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Novo livro de Matthew Quick, Garoto21 chega às livrarias em maio

3 / maio / 2016

Garoto21

O novo livro de Matthew Quick, autor do best-seller O lado bom da vida chega às livrarias no final de maio.

untitledGaroto21 conta a história emocionante de dois jovens e sua conexão incomum através do esporte. Finley é um garoto
que vive em Bellmont, uma cidade violenta controlada pela máfia irlandesa, e vê no basquete uma válvula de escape para seus problemas ­— mesmo que não seja exatamente a estrela do time. Colocar a camisa 21 e entrar na quadra ajuda a clarear sua mente.

Enquanto Finley utiliza o esporte para aliviar suas preocupações, Russ não quer mais se aproximar de uma bola. Apesar de ser considerado um gênio do basquete, um trauma coloca o garoto em estado de negação, que passa a se considerar um alienígena de passagem pela Terra.

Com a missão de ajudar Russ a se recuperar, Finley tenta convencer o garoto a voltar a jogar, mesmo que isso possa significar perder seu lugar na equipe. Uma emocionante história sobre esperança, amizade e redenção, com a prosa sensível e inteligente de Matthew Quick.

Leia um trecho abaixo:

 

PREFÁCIO

Às vezes, me convenço de que minha lembrança mais antiga é de quando eu jogava basquete no quintal de casa.

Como sou só uma criança, meu pai me dá uma daquelas bolas de basquete menores e abaixa o aro ajustável da tabela. Ele me diz para treinar arremessos até marcar cem cestas seguidas — o que me parece impossível — e volta para dentro de casa para cuidar do meu avô, que recentemente teve as pernas amputadas e voltou do hospital agarrado ao rosário da minha falecida avó. Nossa casa anda silenciosa faz um tempo, e sei que minha mãe não vai voltar. Mas não quero pensar no que aconteceu, então faço o que meu pai mandou.

No início, a bola não alcança nem o aro, mesmo com a cesta colocada mais para baixo. Passo horas e horas arremessando, até ficar todo suado e com o pescoço duro de tanto olhar para cima. Quando cai a noite, meu pai acende os refletores e continuo arremessando, porque é melhor do que ficar lá dentro ouvindo meu avô chorar e gemer de dor. Além do mais, foi o que meu pai me disse para fazer.

Em minhas lembranças, passo a noite treinando: dias, semanas e meses sem interrupção. Não paro nem para comer, dormir ou ir ao banheiro. Continuo treinando, esvaziando a mente, fingindo que não vou precisar entrar em casa de novo — nunca vou precisar me lembrar do que aconteceu antes de eu começar esse treino.

A repetição do movimento pode fazer a gente esquecer o mundo; silencia os pensamentos. Aprendi o valor disso ainda muito novo.

Eu me lembro das folhas caindo das árvores e sendo esmagadas sob meus pés, dos flocos de neve queimando minha pele, das flores amarelas desabrochando em caules compridos junto à cerca, dessas mesmas flores sendo queimadas pelo forte sol de julho — e durante tudo isso, eu continuava treinando.

Devo ter feito outras coisas (como ir à escola, obviamente), mas os treinos de lances livres no quintal de casa são a única lembrança que guardo da minha infância.

Depois de alguns anos, meu pai começou a falar mais e a jogar comigo. Era legal.

Às vezes, meu avô ia lá fora na cadeira de rodas, parava na extremidade do quintal e ficava tomando cerveja enquanto me via aperfeiçoar o arremesso com salto.

De tempos em tempos, à medida que eu crescia, o aro era ajustado para cima.

Até que um dia apareceu uma garota no quintal. Uma menina loura com um sorriso que parecia infinito.

— Eu moro aqui na rua — disse ela. — Sou da sua turma no colégio.

Continuei jogando, torcendo para que a garota fosse embora. Ela se chamava Erin e parecia ser muito legal, mas eu não queria amigos. Só queria jogar sozinho, pelo resto da vida.

— Você está me ignorando? — perguntou ela.

Tentei fingir que a garota não estava lá, porque na época eu fingia que o mundo inteiro não estava lá.

— Você é muito esquisito — disse ela. — Mas eu não ligo.

Lancei uma bola que acertou o aro com um enorme barulho e voltou bem na direção do rosto da garota. Por sorte, ela tinha bons reflexos, e pegou a bola antes que esmagasse seu nariz.

— Você se importa se eu tentar?

Não respondi, mas ela arremessou mesmo assim. A bola entrou.

— De vez em quando eu jogo com meu irmão mais velho — explicou ela.

Sempre que eu jogava com meu pai, quem acertasse tinha direito a mais um lançamento, então passei a bola de volta para a garota. Ela arremessou de novo, e de novo, e de novo.

Nas minhas lembranças, ela faz cesta dezenas de vezes antes de eu recuperar a bola, mas nunca mais sai do meu quintal — nós dois continuamos jogando por anos e anos.

 

Pré-temporada

Uma pergunta que às vezes me deixa confuso:

maluco sou eu ou são os outros?

Albert Einstein

 

1

Falta uma semana para começar o último ano do colégio, e Erin está vestindo o uniforme de basquete. Pela cava larga da camiseta dela dá para ver o top de ginástica preto, o que é muito sexy, pelo menos para mim.

Tento não encarar — principalmente porque estamos tomando café da manhã com minha família —, mas toda vez que Erin se inclina para a frente e leva o garfo à boca, a cava direita se abre e vejo perfeitamente o contorno de seu seio pequeno.

Pare de olhar!, digo a mim mesmo, mas é impossível.

Não ouço uma palavra do que é dito enquanto comemos ovos e salsichas.

Ninguém nota meu olhar fixo.

Erin é tão carismática e bonita que meu pai e meu avô nunca prestam atenção em mim quando ela está por perto.

Assim como os meus, os olhos deles estão sempre em Erin.

Quando nos levantamos para sair, meu avô grita, da cadeira de rodas:

— Deixe os poucos irlandeses que restam nesta cidade orgulhosos!

— Faça seu melhor e pronto — reforça meu pai. — Lembre-se de que é uma longa jornada, e você sempre pode superar o talento no final.

Esse é o lema de vida do meu pai, embora ele tenha acabado sozinho e trabalhando à noite como cobrador de pedágio na ponte, em que não é preciso nem talento nem muita ética profissional.

Meu pai leva uma vida muito infeliz, principalmente por causa do meu avô, mas sempre vejo esperança em seu olhar quando ele diz que posso superar o talento a longo prazo. Então, por ele — e por mim também —, me esforço ao máximo para isso.

Acredito de verdade que as noites em que meu pai me vê jogar basquete são as melhores da vida dele. Essa é uma das razões que me fazem amar tanto o basquete: a chance de fazer meu pai feliz.

Se eu jogo bem, meu pai diz que está orgulhoso de mim com os olhos cheios de lágrimas, o que faz os meus ficarem assim também.

Quando vovô presencia essas cenas, nos chama de bichinhas.

— Você está pronto? — pergunta Erin.

Mesmo sem querer, quando vejo o rosto dela e os belos olhos verdes cor de trevo, penso em beijá-la mais tarde e fico tenso, então procuro tirar aquilo rapidamente da minha cabeça.

Não é hora para romance — é hora de treinar bastante, pois faltam apenas dois meses para começar a temporada de basquete.

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