Fernando Scheller

O livro de Daniel

14 / julho / 2016

fotoamor_segundo_buenos_aires

Ao longo dos últimos dois meses e meio, tenho recebido mensagens quase diariamente de leitores sobre O amor segundo Buenos Aires. Entre eles, há os que criam belas composições com a capa do livro no Instagram e os que me enviam e-mails ou recados pelo Facebook para dizer o quanto gostaram do livro.

Essas pequenas declarações de amor, não raramente, têm sido acompanhadas de opiniões sobre os personagens e de depoimentos sobre a identificação com algum deles, como Hugo, Eduardo, Carolina e até seu Pedro. Sem nunca ter feito um exame estatístico das mensagens que recebo, acredito, no entanto, que o personagem que mais tem despertado o afeto dos leitores é Daniel.

Isso prova que a preparadora de textos Kathia Ferreira, que tanto me ajudou a construir a versão final deste livro, tinha razão: Daniel é um personagem bem acabado. Sendo “O amor segundo Buenos Aires” minha primeira obra de ficção, tenho orgulho de Daniel ser justamente o mais ficcional de todos os personagens do livro.

Não que Eduardo, Hugo, Pedro ou Carol tenham sido inspirados em pessoas que eu conheça — nem meus amigos mais próximos conseguiram estabelecer conexões diretas entre a vida real e a trama —, mas posso dizer que Daniel é o mais puro fruto da minha imaginação. Da profissão à origem do personagem, tudo é distante da minha realidade. Daniel, talvez, tenha surgido da minha crença na dignidade e no valor do trabalho.

Embora seja um romance, O amor segundo Buenos Aires se passa em locais reais da capital argentina, o que exigiu que eu imprimisse ao texto certa dose de realismo. Porém, no caso de Daniel, confesso que não fiz nenhuma pesquisa sobre como é ser criado em uma fazenda no sul da Argentina. O rígido código de conduta que guia Daniel foi estabelecido a partir de um exercício constante que pratiquei: pensar tanto nos valores dessa pessoa imaginária até que eles se tornassem palpáveis.

E foi assim que Daniel foi construído: amor à família e ao trabalho, fidelidade aos amigos, crença inabalável na perseverança e uma imensa capacidade de amar. Sempre falando na segunda pessoa, Daniel virou uma voz distinta dos demais personagens. O capítulo narrado por ele — há apenas um — é um de meus preferidos no livro.

A ideia de reescrever o capítulo “Eduardo, segundo Daniel” na segunda pessoa do singular — que, aliás, também partiu de Kathia — não foi uma simples opção de estilo. Era preciso marcar a diferença entre Daniel e os demais personagens; ele usaria o “tu”, em vez do “vos”, empregado pela maioria dos argentinos. Daniel precisava de uma voz distinta. E, para mim, é uma grande satisfação ver tanta gente agora abrir o coração para ele.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *