Fernando Scheller

Mapas afetivos de Buenos Aires, parte 2

19 / maio / 2016

Buenos Aires é não só cenário, mas também personagem do meu livro. Por isso foi importante escolher a dedo os locais onde se passam as histórias. Aqui, a segunda parte do meu guia particular da cidade que inspirou O amor segundo Buenos Aires.

 

1. Orquestra El Afronte

Em frente à Igreja Nossa Senhora de Belém, em San Telmo

Quem já visitou a feira de antiguidades de San Telmo em seu dia mais movimentado, o domingo, provavelmente já se deparou com a orquestra que dá um toque moderno às tradicionais músicas argentinas. Minha recomendação é fazer como Hugo, personagem central de O amor segundo Buenos Aires: prestar atenção ao que dizem as canções e se deixar levar por elas (uma gorjeta na canequinha é fundamental para fomentar a sobrevivência dos artistas). De quebra, o tango ainda embala os casais que dançam em uma esquina próxima, também em troca de um dinheirinho.

 

2. Manzana de las Luces

Esquina das ruas Perú e Moreno

O local onde Hugo finalmente redescobre que o amor é – apesar de tudo – sempre possível pode ser uma boa pedida para aprender um pouco mais sobre as origens de Buenos Aires. A Manzana de las Luces é um conjunto de galerias subterrâneas que começou a ser construído no século XVIII como um atalho em direção às igrejas do Centro. A visita guiada tem um pequeno custo, mas é bastante informativa. O mais interessante é conhecer um pouco desses labirintos sob a terra, que acabaram ligando os principais pontos da capital argentina, com saídas para o rio da Prata. Gosto de pensar que muitas das delícias vindas da Europa, degustadas pelos milionários no auge econômico da cidade, chegavam clandestinamente por essas passagens secretas.

 

3. Milonga de La Glorieta

Barrancas de Belgrano

Os espetáculos de tango da avenida 9 de Julho, superproduções no estilo Broadway (mas nem tanto…), nunca me atraíram. Acho o tango tão bonito e tão complicado que para mim é quase impensável que pessoas comuns possam dançá-lo. Assim como Martín e Carolina, muitos casais da região de Belgrano arriscam os primeiros passos na milonga de La Glorieta, realizada em um coreto no meio de uma grande praça. Há mulheres e homens que vêm sozinhos – e os pares acabam se formando ali mesmo, com toda a naturalidade. As milongas acontecem no finzinho da tarde. As luzes azuladas que se acendem quando a noite cai dão um toque especial à experiência.

 

4. Lumio Café y Delicias

Carlos Calvo, esquina com Bolívar, em San Telmo

O Lumio é um café pequenino, apertado, mas que eu faço questão de visitar sempre que vou a Buenos Aires – fica bem ao lado do mercado municipal de San Telmo, também parada obrigatória. Misto de café arrumadinho de Paris com lojinha de artesanato, o Lumio serve uma variedade incrível de cafés (o melhor é o cappuccino de doce de leite, que nunca esqueço). Dá para fazer como Leonor, uma das personagens centrais de O amor segundo Buenos Aires: usar as mesas de um lugar tão agradável para pensar no sentido da vida.

 

5. Confeitaria Ideal

Suipacha, 384

Essa confeitaria bem próxima à avenida 9 de Julho talvez seja um dos locais que melhor definam Buenos Aires. A atmosfera suntuosa – móveis em madeira de lei, lustres e grandes espelhos – contrasta com o jeito decadente do lugar. Parece que todas as glórias da Ideal ficaram no passado, mas, ainda assim, ela se mantém ali, ereta, como uma senhora de roupas de grife puídas que ostenta na garganta a única joia que sobrou da herança da família. A confeitaria, nos fins de tarde, abriga aulas de tango para novatos. Por um preço modesto, dá para fazer como Marta – outra personagem do livro – e arriscar um ou dois passinhos.

Comentários

Uma resposta para “Mapas afetivos de Buenos Aires, parte 2

  1. acabei de ler o livro e adorei, saudades de Buenos Aires e como o personagem eu não me sinto uma estrangeira em BsAs, eu gosto da cidade e ela gosta de mim, puro amor

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