Fernando Scheller

Você já encontrou o seu lugar?

16 / junho / 2016

Ao escrever O amor segundo Buenos Aires, uma das minhas inspirações foi — obviamente — a própria cidade. Como diz o personagem Hugo em algum momento, “eu entendo Buenos Aires, e a cidade me entende”. Pensando nisso, comecei a me recordar de livros e filmes que, ao longo do tempo, levaram-me para locais que não conheço porque seus autores conseguiram captar a essência de uma cidade, um país ou um lugar específico que ficaram indeléveis em minha memória.

Aí vão seis obras de ficção que me transportaram para lugares que ainda não tive a oportunidade de visitar.

 

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O céu que nos protege

Embora seja baseado em um romance de 1949 de Paul Bowles, o título é mais conhecido pela versão para cinema dirigida pelo italiano Bernardo Bertolucci, lançada em 1990. O casal vivido por Debra Winger e John Malkovich viaja para a África a fim de resolver problemas em seu casamento e acaba se enveredando por uma aventura existencial pelo continente. Construído em forma de quebra-cabeça — a princípio não fica clara a motivação da “fuga” dos personagens —, o filme mostra como um local pode se entranhar na vida de uma pessoa.

Entre amigos

O livro de Amos Oz se concentra em um microcosmo: um kibutz em Israel. A comunidade judaica é analisada em contos que se entrelaçam de forma casual — somente alguns personagens aparecem em mais de uma história. Em uma comunidade de iguais, no entanto, a lupa de Oz mostra pequenas disputas de poder. Entre as descrições das particularidades do kibutz estão a noção de que as crianças são filhos da comunidade, e não de um casal apenas, a divisão de tarefas entre os gêneros e as dúvidas dos jovens que, ao se aproximar a maioridade, têm de decidir se querem ou não se mudar para o “mundo real”. Uma boa forma de conhecer uma realidade fechada para a maioria das pessoas.

 

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Tracks

História real de Robyn Davidson, uma mulher que, no fim dos anos 1970, decide cruzar o deserto australiano acompanhada de camelos e cães. A determinação e a teimosia de Robyn ficam evidentes em todas as páginas, narradas em um estilo furioso (eu li o livro em inglês e não achei menção a uma edição em português). A odisseia de Robyn foi acompanhada pela revista National Geographic, que produziu uma reportagem com fotos impressionantes. A história virou filme em 2014, ao qual também assisti (e do qual gostei), com Mia Wasikowska, de Alice no País das Maravilhas.

Um livro por dia

Falando em Shakespeare and Company e em microcosmos, o livro de Jeremy Mercer narra as desventuras de um escritor novato — o próprio Jeremy — que resolve viver de arte e fazer parte da pequena trupe que mora de favor na pequenina e famosa livraria de Paris. O dia a dia na livraria, os bicos para arranjar dinheiro, a vida sem chuveiro, as noites dormidas em meio a livros e as visitas ao banheiro público de Paris (banho só uma vez por semana, para economizar) são alguns dos “pedágios” que Jeremy está disposto a viver para desenvolver a própria arte.

 

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Na natureza selvagem

Este livro, para mim, é especial, pois foi comprado em um local muito próximo do meu coração: a livraria Shakespeare and Company, em Paris. O autor, Jon Krakauer, é especialista em contar histórias reais de homens que desafiam a natureza. Aqui, o protagonista é Chris McCandless, que resolve se isolar do mundo vivendo no Alasca. Agrada-me o modo como é narrada a alegria do personagem ao descobrir um lugar só seu, e também a tristeza e a impotência que tomam conta de Chris quando ele entende que não pode controlar a natureza.

Terra vermelha

Este livro incrível foi escrito por Domingos Pellegrini, vencedor de dois prêmios Jabuti. Narra um pedaço da história recente do Brasil. Você sabia que a região de Londrina, no Paraná, só começou a ser colonizada nos anos 1930? E por ingleses? E que toda aquela área foi concedida para loteamentos à Inglaterra como pagamento de uma dívida do governo brasileiro? A chegada dos ingleses, e a dura vida dos desbravadores, é narrada com olho clínico e um toque de romance por Pellegrini — que, claro, é “pé vermelho”, como são conhecidos os habitantes do norte paranaense.

 

E você, teve algum filme ou livro que o transportou para os confins do mundo, um lugar que jamais imaginou visitar? Estou aberto a sugestões.

Comentários

Uma resposta para “Você já encontrou o seu lugar?

  1. Scheller não tenho a mesma base cultural que você, nunca viajei pelo mundo mas me encantei com cada livro e filme mencionado.

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