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Trecho de Baía da Esperança

6 / abril / 2016

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Baía da Esperança, quinto livro de Jojo Moyes, ganha agora uma nova edição relançada pela Intrínseca. O romance conta a vida da melancólica e reservada Liza McCullen seis anos depois de ter saído da Inglaterra. Liza é responsável por um barco de observação de baleias e golfinhos em Silver Bay, na Austrália, onde também administra com a tia, Kathleen, o Hotel Baía da Esperança, que já viu dias melhores.

Hospedado no hotel de Liza, Mike Dormer está lá a negócios: depende dele o pontapé inicial do projeto de um resort de luxo. Enquanto sua noiva, em Londres, finaliza os planos do casamento, Mike tem de conseguir a licença para a construção do empreendimento, algo que terá profundo impacto na fauna de Silver Bay e consequências drásticas para a vida dos moradores, inclusive a de Liza, que guarda um grande segredo e correrá perigo caso precise se mudar dali.

Quando o mundo de Mike e Liza colidem, eles precisam encarar os próprios medos para salvar o que amam.  O livro chega às livrarias a partir de 8 de abril.

Leia um trecho:

Meu nome é Kathleen Whittier Mostyn e, aos dezessete anos, fiquei famosa por pescar o maior tubarão já visto em Nova Gales do Sul: um tubarão-cinza de olhar tão malvado que, dias depois de ser colocado em exposição, ainda passava a impressão de querer me rasgar ao meio. Isso foi na época em que Silver Bay era totalmente dedicada à pesca esportiva, então, durante três semanas inteiras, não se falou de outra coisa além daquele tubarão. Um repórter veio de Newcastle e tirou uma foto minha, em pé ao lado do bicho (sou a que está de maiô). Na fotografia, o tubarão é muito mais alto que eu, e olhe que o fotógrafo me obrigara a colocar salto alto.

O que se vê é uma garota alta, bastante sisuda, mais bonita do que era de se supor, de ombros muito largos, para desespero de sua mãe, e com uma cintura tão fina que nunca precisou de espartilho, de tanto enrolar molinete e curvar o corpo com a vara de pescar. Ali estou eu, sem conseguir disfarçar meu orgulho, ainda sem saber que ficaria vinculada àquele animal pelo resto dos meus dias, como se fôssemos casados. Não dá para ver que ele estava suspenso por dois cabos que meu pai e seu sócio, o Sr. Brent Newhaven, seguravam. Puxá-lo para a terra havia distendido vários tendões do meu ombro direito, e, quando o fotógrafo chegou, eu sequer seria capaz de levantar uma xícara de chá, muito menos um tubarão.

Mesmo assim, aquilo bastou para consolidar minha reputação. Fiquei conhecida durante anos como a Garota do Tubarão, mesmo quando deixei de ser jovem. Minha irmã Norah sempre brincava dizendo que, considerando minha aparência naquele dia, deviam ter me chamado de Ouriço-do-mar. Mas meu pai sempre disse que foi o meu sucesso que salvou o Hotel Baía da Esperança. Dois dias depois de publicada aquela foto no jornal, estávamos com todos os quartos ocupados, e assim continuamos até a ala oeste do hotel pegar fogo, em 1962. Os homens vinham porque queriam bater meu recorde. Ou por presumirem que, se uma garota podia fisgar um animal daqueles, ora essa, o que um pescador de verdade não seria capaz de conseguir? Alguns apareciam para me pedir em casamento, mas meu pai sempre disse que era capaz de farejar esses caras antes que chegassem a Port Stephens e os despachava de volta. As mulheres surgiam porque, até então, nunca haviam pensado que pudessem capturar alguma coisa na pesca esportiva, muito menos competir com os homens. E as famílias vinham porque Silver Bay, com sua baía protegida, suas dunas intermináveis e suas águas claras, era um ótimo lugar para visitar.

O recorde ainda é meu. Está registrado num daqueles livros enormes que vendem aos milhões, mesmo que nunca tenhamos conhecido alguém que os compre. Os editores fazem a gentileza de me ligar, de vez em quando, para me informar que meu nome será incluído por mais um ano. Ocasionalmente, as crianças das escolas locais passam aqui para me dizer que viram meu nome em um livro na biblioteca, e sempre finjo surpresa, só para deixá-las felizes.

Não digo isto para me gabar, ou porque, para uma mulher de setenta e seis anos, é boa a sensação de um dia ter feito algo notável, mas porque, quando alguém está cercado por tantos segredos como eu, é bom dizer as coisas abertamente, algumas vezes.

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