, até que conhece a encantadora e amistosa L., uma mulher que transformará sua vida. A partir daí, começamos uma grande brincadeira: a busca pelo fio que distingue onde começa a realidade e onde começa a ficção. O jogo da autoficção.

Esse estilo, embora não seja novo, vem sendo explorado constantemente por autores da nossa geração. O gênero começou possivelmente com os iluministas, como Rousseau e suas Confissões e Chateaubriand com Memórias de além-túmulo, e continua se reinventando com autores como Gertrude Stein em A autobiografia de Alice B. Toklas, Françoise Sagan em Bom dia, Tristeza e, mais recentemente, O mapa e o território, de Michel Houellebecq. Na autoficção, uma história a princípio verídica pode ter nomes adulterados e passagens mais exageradas ou comedidas, uma vez que não existe compromisso com fatos reais, e sim com uma boa história. O que vocês acham desse tipo de narrativa? Já leram algum desses autores? Eu me esqueci de alguém que vocês consideram um escritor que se utiliza da autoficção em seus livros?

Claramente eu me deixei seduzir e fui guiado pela voz melíflua de L. (Uma das coisas de que eu mais gostei é que L. se pronuncia do mesmo modo que elle, que significa “ela” em francês.) L. é uma tremenda personagem, acho que uma das melhores pessoas da ficção (ops!) que conheci esse ano. Vocês já conheceram alguém tão emblemático e sedutor assim? Será que se permitiriam ser seduzidos por L.?

Durante a leitura, muitas vezes quis bater em Delphine, em outras, quis abraçá-la e dizer: vai dar tudo certo. Passado um tempo, fui pesquisar informações sobre a autora e descobri muitas semelhanças entre Delphine de Vigan e a personagem Delphine, mas, ao mesmo tempo, me deparei com um grande dilema: eu deveria “acreditar” na vida dela ou no que ela escreveu no livro?

Numa dessas pesquisas, descobri que Baseado em fatos reais em breve vai ser adaptado para o cinema pelas mãos de Roman Polanski e Oliver Assayas. Então, me lembrei de alguns filmes cuja temática é parecida:

 

Persona, de Ingmar Bergman

Após perder a voz, uma atriz veterana vai passar um tempo na casa de praia com uma enfermeira e cada uma acaba assimilando a personalidade da outra.

 

A malvada, de Joseph L. Mankiewicz

Uma jovem atriz bem ambiciosa cruza a vida de uma atriz veterana, afetando tanto seu campo profissional como o pessoal.

 

O que terá acontecido a Baby Jane?, de Robert Aldrich

Duas irmãs que tiveram o destino selado por um acidente trágico precisam acertar contas com o passado.

 

Dentro da casa, de François Ozon

Um jovem se enfurna na casa de um colega de melhor condição social e começa a tecer uma série de histórias, seduzindo (e comprometendo) seu professor de redação.

Curioso para discutir esse e outros temas? É só passar seus dados e nome completo para renato.costa@livrariacultura.com.br e comparecer no dia 8 de setembro às 19h no auditório da Livraria Cultura do Shopping Bourbon. Espero vocês lá!

>> Leia um trecho de Baseado em fatos reais

Bruno Leite é estudante de Letras, trabalha há 8 anos no mercado editorial e é colaborador no blog O Espanador.

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