Clóvis Bulcão

Ainda Adhemar de Barros

4 / abril / 2016

Adhemar de Barros

Adhemar de Barros (fonte)

Na época em que era interventor de São Paulo (1938-1941), Adhemar de Barros foi responsável pela outorga ao governo de seu estado para a concessão e construção de um porto na cidade de São Sebastião. Era 1939 e a iniciativa representava uma ameaça ao monopólio que, na prática, a família Guinle mantinha com o porto em Santos, conforme conto em Os Guinle — e eles lutaram muito por esse monopólio.

Em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, o porto de Santos, como todas as grandes instalações portuárias do mundo, entrou em colapso, por conta do ritmo intenso da retomada do comércio internacional. As discussões sobre a capacidade dos Guinle de administrar o porto, nada moderno e até meio decadente, voltaram à baila e atingiram o auge. E mais uma vez quem estava no comando do estado era Adhemar.

O principal argumento para a construção de um terminal marítimo em São Sebastião era o comércio de petróleo que, em breve, exigiria uma ampliação radical das instalações em Santos. No nível federal, abriu-se até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para discutir o futuro da concessão concorrente. Seu resultado foi favorável à família Guinle e a ideia da construção do porto em São Sebastião foi deixada de lado.

Político conhecido pelo slogan “Rouba, mas faz”, Adhemar adorava empreendimentos que envolviam grandes obras e relações não ortodoxas com empreiteiras. Tanto que, em 1956, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a dois anos de reclusão por peculato (reclusão não cumprida). Apesar de ser casado, Adhemar mantinha um romance com sua secretária, Ana Capriglione. Com o tempo, ela ganhou força política e passou a participar ativamente das decisões do governo. Ana era conhecida nos meios políticos pela alcunha de “Dr. Ruy”.

Assim como o amante, Ana ficou muito rica. Anos mais tarde, em 1969 (ano da morte de Adhemar), ela foi morar no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa. O Brasil vivia em plena ditadura militar e uma pequena parte da oposição, de extrema esquerda, pegou em armas para combater o regime de exceção. Um desses grupos, o VAR-Palmares, ficou sabendo que na casa do “Dr. Ruy”’ havia um cofre bem fornido. Tendo em seus quadros militantes que se tornariam personagens de nossa história – Dilma Rousseff, Carlos Lamarca, Carlos Minc, entre outros –, o VAR-Palmares conseguiu roubar o cofre e o episódio causou enormes constrangimentos, já que em seu interior, segundo a agência de notícias France Press, foram encontrados 2,5 milhões de dólares.

Ana, que não podia admitir publicamente que possuía esse valor, disse que o grupo encontrara o cofre vazio. Sobre o roubo, os militares afirmaram tratar-se de “fanfarronada” de Carlos Lamarca. Já a família de Adhemar negou que ele guardasse dinheiro em cofres ou em contas fora do país. Tão constrangedor quanto a existência da quantia foi seu sumiço após o roubo. Entre os militantes até hoje ninguém sabe com quem ficou o dinheiro que, segundo Lamarca, era roubado do povo e ao povo seria devolvido.

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