Fernando Scheller

Canções para corações partidos em Buenos Aires

14 / abril / 2016

Música sempre foi e será uma grande fonte de inspiração. Ao escrever O amor segundo Buenos Aires, todos os iPods e telefones celulares do mundo pareciam não ser suficientes para armazenar as canções que compunham o clima do romance. Algumas músicas me ajudaram muito a encontrar o tom dessa história de amores perdidos, reencontros e surpresas que, se a gente ficar atento e mantiver o coração aberto, podem aparecer no meio do caminho.

Eis sete músicas fundamentais nos cinco anos em que Hugo, Eduardo, Daniel, Charlotte, Carolina, Pedro e Martín me acompanharam, da concepção da trama à publicação.

 

Cat Power, “Sea of Love”

Uma pequena beleza dos anos 1960, reeditada por um fiozinho de voz pela cantora Cat Power. Escutei essa versão num café de Buenos Aires, na primeira vez que visitei a cidade. Ela foi importante especialmente para a concepção do início do livro. “I wanna tell how much I love you” (Eu quero dizer quanto te amo), um dos versos da canção, parece ser um bom resumo do primeiro capítulo de O amor segundo Buenos Aires.

 

Bersuit Vergarabat, “El tiempo no para”

Essa foi outra versão que escutei pela primeira vez em Buenos Aires — até cito isso no livro. Não é tão boa quanto a original, de Cazuza, mas tem uma cadência gostosa e é interessante ver que não foi preciso adaptar quase nada para traduzi-la ao espanhol. E, além do mais, os versos “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades” sempre foram um de meus favoritos de todos os tempos.

 

Creedence Clearwater Revival, “Midnight special”

O Creedence é um dos grupos dinossauros do rock e sempre gostei muito dessa versão da música folk (popular), que surgiu entre os prisioneiros negros do Sul dos Estados Unidos. O “midnight special” se refere a um trem que passava na ferrovia próxima à prisão. Não parece muito romântico, certo? Mas tem uma história por trás dessa música. Ouvi-a pela primeira vez num CD que ganhei há muitos anos, de um amigo que hoje vive do outro lado do mundo, e não pude acreditar quando o cantor da estação Carlos Pellegrini, Tom Moore, cantou essa versão do Creedence um dia. Logo essa música virou sinônimo de Buenos Aires para mim.

 

Otis Redding, “Try a little tenderness”

Muito antes de começar a escrever O amor segundo Buenos Aires, esta sempre foi uma das minhas músicas prediletas. Sobreviveu a walkmans, MP3 players, iPods e chegou ao meu telefone celular, redescoberta em “repeat” enquanto escrevia um dos capítulos do livro. Otis Redding morreu tragicamente, aos 26 anos, em 1967. Essa música foi muito regravada, mas jamais com a mesma força. Fiquemos com Otis. (O vídeo abaixo foi supostamente gravado no dia anterior ao acidente de avião que causou a morte de Otis e de quase toda a sua banda)

 

Nina Simone, “I wish I knew how it would feel to be free”

Uma confissão a fazer: conheci Nina Simone por meio de um CD roubado — daqueles que você pega emprestado e se esquece de devolver. Essa música se refere ao movimento negro pelo fim da segregação nos Estados Unidos, mas acho que pode muito bem ser adaptada a qualquer tipo de luta — coletiva ou, no caso do livro, o desafio pessoal que o personagem central, Hugo, enfrenta. Trecho favorito: “I wish I could break all the chains holding me” (Eu desejo poder quebrar todas as correntes que me prendem). Para refletir.

 

The Pretenders, “Back on the chain gang”

Chrissie Hynde, a vocalista dos Pretenders, tem uma das vozes mais emocionantes do mundo. A música, que fala de lembranças de amor, daquele momento que desapareceu no tempo e que é impossível de resgatar, está totalmente relacionada ao tema do livro. Lá pelos dois minutos e meio do vídeo, quando Chrissie entoa com toda a dor do mundo os versos “I found a picture of you (oh oh oh), those were the best days of my life” (Eu achei uma foto sua, aqueles foram os melhores dias da minha vida), é demais para aguentar. Se você vai ficar pensando no passado, melhor pensar na companhia de Chrissie. Dor de cotovelo com classe.

 

Mama Cass (The Mamas & The Papas), “Dream a little dream of me”

Outra cantora que se foi muito cedo, em 1974, Mama Cass (ou Cass Elliot), que fez parte do grupo The Mamas & The Papas nos anos 1960, é daquelas que passam uma sensação de paz e plenitude, felicidade que parece que nunca vai acabar. Não sei se a intenção de quem escreveu a canção foi essa, mas é como me sinto ao ouvi-la. E ela foi essencial no processo de finalização de O amor segundo Buenos Aires, um ritmo a seguir, que ajudou a manter o tom do livro, o sentimento que eu desejava que as pessoas tivessem ao lê-lo.

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