Clóvis Bulcão

Rouba, mas faz

7 / março / 2016

adhemar

Adhemar de Barros (fonte)

Por conta dos últimos episódios na cena política nacional, tenho pensado muito no ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, um dos políticos mais controversos da história do Brasil. Foi interventor no estado (1938-1941) durante o período ditatorial de Getúlio Vargas, depois governador eleito (1945-1951), prefeito da capital paulista (1957-1961) e, em 1963, conseguiu ser reeleito governador. Sem dúvida, uma trajetória fulgurante… até ser cassado pela ditadura militar, em 1966, acusado de corrupção. Adhemar, que também é personagem do meu livro Os Guinle, foi um dos maiores inimigos dos interesses do principal negócio da família Guinle: o porto de Santos.

Adhemar se tornou conhecido como homem público empreendedor por realizar grandes obras (caso das rodovias Anhanguera e Anchieta) e por aumentar os serviços oferecidos pelo estado (construiu o Hospital das Clínicas, concluiu a Estação Julio Prestes). Sua fama de realizador, porém, sempre foi ofuscada pelo slogan eleitoral de sua campanha para prefeito de São Paulo, em 1957: “Rouba, mas faz”.

Em seu primeiro mandato como governador de São Paulo, Adhemar contou com o apoio de setores da esquerda, em especial do Partido Comunista. No entanto, seu modo de governar logo entrou em choque com as novas leis da Constituição de 1946. Pois, fora os problemas administrativos, Adhemar começou a ser acusado de cobrar propina de empreiteiras para a concessão de obras públicas, entre outras denúncias. A campanha contra o governador visava afastá-lo do Palácio dos Bandeirantes.

Acuado, pensou em organizar no Estádio do Pacaembu (outra obra faraônica de seu governo) um encontro de trabalhadores rurais para discutir questões de interesse do campesinato. Acabou abandonando a ideia, pois achou que o evento daria mais munição aos adversários, chamados por ele de golpistas. Adhemar deixou bem claro: “Querem me depor? É fácil. Bastam cinco homens: um para atirar e quatro para transportar o corpo”.

As bravatas de Adhemar ecoavam na sociedade. E ele recebeu apoio dos estudantes da Faculdade de Direito e dos integrantes da Associação dos Ex-Combatentes de 1932, entre outros grupos. Seu sonho era concorrer à Presidência da República em 1950. Mas a candidatura de Getúlio Vargas acabou inviabilizando a sua. Mesmo assim, seguiu com sua agenda de presidenciável. Em 21 de janeiro de 1952 a revista americana Times chamou Adhemar de “realizador político número um de São Paulo”. Adhemar era o cara.

Com a bola cheia, em março realizou um giro pela Europa. Esteve com o então primeiro-ministro inglês Winston Churchill e com o chanceler alemão Konrad Adenauer. Em seu regresso, a imprensa revelou para os leitores o conteúdo de sua bagagem e Adhemar se defendeu assim: “Estão dizendo que eu trouxe apenas uísque e champanhe. Mas se esquecem de que na minha bagagem vieram 30 quilos de catálogos industriais”.

Considerado um dos pioneiros do marketing político no Brasil, em 1955 Adhemar seria novamente acusado de se envolver em corrupção, por conta da compra de caminhões para a polícia de São Paulo. Com o promotor Hélio Bicudo em seus calcanhares, acabou condenado. No dia 6 de março de 1956, recebeu em sua casa, às 5 horas da manhã, a visita da polícia. Conseguiu escapar e, sem qualquer argumento jurídico, fez-se de vítima e partiu para o exílio, no Paraguai. Em seu retorno, foi absolvido pelo povo e um ano depois era eleito prefeito de São Paulo.

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